domingo, 6 de janeiro de 2008

2007 não acabou

Não sem a publicação do Best Of do ano que passou. Como já justifiquei no texto anterior o motivo do atraso do balanço do ano com minhas listas de favoritos e decepções – se não fizesse isso, sinto que não seria um jornalista por completo –, vamos direto ao assunto porque a lista é longa e o texto também. Mas ele está segmentado para você que só se interessar por um dos assuntos. Afinal, é preciso facilitar a vida dos meus oito leitores.

Cinema:

Foram 50 filmes (de um total de 315 lançados no país) e muitas emoções no ano de 2007. Vamos aos destaques positivos e negativos e alguns breves comentários:

Melhores filmes: Uma escolha difícil. Listei pelo menos 22 bons trabalhos. Antes do top 10, porém, vamos aos 11 que também fizeram bonito (calma, não estou louco, a conta está certa): “O Último rei da Escócia”, “Pecados Íntimos”, “Hollywoodland – Bastidores da Fama”, “300”, “Inferno”, “O Ultimato Bourne”, “Os Anjos Exterminadores”, “O Passado”, “Conduta de Risco”, “Império dos Sonhos” e “O amor nos tempos de cólera”. “Quebra de Confiança”, “O Bom Pastor”, “Zodíaco”, “Cartas de Iwo Jima/A Conquista da Honra” (não dá para separar estes dois grandes filmes de Clint Eastwood), “Notas sobre um escândalo”, “Tropa de Elite” e “A vida dos outros” ocupam da 10ª a quarta posição na ordem decrescente.

A medalha de bronze fica com a magistral atuação de Brad Pitt e o excelente faroeste “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”. A prata vai para Stephen Frears e a grande Helen Mirren, que faturou o Oscar de melhor atriz por “A Rainha”. E o melhor filme do ano na minha modesta é “Diamante de Sangue”. História sensacional sobre o negócio sujo que envolve a exportação de diamantes que contou com absolutamente excelentes atuações de Leonardo Di Caprio e Djimon Hounson.

Piores filmes: Passe longe destes seis filmes quando visitar a sua locadora. “Motoqueiro Fantasma”: uma piada de mau gosto sobre um personagem muito interessante dos quadrinhos. “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”: o segundo filme do grupo também dos quadrinhos e a segunda decepção. “Justiça a qualquer preço” é Richard Gere dando o melhor de si, ou seja, nada. “Deite Comigo”: o que eu fui fazer no cinema? Um pornô soft de extremo mau gosto. “A Via Láctea”: Nem o sorriso da Alice Braga salva. “A lenda de Beowulf”: nem Angelina Jolie pelada salva.

Uma decepção: Tinha tudo para dar certo. Era mais uma parceria entre Alejandro Gonzalez Iñarritu e Guillermo Arriaga. No elenco, Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal. Mas desavenças nos bastidores entre diretor e roteirista parecem ter feito o bolo desandar e “Babel” acabou sendo para mim a grande decepção de 2007.

Os franceses do ano: “Inferno”, ótimo filme sobre três irmãs que buscam superar a dor do passado que reverbera até suas vidas adultas e as fazem repetir os mesmos erros e viver a mesma melancolia. Já “Os Anjos Exterminadores” é uma jornada do diretor Jean-Claude Brisseau sobre os limites da sexualidade feminina numa obra arrebatadora.

Os brasileiros: “O Cheiro do Ralo”: filme razoável calcado no talento de Selton Mello. “Santiago”: excelente documentário de João Moreira Salles. “Tropa de Elite”: um dos melhores filmes do ano. “A Via Láctea”: muito fraco.

Melhores diretores: Stephen Frears (“A Rainha”), Edward Zwick (“Diamante de Sangue”), Clint Eastwood (“Cartas de Iwo Jima”), David Fincher por (“Zodíaco”), Florian Henckel von Donnersmarck (“A vida dos outros”), Andrew Dominik (“O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”) e José Padilha (“Tropa de Elite”).

