sábado, 26 de janeiro de 2008

Clooney e seus grandes filmes pequenos

A partir de hoje Memórias da Alcova começa uma série de análises sobre os cinco candidatos ao Oscar de melhor filme deste ano. A cerimônia acontece no dia 24 de fevereiro em Los Angeles (se a greve dos roteiristas deixar). A cada sábado, um dos filmes que concorrem ao principal prêmio será analisado. O primeiro é “Conduta de Risco”, que tem sete indicações. Na semana que vem será a vez de “Desejo e Reparação” (sete indicações), no dia 9 de fevereiro “Onde os fracos não têm vez” (oito indicações), no dia 16, “Sangue Negro” (oito indicações) e fechando a série, no dia 23, “Juno” (quatro indicações). Abaixo, a crítica de “Conduta de Risco”.

George Clooney está se especializando em interpretar personagens que inicialmente são, digamos, eticamente maleáveis, mas na medida em que o tempo e a película passam, são tomados por um sopro de moralidade e acabam tentando corrigir seus desvios éticos. Foi assim com o agente da CIA Bob Barnes em “Syriana” (2005), mas é em “Conduta de Risco” que ele avança no tema com o advogado Michael Clayton e encontra uma de suas melhores atuações na carreira, que não por acaso lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor ator.

Mais conhecido como “o lixeiro” de uma grande firma de advocacia, Clayton é responsável por apagar provas, negociar nos bastidores e fazer tudo o que é moralmente discutível para a empresa. Ele é mestre nisso e ganha bem para tal. Não tanto, porém, para suprir as suas dívidas de jogo e problemas que só aumentam quando ele começa a tomar nojo do que faz.

E o estopim acaba sendo um rebelde da firma, Arthur (Tom Wilkinson em ótima atuação e também indicado para o Oscar, mas como ator coadjuvante), que deixa de tomar seus remédios e passa a defender um grupo de pessoas que tenta processar uma grande empresa que as prejudicou no passado no clássico caso dos filmes de Davi contra Golias.

A medida em que tenta impedir a traição de Arthur, Clayton começa a tomar conhecimento da sujeira em que a firma está metida. Ao tentar investigar sem saber exatamente o que fará com aquilo, ele acaba escapando de um atentado. Mal sabiam seus malfeitores que aquilo foi o estopim para que ele fizesse o que é certo.

Com um roteiro inteligente e diálogos memoráveis escritos pelo diretor e roteirista Tony Gilroy (indicado para diretor e roteiro original), “Conduta de Risco” é mais um dos grandes pequenos filmes realizados por Clooney. Além de atuar, o ator é produtor da película ao lado do inseparável amigo, o diretor Steven Sorderbergh.

Uma vez li que ambos tem um acordo com o estúdio para o qual trabalham de que a cada blockbuster que realizam têm liberdade para projetos menores e/ou mais experimentais. Entre os três filmes da famosa quadrilha de Danny Ocean - “Onze homens e um segredo” (2001), “Doze homens e um segredo” (2004) e “Treze homens e um novo segredo” (2007) -, Clooney já participou dos ótimos “Confissões de uma mente perigosa” (2002), “Boa noite, boa sorte” (2005), ambos dirigidos por ele (este último, inclusive, lhe valeu um Oscar de diretor), o já citado “Syriana” e agora “Conduta de Risco”.

E ainda há o drama “The Good German”, dirigido por Sorderbergh e estrelado por ele e Cate Blanchett que eu ainda não vi e inexplicavelmente foi lançado no Brasil direto em DVD. Mesmo que esse filme seja ruim, no entanto, a platéia está no lucro nos diversos projetos em que Clooney se mete seja como diretor, ator ou produtor. E “Conduta de Risco” é a mais recente prova disso.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Amor eterno amor

Quanto tempo você esperaria pelo amor da sua vida? É o que questiona o cartaz promocional do filme “O amor nos tempos de cólera”. Quanto tempo esperar por um amor? O amor resiste a tanto tempo ou este é apenas um capricho da ficção do escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez (e outros tantos que já escreveram sobre o tema)?

Românticos otimistas, céticos realistas ou pessimistas convictos defenderiam apaixonadamente suas teses sem jamais chegar a um consenso sobre o tema. Diante disso, “O amor nos tempos de cólera” pode gerar sorrisos confidentes, desdém ou mera indiferença. Depende de qual corrente você faz parte.

Para mim, independentemente da finitude ou não deste sentimento tão confuso e enlouquecedor, “O amor nos tempo de cólera” é uma belíssima obra. É encantadora a delicadeza com a qual o diretor Mike Newell compõe a longa espera de Florentino Ariza (Javier Bardem, estupendo), pelo amor de Fermina (a belíssima Giovanna Mezzogiorno).

