Bale brinca de tiro ao alvo |
Todo filme que tenha uma canção de Eddie Vedder já nasce bem
avaliado. Mas não pensem que só por ouvir um Pearl Jam, a corneta se rende e
sai distribuindo 10 igual a apuração de escola de samba. Aqui o critério é
duro. Mais duro que a "Gazzetta dello Sport" em dia de mau humor.
Quando
"Tudo por Justiça" começa, já temos uma ideia do que o diretor Scott
Cooper pretende. Aqui ninguém vai se dar bem, amigo. Esse povo vive num lugar bizarro,
com fumaça saindo das chaminés das indústrias, decrépito, enfim, feio pra
cacete. Parece que é ali na Pensilvânia. É o tipo de lugar que político só vai
em campanha.
E
nesse local tem algo pior. Uma área lá pelas montanhas que é uma terra de Malboro. Sem lei, mundo cão, todos
obedecendo às ordens de Harlan DeGroat.
Nosso
vilão é vivido pelo Woody Harrelson, em mais um papel de porra louca, doidão,
suicida, polêmico ou tudo isso junto na carreira. É o que o velho Woody faz de
melhor. Lembre de “Onde os francos não tem vez” (2007), “Assassinos por
natureza” (1994), “O povo contra Larry Flynt” (1996), por exemplo. Ele
adora um tipo diferenciado.
O
problema é que com Christian Bale o buraco é mais embaixo. Afinal, vocês sabem, ele é o Batman.
Bale é
o nosso herói. Jovem trabalhador de uma usina que vai fechar a qualquer momento
porque sai mais barato importar aço da China (é a economia, estúpido), Russell
Baze tem as marcas de uma vida dura no rosto. Mas mesmo com uma existência mais ferrada
do que todos nós e dando vários plantões na fábrica para pagar as contas da
casa, ele sempre encontra uma razão para viver no sorriso e no jeitinho meigo de Lena
(Zoe Saldana), sua jovem namorada.
Mas um
dia, enquanto pagava pela enésima vez uma dívida do irmão-problema Rodney
(Casey Affkeck) para o agiota John Petty (Willem Defoe), sua vida vira de
cabeça para baixo e ele vai parar na cadeia. Todo o mundo aconchegante vai por
água abaixo. É preciso reconstruir a vida. Mas havia o irmão problema.
"Tudo
por justiça" é um filme, acredite, sobre amor. Mas também sobre vingança. Talvez até mais
sobre vingança. Citando Rousseau, sem querer parecer pedante, um filme que reflete sobre
como o homem é produto do meio em que vive. E das situações pelas quais passa.
E a misericórdia surge quando menos se imagina.
Assim como a sede de sangue.
A
letra de "Release", do Pearl Jam, que está na trilha sonora, é pessimista. Fala de um homem que
clama aos céus por uma solução final que o liberte da dor. É como o irmão de
Russell, soldado do exército americano na guerra do Iraque que não consegue esquecer os
horrores que presenciou. Ou o próprio DeGroat, um sobrevivente do seu meio que “tem
problema com todo mundo”.
E na sua interpretação, que eu vou chamar de brilhante sem
medo de me arrepender, Bale nos oferece um drama em todas as camadas. Vou dizer
para vocês que é extremamente prazeroso ver um grande ator atuando. Bale transforma um roteiro econômico numa arma para dizer muito com gestos,
atitudes, olhares. A serenidade dele na cena final diante de um ato tão cruel é
coisa de poucos. Curti.
A
corneta é fã de Bale e Harrelson. E gosta de ver dois atores trabalhando bem num
filme pequeno como este. "Tudo por Justiça" passou no teste e
vai receber uma nota 8,5.
Ficha técnica: Tudo por justiça (Out of the furnace – 2013 –
Estados Unidos) – Christian Bale (Russell Baze), Woody Harrelson (Harlan
DeGroat), Cassey Affleck (Rodney Blaze), Zoe Saldana (Lena Taylor), Sam Shepard
(tio dos Blaze), Willem Defoe (John Petty), Forest Whitaker (policial Wesley
Barnes). Escrito por Brad Ingelsby e Scott Cooper. Dirigido por Scott Cooper.
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