Piores diretores: Clément Virgo (“Deite Comigo”) e Mark Steven Johnson (“Motoqueiro Fantasma”).

Melhores atuações masculinas: Leonardo Di Caprio e Djimon Hounson (“Diamante de Sangue”), Brad Pitt e Casey Affleck (“O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”), Forest Whitaker (“O ultimo rei da Escócia”), Ken Watanabe (“Cartas de Iwo Jima”), Gerard Butler (“300”), Geoffrey Rush (“Piratas do Caribe 3 – o fim do mundo”), Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo (“Zodíaco”), Chris Cooper (“Quebra de Confiança”), Wagner Moura (“Tropa de Elite”), Robert Redford (“Leões e Cordeiros”), Ulrich Muhe e Sebastian Koch (“A vida dos outros”) e George Clooney e Tom Wilkinson (“Conduta de risco”).

Piores atuações masculinas: Sylvester Stallone (“Rocky Balboa”), Ioan Gruffudd, Chris Evans e Michael Chiklis (“Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”), Richard Gere (“Justiça a qualquer preço”), Fernando Alves Pinto (“A Via Láctea”), Tom Cruise (“Leões e Cordeiros”) e Anthony Hopkins (“A lenda de Beowulf”).

O mico: Nicolas Cage é certamente um grande ator. Mas na pele do Motoqueiro Fantasma no filme homônimo foi uma tragédia.

Melhores atuações femininas: Helen Mirren (“A Rainha”), Judi Dench e Cate Blanchett (“Notas sobre um escândalo”), Kate Winslet (“Pecados Íntimos”), Laura Linney (“Quebra de Confiança”), Meryl Streep (“Leões e Cordeiros”) e Laura Dern (“Império dos sonhos”).

Piores atuações femininas: Angelina Jolie (“O Bom Pastor”), Jessica Alba (“Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”) e Avril Lavigne (“Justiça a qualquer preço”).

Grandes roteiros: Patrick Marber (“Notas sobre um escândalo”), Adam Mazer e William Rotko (“Quebra de Confiança”) Erich Roth (“O Bom Pastor”), Florian Henckel von Donnersmarck (“A vida dos outros”), Andrew Dominik e Ron Hansen (“O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”), Charles Leavitt (“Diamante de Sangue”) e Peter Morgan (“A Rainha”).

Uma piada de roteiro: Definitivamente escrever não é o forte de Sylvester Stallone. Seu roteiro de “Rocky Balboa” é tragicamente ruim.

Não tem jeito: Eu tentei repetir 2006. Tentei fazer com que 2007 fosse o ano de descobrir Woody Allen como 2006 fora o que descobri finalmente Almodóvar. Não dá. Depois de “Scoop – O grande furo” tive uma única certeza. Devo ser a última pessoa no universo que não gosto de Allen.

O retorno: Enquanto Stallone pacava mico no fraco “Rocky Balboa”, Bruce Willis mostrava o que é um retorno de grande estilo com seu velho John McClane. Dentro da farra de visitações à personagens do passado, “Duro de Matar 4.0” acerta num filme de ação de tirar o fôlego.

Que orgia!: “Perfume: a história de um assassino” é um dos bons filmes do ano, mas não tem jeito. Ficou marcado pela mega orgia que fecha o filme. Quase um reino inteiro possuído pelo sexo. Mas não vá se empolgando. Não tem nada de ginecológico.

A cena de sexo: Vão me chamar de tarado. Dane-se. Mas Maroussia Dubreuil (Charlotte), Lise Bellynck (Julie) e Marie Allan (Stéphanie) fazendo um ménage a trois entre mulheres em “Os Anjos Exterminadores” é a cena de sexo do ano.

O vilão: Matar belas mulheres para retirar seus perfumes e conseguir uma fragrância única é trabalho de lunático. Por isso Jean-Baptiste Grenouille (Ben Wishaw) é o vilão de 2007.