No filme, Florentino é um telegrafista sem dinheiro que se apaixona perdidamente por Fermina, com quem troca cartas banhadas em amor até que se sente encorajado a pedí-la em casamento. Seu pai, como em todas as histórias do gênero, é contrário. Deseja que a filha se case com um homem de posses e lhe dê uma vida de rainha. Para isso, a isola na casa da prima Hildebranda (Catalina Sandino Moreno).

Aí começa a dor de Florentino, que quando a reencontra alguns anos depois é inexplicavelmente rejeitado (um hiato que talvez o livro, que não li, possa explicar melhor). Por medo, Fermina diz secamente e sem qualquer convicção do que estava fazendo, que aquele amor juvenil não passara de ilusão.

Florentino sofre e se entrega a uma vida promíscua meio que por acaso e parte, involuntariamente, por incentivo de sua mãe, Transito (Fernanda Montenegro em ótima interpretação no seu primeiro papel internacional). Quatrocentas, 500, 600 mulheres passam por sua cama. Florentino depois justificaria seu sucesso com as mulheres pela carência que ele deixa transparecer. “Não sou uma ameaça”, quase lamenta.

Apesar disso, nunca fora perdido o amor por Fermina, agora casada com Juvenal Urbino (Benjamin Bratt), um importante médico da região de Cartágena, Colômbia, que ajudou a resolver os graves problemas de cólera da população.

Só o amor mantém Florentino vivo. É ele e a esperança de um dia finalmente se casar com Fermina que o movem, que o faz com que tenha forças para sobreviver. Não é difícil se emocionar com tanta devoção. O tempo passa, o século passa (do XIX para o XX), as coisas mudam radicalmente – como a instalação de energia elétrica no país – e diante de tanta modernidade, lá está Florentino sonhando com o dia em que terá o seu amor finalmente correspondido mesmo que os votos de fidelidade e virgindade tivessem sido quebrados.

Florentino responde à pergunta com uma única palavra: “Forever”. Só a história de cada um pode responder o quão eterno é o amor. Seja qual for, no entanto, a sua opinião, “O amor nos tempos de cólera” é capaz de quebrar qualquer barreira interna. Qualidades de uma obra absolutamente tocante.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Limites

Depois de bater nas comunidades pobres junto com todos os clichês necessários, o cinema brasileiro resolveu voltar suas baterias para a classe média. Se em “Tropa de Elite” (2007) o capitão Nascimento (Wagner Moura) era claro e sem qualquer pudor para esfregar o dedo na cara do estudante mauricinho e dizer que ele era o culpado pelo tráfico de drogas, “Meu nome não é Johnny”, primeiro filme nacional a estrear em 2008 toca na ferida, mas procura investigar as causas que levam um adolescente aparentemente bem criado para o crime organizado.

Baseado na história real de João Guilherme Estrela, ex-traficante da Zona Sul, hoje produtor cultural, o filme é calcado no talento de um inspirado Selton Mello e em coadjuvantes que brilham como Cleo Pires, a namorada interesseira Sofia, que o dispensa depois que ele preso, Júlia Lemmertz, a mãe de João Guilherme, Eva Todor, que vive uma traficante da terceira idade, e Cássia Kiss, como a juíza durona que teve a sensibilidade de perceber que João, mais do que um traficante era um menino que cresceu sem conhecer uma palavra fundamental na formação de qualquer criança e adolescente: limite.

É basicamente nisso que “Meu nome não é Johnny” ataca. A mãe dele afirma logo no início da história que não esperava que isso fosse acontecer nos seus piores pesadelos. “Não na minha família”, diz claramente, num sinal que para ela a vida era perfeita.

Tão perfeita que ela não via sinais da má educação que dava à criança ao não repreendê-la por estourar um morteiro em casa ou não ter sido mais atenta ao saber que o menino, apesar das boas notas na escola, era um tremendo arruaceiro.

Dirigido por Mauro Lima e com um inspirado roteiro de Mariza Leão baseado no livro homônimo, “Meu nome não é Johnny” toca numa das feridas das causas do absurdo – em quantidade e imoralidade – comércio de drogas do Rio de Janeiro.

É um ponto de vista que se junta ao de “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus” (2002) para montar um longo inventário ainda não concluído sobre as causas da degradação do Rio. Muitos são os culpados e o maior erro quando se entra nessa discussão é não considerar todas as vertentes.

