quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Quando a selva é a prisão

Tudo bem que Rambo era divertido como programa da Sessão da Tarde de um jovem que chegava da escola, mas como cinema aquela expressão única de Sylvester Stallone, que voltará a viver o veterano da guerra do Vietnã neste ano, deixava muito a desejar. Valia pelos absurdos como Rambo enfrentando com uma metralhadora um helicóptero no Afeganistão, e pela crítica velada, mas sem destruir o patriotismo em recantos dos roteiros escritos por Michael Kozoll, David Morrell e pelo próprio Stallone nos três filmes lançados na década de 80.

Na mesma época, o cineasta alemão Werner Herzog realizava filmes na sua língua nativa e em francês. Mal sabiam os americanos, que se Herzog tivesse sido contatado antes, ele poderia retratar o caos do Vietnã com mais propriedade do que as bobagens produzidas por eles.

Claro que isso é uma brincadeira. Não é minha intenção reduzir a obra de Herzog e sua personalidade a um mero cineasta de encomenda. Mas ao assistir a “O sobrevivente”, não pude deixar de pensar como Herzog retratou o horror daquela guerra perdida com mais propriedade do que qualquer John Rambo.

No filme, ele retorna à selva que desbancou os americanos para contar a história do aviador Dieter Digler (Christian Bale em emocionante interpretação), alemão de nascimento, naturalizado americano e tenente do exército que no seu primeiro vôo é abatido e cai na selva do Laos durante a guerra.

Desde o momento em que Digler se vê naquele cenário paradisíaco, ele saberá que por trás de tão deslumbramento, haverá uma cruel e selvagem prisão tão traiçoeira quanto os que o aprisionariam.

Na sua luta para sobreviver, Diegler passa por diversas provações. Tem que superar a morte do amigo, Duane (Steve Zahn), a falta de comida, o cansaço e a luta pela sobrevivência esperando o dia em que seria resgatado.

Herzog confia em Bale para viver esta história fascinante que já foi contada por ele mesmo em um documentário. E o ator mostra que a aposta nele foi mais do que acertada. Do garotinho de 13 anos que viveu Jamie Graham no “Império do Sol” (1987) de Steven Spielberg, Bale, aos 33 anos, se transformou num bom ator como se pode notar em filmes como “O Grande Truque” (2006), em que ele divide a cena com Hugh Jackman, ou “O Operário” (2004) em que o sacrifício que fez para perder vários quilos é o que mais chama a atenção.

Sem contar a maneira como ele tomou conta da pele de Bruce Wayne. Ele talvez seja o segundo melhor Batman da história, só perdendo para George Clooney. Bale leva vantagem, porém, que seu filme “Batman Begins” (2005) é infinitamente superior ao “Batman & Robin” (1997) de Clooney, que mais parecia um desfile de escola de samba. Agora aguardamos o sexto filme da franquia novamente estrelado por Bale e inspirado na série “O Cavaleiro das Trevas”. Enquanto ela não estréia, “O sobrevivente” é uma boa pedida de um ator que vai se mostrando talentoso e versátil.

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