O herói do ano: John McClane sempre será um herói eterno e o Capitão Nascimento virou o justiceiro de um Rio que anda precisando de heróis, mas meu gosto por filmes de guerra/épicos/históricos apontam para o rei Leônidas, de Esparta, vivido por Gerard Butler. Com suas frases de efeito, cara de mau e o heroísmo típico grego no filme “300”, ele é o herói de 2007.

A musa: Martina Gedeck estava maravilhosa em “A vida dos outros”, Lena Headey é a rainha que todo rei deseja ter em “300” e qualquer um se renderia a Kate Winslet (“Pecados Íntimos”) e gostaria de tê-la como sua amante. Mas alguma coisa de bom o filme “Motoqueiro Fantasma” tinha que ter. E seu nome é Eva Mendes, a deusa de 2007.

Frases do ano: “06, o senhor é um fanfarrão senhor 06”, “Nunca serão” e “Pede para sair”, todas do capitão Nascimento (Wagner Moura) no filme “Tropa de Elite” foram excelentes. Gerard Butler na pele do rei Leônidas dizendo “Prepare your breakfast and eat well, because tonight, we dine in hell” e “We will fight in the shadow” é de arrepiar qualquer fã de filmes épicos. Carole Bouquet encerrando o melancólico “Inferno” com um “Não me arrependo de nada” quando todos esperam um momento redenção também foi desconcertante.

Música:

Os melhores shows: Embora a diferença no número de shows assistidos seja infinitamente menor em relação ao de filmes, é sempre difícil escolher os cinco melhores shows do ano. Mesmo que eu tenha apenas 11 apresentações no currículo de 2007. Apesar de tudo, não ficarei em cima do muro e diante de uma decisão polêmica de excluir o Police, que fez sem dúvida um belo show no Maracanã, apresento a seguir o top 5.

Em quinto lugar, o Velvet Revolver. O refugo do Guns N’Roses misturado com o do Stone Temple Pilots gerou uma boa banda que fez um belo show em abril no Citibank Hall. Na quarta posição, o Luxúria. A banda de Meg Stock ofuscou completamente o Evanescence e salvou o ingresso de ser um tremendo prejuízo ao meu bolso também em abril. Na medalha de bronze, o furacão Chris Cornell que abalou as estruturas do Citibank Hall em dezembro com tudo o que tinha de melhor na carreira solo e no passado de bandas como Soundgarden, Temple of the Dog e Audioslave. Showzaço. Da pauleira de Cornell, para a riqueza instrumental e lírica de Marisa Monte. Estar diante do seu “Infinito Particular” – seja disco, turnê ou canção – foi uma benção divina naquele julho mágico no Vivo Rio.

E o melhor do ano? Bem, o cara trouxe tudo o que tinha de melhor para o Brasil, lançou um porco no ar com nossos protestos, tinha uma banda foda com um equipamento de som e telões igualmente fodas. Tocou o “Darkside of the moon” de cabo a rabo e ainda nos presenteou com tudo o que o Pink Floyd fez de melhor em 2h30m de show. Com tudo isso, o espetáculo do ano foi o de Roger Waters em março. Inesquecível, um dos melhores concertos que já assisti em nove anos indo a shows. Waters definitivamente é o cara em 2007.

O pior show: Certamente vi outros shows piores neste ano, mas pela expectativa gerada, o Evanescence ganha o troféu latrina 2007. Amy Lee é uma boa cantora e linda, sem dúvida, mas sua desfigurada banda que veio ao Brasil depois de algumas baixas na curta história do grupo é muito fraquinha. Serve apenas de escada para ela brilhar. Lamentável.

A música do ano: “Infinito Particular”, de Marisa Monte. É de arrepiar quando ela canta versos como “só não se perca ao entrar/no meu infinito particular”. É uma obra-prima

Que fique no ano velho: a música de academia que vem dos Estados Unidos e infesta o mundo com sua ruindade. Que tenha o mesmo fim que a famigerada moda anos 80 teve nas minhas preces (atendidas) de 2007. Em 2008, nada de música de academia e, só para não perder o hábito, de funk, pagode, samba e Ivete Sangalo.