Sim, o tráfico é culpa da classe média que consome, mas não apenas dela. É culpa do estado corrupto, do péssimo salário da polícia, da falta de oportunidade da população mais humilde, da falta de assistência do estado. Enfim, poderíamos ficar horas, infindáveis parágrafos listando todos os problemas.

“Meu nome não é Johnny” é apenas um recorte da realidade. Parte deste trágico inventário está feito. Mais filmes sobre o tema, sempre prolífico, serão produzidos e entrarão em cartaz. Ao menos até que seja resolvido de uma vez por todas esse câncer que é o comércio e o consumo de drogas no país. Resta ao estado agir. “Meu nome não é Johnny” não é ficção. É cruel realidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Quando a selva é a prisão

Tudo bem que Rambo era divertido como programa da Sessão da Tarde de um jovem que chegava da escola, mas como cinema aquela expressão única de Sylvester Stallone, que voltará a viver o veterano da guerra do Vietnã neste ano, deixava muito a desejar. Valia pelos absurdos como Rambo enfrentando com uma metralhadora um helicóptero no Afeganistão, e pela crítica velada, mas sem destruir o patriotismo em recantos dos roteiros escritos por Michael Kozoll, David Morrell e pelo próprio Stallone nos três filmes lançados na década de 80.

Na mesma época, o cineasta alemão Werner Herzog realizava filmes na sua língua nativa e em francês. Mal sabiam os americanos, que se Herzog tivesse sido contatado antes, ele poderia retratar o caos do Vietnã com mais propriedade do que as bobagens produzidas por eles.

Claro que isso é uma brincadeira. Não é minha intenção reduzir a obra de Herzog e sua personalidade a um mero cineasta de encomenda. Mas ao assistir a “O sobrevivente”, não pude deixar de pensar como Herzog retratou o horror daquela guerra perdida com mais propriedade do que qualquer John Rambo.

No filme, ele retorna à selva que desbancou os americanos para contar a história do aviador Dieter Digler (Christian Bale em emocionante interpretação), alemão de nascimento, naturalizado americano e tenente do exército que no seu primeiro vôo é abatido e cai na selva do Laos durante a guerra.

Desde o momento em que Digler se vê naquele cenário paradisíaco, ele saberá que por trás de tão deslumbramento, haverá uma cruel e selvagem prisão tão traiçoeira quanto os que o aprisionariam.

Na sua luta para sobreviver, Diegler passa por diversas provações. Tem que superar a morte do amigo, Duane (Steve Zahn), a falta de comida, o cansaço e a luta pela sobrevivência esperando o dia em que seria resgatado.

Herzog confia em Bale para viver esta história fascinante que já foi contada por ele mesmo em um documentário. E o ator mostra que a aposta nele foi mais do que acertada. Do garotinho de 13 anos que viveu Jamie Graham no “Império do Sol” (1987) de Steven Spielberg, Bale, aos 33 anos, se transformou num bom ator como se pode notar em filmes como “O Grande Truque” (2006), em que ele divide a cena com Hugh Jackman, ou “O Operário” (2004) em que o sacrifício que fez para perder vários quilos é o que mais chama a atenção.

Sem contar a maneira como ele tomou conta da pele de Bruce Wayne. Ele talvez seja o segundo melhor Batman da história, só perdendo para George Clooney. Bale leva vantagem, porém, que seu filme “Batman Begins” (2005) é infinitamente superior ao “Batman & Robin” (1997) de Clooney, que mais parecia um desfile de escola de samba. Agora aguardamos o sexto filme da franquia novamente estrelado por Bale e inspirado na série “O Cavaleiro das Trevas”. Enquanto ela não estréia, “O sobrevivente” é uma boa pedida de um ator que vai se mostrando talentoso e versátil.

domingo, 13 de janeiro de 2008

O real e o abstrato

Hermético é um adjetivo bastante apropriado para o diretor americano David Lynch. Seus filmes não são fáceis de entender e sua narrativa nunca é linear com ações e conseqüências imediatas. Seus filmes são quebra-cabeças que exigem muito do cérebro. Sua obra pode inclusive expulsar os que estiverem assistindo. No cinema, durante a exibição de “Império dos Sonhos”, seu mais novo trabalho, vi três pessoas abandonarem a sala. Não entenderam que Lynch não é “Harry Potter”.

De fato “Império dos Sonhos” é mais um de seus filmes duros de entender. Particularmente não tanto quanto o ainda insolúvel - para mim - “Cidade dos Sonhos” (2001). É algo mais próximo de “Veludo Azul” (1986). Mas assim como estes dois trabalhos, é outra excelente obra de Lynch, um dos poucos autores do cinema hoje em dia.

