Axl se esforça para agradar |
Axl
Rose também deve achar charmoso chegar atrasado aos seus compromissos. Tenho
quatro shows do Guns N'Roses nas costas. Todos em sua versão banda cover (fazer
o que? Infelizmente nasci na época e lugar errados). Se eu juntasse todas as
horas que eu esperei para ver a diva do Axl Rose subir ao palco e convertesse
em horas de voo daria para chegar a Berlim.
Axl é
o mais carioca dos habitantes de Indiana. Não apenas porque chega atrasado, mas
também porque adora vir ao Hell de Janeiro. Esta é a sétima vez por aqui. Esqueçamos os motivos financeiros.
O
cantor cuja voz e a cintura já não são as mesmas por causa do peso de 52 anos
de vida intensa, devia ao Rio um show minimamente decente depois daquela
pavorosa sessão de horror do Rock in Hell 2011.
Por
enquanto o placar shows ruins x shows bons estava 2 a 1 para o time dos
detratores e ele precisava tentar empatar a partida. Só posso falar do que eu
vi. Então outros shows antes de 2001, quando os vi pela primeira vez, não
entram.
Começou
mal novamente ao atrasar a entrada ao palco em 1h50min. Continuou derrapando ao
abrir com uma música do "Chinese Democracy", o disco que levou 14
anos para ser feito e, apesar de um tempo que sugere uma ourivesaria na
construção de um álbum, não deu em um resultado satisfatório não. É um disco para
dias nublados.
Mas aí
veio o riff de "Welcome to the jungle", a canção-homenagem ao Hell de
Janeiro. "You know where you are!!!", se esgoela Axl.
"You in the jungle, baby", continua o cantor. É nos sabemos.
"Welcome
to the jungle" é a deixa para a galera se empolgar e para Axl executar
pela primeira vez a sua dancinha da enguia. O resultado é caricato, mas a gente
se diverte mesmo assim.
A
partir daí vem uma pedrada atrás da outra com o que tem de melhor nos três
discos espetaculares do Guns N'Roses: "Appetite for destruction"
(1987) e Use your Ilusion I e II (1991). Tempos em que o Guns era dono do mundo
com sua formação clássica com Slash e Gilby Clark nas guitarras e Duff McKagan
no baixo.
Os
três brigaram com o dono da marca e foram para novos desafios. Vieram o
baixista Tommy Stinson e os guitarristas Richard Fortus, DJ Ashba e Ron
Bumblefoot. Além do baterista Frank Ferrer. Mas a bateria nunca foi o forte do
Guns. Qualquer um podia sentar ali. Até o Ringo Starr. Todos estão há mais
tempo na banda que os originais. Sinal que a idade deixou Axl mais tolerante ou são
todos masoquistas.
Os
três guitarristas do Guns são bons. E Axl tenta mostrar isso para a galera
dando a eles generosos espaços no show. Tempo bom também para ele descansar a combalida garganta. É um esforço grande para que a galera esqueça o Slash. Mas acho que
não vai rolar.
Ashba
usa chapéu e é responsável por alguns riffs clássicos, como o de "Sweet
Child O'Mine". Por vezes toca com a guitarra erguida e, enfim, já deu para
perceber que ele faz o cover do Slash.
Fortus
também tem seu espaço, mas o responsável pela maioria dos solos mais conhecidos
do Guns é Bumblefoot. Com seu apelido esquisito e sua barbicha de sábio chinês
de filme de espadachim, ele é o verdadeiro cara na banda. O cidadão que executa
com perfeição os solos da belíssima "Estranged", por exemplo. E que
toca com perfeição o hino nacional na guitarra. Desnecessário esse toque
de brasilidade, mas o povo curtiu.
E
assim o Guns foi passando pela HSBC Arena, o menor lugar que eu os vi tocar.
Clássicos aqui ("November Rain", a foda "Nightrain",
"Patience"), músicas do "Chinese Democracy" ali, numa pausa
para os fãs irem ao banheiro ou comprarem cerveja... para tudo se acabar na
apoteose de papel picado de "Paradise City".
Axl
não é mais o mesmo. Nunca mais será. Sua voz nunca mais fará aquelas
estripulias. Para isso, você terá que se contentar com os discos e shows
antigos. Mas pelo menos dessa vez entregou um show digno. Não errou nada, a
banda esteve bem e ele estava até bem-humorado. Podemos dizer que a partida
ficou empatada em 2 a 2.
A
corneta musical agora faz as contas. Um ponto perdido por hora de atraso,
problemas aqui, coisas positivas ali, e a nota para Axl Rose e sua banda é 6.
Agradável, sem empolgar.
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