Esportes:

O grande times: Num ano em que o Barcelona virou o fio e o Milan como equipe não encantou, apesar de ter conquistado a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes, o time que mais me agradou foi o Manchester United. Tudo graças, principalmente, ao brilho do atacante português Cristiano Ronaldo. Seria o nome do ano não fosse por um certo camisa 22 do Milan.

O craque do ano: Cristiano Ronaldo brilhou, Messi também, mas o craque do ano é Kaká. Artilheiro da Liga dos Campeões, ele carregou nas costas – com o apoio do holandês Seedorf – o time de velhinhos do Milan ao título da competição. De quebra ainda conduziu a equipe do retranqueiro Carlo Ancelotti ao título mundial.

O clone: Surge o novo Maradona. Esta frase é dita por nove entre 10 argentinos que vêem um garoto de talento brilhar. Messi pode não ser o novo “El Diez” de Buenos Aires, mas os gols que ele andou fazendo são impressionantemente bem arquitetados como verdadeiras cópias de gols históricos do ex-craque. Messi ainda vai dar muito o que falar. Ainda mais agora que Ronaldinho se cansou de jogar sério.

A lamentar: Romário sempre foi para mim um ídolo. É na condição, portanto, de fã que lamento que ele não tenha parado após marcar o milésimo gol. Assim, não precisaria ter passado por alguns constrangimentos como jogar partidas abaixo da crítica, marcar apenas 15 gols na temporada – bem abaixo do que me acostumei a ver - e ser flagrado no exame antidoping por causa de um remédio contra a queda de cabelo. O Baixinho é um monstro sagrado do futebol e merecia um fim de carreira digno dos maiores gênios. Como não parou quando devia, tomara que consiga um desfecho daqueles que ele merece. Vou continuar torcendo.

Os grandes jogos: Abril foi o mês dos grandes jogos de futebol do ano. Num esporte que vem sendo tão maltratado, o mês foi um oásis de emoção. Vamos a eles: Manchester United 7 x 1 Roma no dia 10 de abril, em Old Trafford, pelas quartas-de-final da Liga dos Campeões. Um massacre do time de Alex Ferguson que chegou a abrir 6 a 0. Botafogo 4 x 4 Vasco (4 x 1 nos pênaltis) no dia 11 de abril, no Maracanã. O mundo esperava o milésimo gol de Romário que não aconteceu por um milésimo durante este jogo da Taça Rio. Uma partida inesquecível em que Romário testou todos os seus limites para realizar um sonho que ficou no quase.

Decisão do Campeonato Holandês, dia 29 de abril. PSV 5 x 1 Vitesse; Willen II 0 x 2 Ajax e Excelsior 3 x 2 AZ Alkmaar. Após ver sua vantagem de 11 pontos ser pulverizada, o PSV chegou a última rodada do campeonato precisando golear por sete gols de diferença para ser campeão independentemente de qualquer resultado. A equipe, assim como o Ajax e o AZ estava com 72 pontos, mas o AZ seria campeão com uma vitória simples devido ao melhor saldo de gols. A rodada seguiu com cada time se alternando na conquista do título. No final, o PSV levou a melhor.

E em março, um jogo dramático e emocionante até o último segundo em Stamford Bridge. Em partida válida pela FA Cup, Chelsea e Tottenham empataram por 3 a 3 pelas quartas-de-final. Quem vencesse estaria na semifinal e o empate provocou um jogo extra. O dramático é que o Tottenham abriu 3 a 1. Para piorar, Drogba e Essien se contundiram, mas continuaram jogando no sacrifício. No segundo tempo, o Chelsea, que ainda contava com José Mourinho no comado, partiu para o abafa e empatou. O resultado provocaria um jogo desempate que Defoe quase impediu com uma bola no travessão a três minutos do fim.

O mico do ano: O Botafogo perdeu todas as decisões, chorou por qualquer coisa e ainda foi recebido em aeroporto com calcinhas.

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