Assim como em “Cidade dos Sonhos”, Lynch explora os jogos de realidade e ficção dentro de sua obra e o espectador que se vire para construir a história. E acho que é bem isso mesmo. A obra do diretor é uma das mais abertas que conheço e já li entrevistas suas em que ele não se preocupava em explicar seus filmes deixando que cada um o interpretasse e tentasse entender ao seu jeito.

Sendo assim, na minha modesta opinião, chego a uma conclusão perigosamente óbvia se tratando de um filme de Lynch. O Império dos Sonhos é para mim uma crítica bastante direta à indústria cinematográfica de Hollywood.

Claro que o título original “Inland Empire”, poderia quebrar um pouco essa minha interpretação, dirão alguns. Contudo, uma olhada no dicionário me faz descubrir que Inland significa algo que seja longe da costa, distante, livremente falando ermo. Assim, seria um Império distante da realidade.

Com esse conceito básico, Lynch constrói uma trama de suspense com pitadas de terror que envolve contos ciganos poloneses e a filmagem de uma película. Ligado a isso tudo está Nikki/Susie, vivida visceralmente pela atriz Laura Dern.

Laura é uma atriz que consegue um papel numa importante obra que será dirigida pelo cineasta Kingsley, vivido pelo ótimo ator Jeremy Irons. Ela contracena com Devon (Justin Theroux), um ator conhecido por ser um garanhão e pegar todas as mulheres com quem divide o set.

Por trás desse cenário, está uma história macabra de que o primeiro filme, uma vez que a história é uma refilmagem de uma história cigana da Polônia, nunca foi finalizado porque seus protagonistas foram assassinados. Ao longo do filme de Lynch vamos acompanhando a “película lenda” em sua língua original e podemos comparar com a versão “pasteurizada” americana.

A crítica à indústria cinematográfica também está presente num cenário que seria bizarro se não soubéssemos que o filme é de Lynch, com personagens fantasiados de coelhos que interpretam diálogos pueris entremeados por risadas falsas como nas sitcoms americanas.

Nikki consegue o papel, mas se vê perdida entre o filme e a realidade. Não sabe se vive realmente aquele amor por Devon/Billy, ou é apenas Susie, a sua personagem. Está tão introjetada na vida de Susie que chega até a viver como tal.

Paralelamente a essa trama, Nikki/Susie/Laura vive uma terceira mulher. Uma dona de casa que acha a sua vida muito sem graça. Bem diferente do glamour das estrelas da TV. Na verdade, isso é o que achamos inicialmente, mas é essa dona de casa – que, aliás, abre o filme – que sonha em ser a estrela do cinema. Quando vemos Nikki na pequena casa, com seu marido problemático e uma gravidez a lidar, é, na realidade, o corpo da atriz na alma desta dona de casa sem nome.

É ela que quer entrar neste mundo de sonhos, de glamour, aparentemente perfeito. A deixa que nos faz fazer o link e compreender esta história é a cena final do filme falso que é feito dentro da obra de Lynch, quando uma coreana fala sobre uma prima distante que tem uma peruca loura que quando usa parece até estrela de cinema. Ela não só parece como vira a estrela, mas mantém sua vida de bed, TV and breakfast.

Não é possível falar mais sem estragar essa ótima obra de Lynch. Seus filmes são um desafio interessantíssimo para quem gosta de um cinema diferente do que é feito por 90% dos diretores e estúdios. Os 10% restantes estão nas mãos de diretores como ele, David Cronenberg, Francis Ford Coppola ou Martin Scorsese, além de craques que não estão mais entre os vivos como Stanley Kubrick, outro cineasta para lá de hermético, e Alfred Hitchcock.

“Império dos Sonhos” é um filme difícil que testa a paciência dos acostumados a ver tudo em alta velocidade com suas longas cenas escuras e minimalistas. Nesta obra de três horas de duração, Lynch parece avisar que quer na sala os que apreciam o cinema e expulsar os que só comem pipoca.

Mas se você ultrapassar essa barreira e fizer o exercício de juntar os recortes e criar a história a partir dos elementos apresentados, encontrará um bom filme e uma experiência inesquecível. E, claro, tirará suas próprias conclusões, pois tudo o que eu disse acima pode ser uma grande besteira. É um filme de Lynch. Nada está fechado. E se você conseguiu entender “Cidade dos Sonhos”, que já vi três vezes e não cheguei a uma conclusão sobre onde está a realidade e a ficção, por favor, me ajude.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Só a arte salva

Alemanha oriental, 1984. A Stasi, o serviço secreto da RDA, controla cada passo dos cidadãos a procura de “subversões” que os incriminem e os levem a confessar algo que não fizeram, mas que faz parte da paranóia de todo regime ditatorial seja ele de direita ou de esquerda.

Neste mundo cinzento e pesado marcado pela Guerra Fria, Georg Dreyman (Sebastian Koch) é um escritor simpático ao comunismo que realiza peças em concórdia com o regime vigente. Mesmo com uma postura chapa branca, ele desperta a atenção do capitão Gerd Wiesler (Ulrich Muhe), que decide investigá-lo pessoalmente sem que haja qualquer motivo aparente.

Funcionário do alto escalão da Stasi, Wiesler monta um intrincado esquema de vigília que envolve grampos telefônicos, funcionários perseguindo Dreyman e sua namorada, a bela e famosa atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), e descobertas que acabarão por mudar completamente os seus conceitos.

Essa é a trama central do espetacular “A vida dos outros”. Com um roteiro excelente do diretor Florian Henckel von Donnersmarck e ótimas atuações, o filme joga luz sobre um período obscuro da Alemanha pré-queda do Muro de Berlim, quando conceitos como liberdade simplesmente não existiam e o menor movimento poderia lhe render dias na prisão sob tortura para confessar o que jamais acontecera.

Contudo o maior mérito do filme está em saber casar com tamanha perfeição fatos históricos com a ficção que o fazem pensar sobre os horrores de um regime cruel, porém se deliciar com o lirismo do trabalho de uma classe artística que lutava para respirar num país que a esmagava.

Dreyman nunca estivera metido com críticas ao regime ou movimentos conspiratórios, apesar de seus amigos, em especial Hauser (Hans-Uwe Bauer) e Jerska (Volkmar Kleinert), este banido pelo regime, serem críticos veementes da Alemanha Oriental e freqüentarem a sua casa.

Neste ambiente e sem saber que estava sendo vigiado, Dreyman acaba sendo contaminado e diante da dor dos amigos e da descoberta de que seu grande amor, Christa-Maria, era obrigada a viver como amante do ministro Bruno Hempf (Thomas Thierne), um dos figurões do Partido Comunista, resolve denunciar o regime em uma matéria não assinada na Der Spiegel, conceituada revista na vizinha Alemanha Ocidental.

Mal sabia Dreyman que a esta altura, aquele que deveria ser o seu algoz já estava embevecido pela beleza de sua poesia, da liberdade de sua vida e pelo amor daquele jovem casal. Amor que ele nunca conseguirá atingir nem com a mais gorda e fétida prostituta. De inquisidor, Wiesler faz tudo para protegê-lo. Quer salvá-lo de algo que ele começou por um erro cometido por si mesmo, mas que teria que terminar por uma ordem de Hempf, enciumado com o fim dos encontros forçados com Christa-Maria.

Esta inversão de papéis é tão bem conduzida no roteiro de Donnersmarck que é impossível não se apaixonar pela nova veia libertária de Dreyman, bem como pela descoberta da arte de Wiesler e de uma vida encantadora, tão diferente da que ele vivia solitariamente em sua insípida residência.

Nunca se soube de um caso de um funcionário da Stasi que passou a proteger um investigado, mas esta licença poética de Donnersmarck é um dos pontos altos do filme e a atuação de Muhe, que aos 54 anos viria a falecer em julho do ano passado de um câncer no estômago, é de uma sensibilidade pouco vista no cinema. Um brilho intenso num elenco estelar. Não nos nomes contidos nos créditos, mas nas belíssimas atuações que testemunhamos. Por tudo isso, “A vida dos outros” é um filme imperdível e um dos melhores de 2007.

domingo, 6 de janeiro de 2008

2007 não acabou

Não sem a publicação do Best Of do ano que passou. Como já justifiquei no texto anterior o motivo do atraso do balanço do ano com minhas listas de favoritos e decepções – se não fizesse isso, sinto que não seria um jornalista por completo –, vamos direto ao assunto porque a lista é longa e o texto também. Mas ele está segmentado para você que só se interessar por um dos assuntos. Afinal, é preciso facilitar a vida dos meus oito leitores.

Cinema:

Foram 50 filmes (de um total de 315 lançados no país) e muitas emoções no ano de 2007. Vamos aos destaques positivos e negativos e alguns breves comentários:

Melhores filmes: Uma escolha difícil. Listei pelo menos 22 bons trabalhos. Antes do top 10, porém, vamos aos 11 que também fizeram bonito (calma, não estou louco, a conta está certa): “O Último rei da Escócia”, “Pecados Íntimos”, “Hollywoodland – Bastidores da Fama”, “300”, “Inferno”, “O Ultimato Bourne”, “Os Anjos Exterminadores”, “O Passado”, “Conduta de Risco”, “Império dos Sonhos” e “O amor nos tempos de cólera”. “Quebra de Confiança”, “O Bom Pastor”, “Zodíaco”, “Cartas de Iwo Jima/A Conquista da Honra” (não dá para separar estes dois grandes filmes de Clint Eastwood), “Notas sobre um escândalo”, “Tropa de Elite” e “A vida dos outros” ocupam da 10ª a quarta posição na ordem decrescente.

A medalha de bronze fica com a magistral atuação de Brad Pitt e o excelente faroeste “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”. A prata vai para Stephen Frears e a grande Helen Mirren, que faturou o Oscar de melhor atriz por “A Rainha”. E o melhor filme do ano na minha modesta é “Diamante de Sangue”. História sensacional sobre o negócio sujo que envolve a exportação de diamantes que contou com absolutamente excelentes atuações de Leonardo Di Caprio e Djimon Hounson.

Piores filmes: Passe longe destes seis filmes quando visitar a sua locadora. “Motoqueiro Fantasma”: uma piada de mau gosto sobre um personagem muito interessante dos quadrinhos. “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”: o segundo filme do grupo também dos quadrinhos e a segunda decepção. “Justiça a qualquer preço” é Richard Gere dando o melhor de si, ou seja, nada. “Deite Comigo”: o que eu fui fazer no cinema? Um pornô soft de extremo mau gosto. “A Via Láctea”: Nem o sorriso da Alice Braga salva. “A lenda de Beowulf”: nem Angelina Jolie pelada salva.

Uma decepção: Tinha tudo para dar certo. Era mais uma parceria entre Alejandro Gonzalez Iñarritu e Guillermo Arriaga. No elenco, Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal. Mas desavenças nos bastidores entre diretor e roteirista parecem ter feito o bolo desandar e “Babel” acabou sendo para mim a grande decepção de 2007.

Os franceses do ano: “Inferno”, ótimo filme sobre três irmãs que buscam superar a dor do passado que reverbera até suas vidas adultas e as fazem repetir os mesmos erros e viver a mesma melancolia. Já “Os Anjos Exterminadores” é uma jornada do diretor Jean-Claude Brisseau sobre os limites da sexualidade feminina numa obra arrebatadora.

Os brasileiros: “O Cheiro do Ralo”: filme razoável calcado no talento de Selton Mello. “Santiago”: excelente documentário de João Moreira Salles. “Tropa de Elite”: um dos melhores filmes do ano. “A Via Láctea”: muito fraco.

Melhores diretores: Stephen Frears (“A Rainha”), Edward Zwick (“Diamante de Sangue”), Clint Eastwood (“Cartas de Iwo Jima”), David Fincher por (“Zodíaco”), Florian Henckel von Donnersmarck (“A vida dos outros”), Andrew Dominik (“O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”) e José Padilha (“Tropa de Elite”).

Piores diretores: Clément Virgo (“Deite Comigo”) e Mark Steven Johnson (“Motoqueiro Fantasma”).

Melhores atuações masculinas: Leonardo Di Caprio e Djimon Hounson (“Diamante de Sangue”), Brad Pitt e Casey Affleck (“O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”), Forest Whitaker (“O ultimo rei da Escócia”), Ken Watanabe (“Cartas de Iwo Jima”), Gerard Butler (“300”), Geoffrey Rush (“Piratas do Caribe 3 – o fim do mundo”), Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo (“Zodíaco”), Chris Cooper (“Quebra de Confiança”), Wagner Moura (“Tropa de Elite”), Robert Redford (“Leões e Cordeiros”), Ulrich Muhe e Sebastian Koch (“A vida dos outros”) e George Clooney e Tom Wilkinson (“Conduta de risco”).

Piores atuações masculinas: Sylvester Stallone (“Rocky Balboa”), Ioan Gruffudd, Chris Evans e Michael Chiklis (“Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”), Richard Gere (“Justiça a qualquer preço”), Fernando Alves Pinto (“A Via Láctea”), Tom Cruise (“Leões e Cordeiros”) e Anthony Hopkins (“A lenda de Beowulf”).

O mico: Nicolas Cage é certamente um grande ator. Mas na pele do Motoqueiro Fantasma no filme homônimo foi uma tragédia.

Melhores atuações femininas: Helen Mirren (“A Rainha”), Judi Dench e Cate Blanchett (“Notas sobre um escândalo”), Kate Winslet (“Pecados Íntimos”), Laura Linney (“Quebra de Confiança”), Meryl Streep (“Leões e Cordeiros”) e Laura Dern (“Império dos sonhos”).

Piores atuações femininas: Angelina Jolie (“O Bom Pastor”), Jessica Alba (“Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado”) e Avril Lavigne (“Justiça a qualquer preço”).

Grandes roteiros: Patrick Marber (“Notas sobre um escândalo”), Adam Mazer e William Rotko (“Quebra de Confiança”) Erich Roth (“O Bom Pastor”), Florian Henckel von Donnersmarck (“A vida dos outros”), Andrew Dominik e Ron Hansen (“O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford”), Charles Leavitt (“Diamante de Sangue”) e Peter Morgan (“A Rainha”).

Uma piada de roteiro: Definitivamente escrever não é o forte de Sylvester Stallone. Seu roteiro de “Rocky Balboa” é tragicamente ruim.

Não tem jeito: Eu tentei repetir 2006. Tentei fazer com que 2007 fosse o ano de descobrir Woody Allen como 2006 fora o que descobri finalmente Almodóvar. Não dá. Depois de “Scoop – O grande furo” tive uma única certeza. Devo ser a última pessoa no universo que não gosto de Allen.

O retorno: Enquanto Stallone pacava mico no fraco “Rocky Balboa”, Bruce Willis mostrava o que é um retorno de grande estilo com seu velho John McClane. Dentro da farra de visitações à personagens do passado, “Duro de Matar 4.0” acerta num filme de ação de tirar o fôlego.

Que orgia!: “Perfume: a história de um assassino” é um dos bons filmes do ano, mas não tem jeito. Ficou marcado pela mega orgia que fecha o filme. Quase um reino inteiro possuído pelo sexo. Mas não vá se empolgando. Não tem nada de ginecológico.

A cena de sexo: Vão me chamar de tarado. Dane-se. Mas Maroussia Dubreuil (Charlotte), Lise Bellynck (Julie) e Marie Allan (Stéphanie) fazendo um ménage a trois entre mulheres em “Os Anjos Exterminadores” é a cena de sexo do ano.

O vilão: Matar belas mulheres para retirar seus perfumes e conseguir uma fragrância única é trabalho de lunático. Por isso Jean-Baptiste Grenouille (Ben Wishaw) é o vilão de 2007.

O herói do ano: John McClane sempre será um herói eterno e o Capitão Nascimento virou o justiceiro de um Rio que anda precisando de heróis, mas meu gosto por filmes de guerra/épicos/históricos apontam para o rei Leônidas, de Esparta, vivido por Gerard Butler. Com suas frases de efeito, cara de mau e o heroísmo típico grego no filme “300”, ele é o herói de 2007.

A musa: Martina Gedeck estava maravilhosa em “A vida dos outros”, Lena Headey é a rainha que todo rei deseja ter em “300” e qualquer um se renderia a Kate Winslet (“Pecados Íntimos”) e gostaria de tê-la como sua amante. Mas alguma coisa de bom o filme “Motoqueiro Fantasma” tinha que ter. E seu nome é Eva Mendes, a deusa de 2007.

Frases do ano: “06, o senhor é um fanfarrão senhor 06”, “Nunca serão” e “Pede para sair”, todas do capitão Nascimento (Wagner Moura) no filme “Tropa de Elite” foram excelentes. Gerard Butler na pele do rei Leônidas dizendo “Prepare your breakfast and eat well, because tonight, we dine in hell” e “We will fight in the shadow” é de arrepiar qualquer fã de filmes épicos. Carole Bouquet encerrando o melancólico “Inferno” com um “Não me arrependo de nada” quando todos esperam um momento redenção também foi desconcertante.

Música:

Os melhores shows: Embora a diferença no número de shows assistidos seja infinitamente menor em relação ao de filmes, é sempre difícil escolher os cinco melhores shows do ano. Mesmo que eu tenha apenas 11 apresentações no currículo de 2007. Apesar de tudo, não ficarei em cima do muro e diante de uma decisão polêmica de excluir o Police, que fez sem dúvida um belo show no Maracanã, apresento a seguir o top 5.

Em quinto lugar, o Velvet Revolver. O refugo do Guns N’Roses misturado com o do Stone Temple Pilots gerou uma boa banda que fez um belo show em abril no Citibank Hall. Na quarta posição, o Luxúria. A banda de Meg Stock ofuscou completamente o Evanescence e salvou o ingresso de ser um tremendo prejuízo ao meu bolso também em abril. Na medalha de bronze, o furacão Chris Cornell que abalou as estruturas do Citibank Hall em dezembro com tudo o que tinha de melhor na carreira solo e no passado de bandas como Soundgarden, Temple of the Dog e Audioslave. Showzaço. Da pauleira de Cornell, para a riqueza instrumental e lírica de Marisa Monte. Estar diante do seu “Infinito Particular” – seja disco, turnê ou canção – foi uma benção divina naquele julho mágico no Vivo Rio.

E o melhor do ano? Bem, o cara trouxe tudo o que tinha de melhor para o Brasil, lançou um porco no ar com nossos protestos, tinha uma banda foda com um equipamento de som e telões igualmente fodas. Tocou o “Darkside of the moon” de cabo a rabo e ainda nos presenteou com tudo o que o Pink Floyd fez de melhor em 2h30m de show. Com tudo isso, o espetáculo do ano foi o de Roger Waters em março. Inesquecível, um dos melhores concertos que já assisti em nove anos indo a shows. Waters definitivamente é o cara em 2007.

O pior show: Certamente vi outros shows piores neste ano, mas pela expectativa gerada, o Evanescence ganha o troféu latrina 2007. Amy Lee é uma boa cantora e linda, sem dúvida, mas sua desfigurada banda que veio ao Brasil depois de algumas baixas na curta história do grupo é muito fraquinha. Serve apenas de escada para ela brilhar. Lamentável.

A música do ano: “Infinito Particular”, de Marisa Monte. É de arrepiar quando ela canta versos como “só não se perca ao entrar/no meu infinito particular”. É uma obra-prima

Que fique no ano velho: a música de academia que vem dos Estados Unidos e infesta o mundo com sua ruindade. Que tenha o mesmo fim que a famigerada moda anos 80 teve nas minhas preces (atendidas) de 2007. Em 2008, nada de música de academia e, só para não perder o hábito, de funk, pagode, samba e Ivete Sangalo.

Esportes:

O grande times: Num ano em que o Barcelona virou o fio e o Milan como equipe não encantou, apesar de ter conquistado a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes, o time que mais me agradou foi o Manchester United. Tudo graças, principalmente, ao brilho do atacante português Cristiano Ronaldo. Seria o nome do ano não fosse por um certo camisa 22 do Milan.

O craque do ano: Cristiano Ronaldo brilhou, Messi também, mas o craque do ano é Kaká. Artilheiro da Liga dos Campeões, ele carregou nas costas – com o apoio do holandês Seedorf – o time de velhinhos do Milan ao título da competição. De quebra ainda conduziu a equipe do retranqueiro Carlo Ancelotti ao título mundial.

O clone: Surge o novo Maradona. Esta frase é dita por nove entre 10 argentinos que vêem um garoto de talento brilhar. Messi pode não ser o novo “El Diez” de Buenos Aires, mas os gols que ele andou fazendo são impressionantemente bem arquitetados como verdadeiras cópias de gols históricos do ex-craque. Messi ainda vai dar muito o que falar. Ainda mais agora que Ronaldinho se cansou de jogar sério.

A lamentar: Romário sempre foi para mim um ídolo. É na condição, portanto, de fã que lamento que ele não tenha parado após marcar o milésimo gol. Assim, não precisaria ter passado por alguns constrangimentos como jogar partidas abaixo da crítica, marcar apenas 15 gols na temporada – bem abaixo do que me acostumei a ver - e ser flagrado no exame antidoping por causa de um remédio contra a queda de cabelo. O Baixinho é um monstro sagrado do futebol e merecia um fim de carreira digno dos maiores gênios. Como não parou quando devia, tomara que consiga um desfecho daqueles que ele merece. Vou continuar torcendo.

Os grandes jogos: Abril foi o mês dos grandes jogos de futebol do ano. Num esporte que vem sendo tão maltratado, o mês foi um oásis de emoção. Vamos a eles: Manchester United 7 x 1 Roma no dia 10 de abril, em Old Trafford, pelas quartas-de-final da Liga dos Campeões. Um massacre do time de Alex Ferguson que chegou a abrir 6 a 0. Botafogo 4 x 4 Vasco (4 x 1 nos pênaltis) no dia 11 de abril, no Maracanã. O mundo esperava o milésimo gol de Romário que não aconteceu por um milésimo durante este jogo da Taça Rio. Uma partida inesquecível em que Romário testou todos os seus limites para realizar um sonho que ficou no quase.

Decisão do Campeonato Holandês, dia 29 de abril. PSV 5 x 1 Vitesse; Willen II 0 x 2 Ajax e Excelsior 3 x 2 AZ Alkmaar. Após ver sua vantagem de 11 pontos ser pulverizada, o PSV chegou a última rodada do campeonato precisando golear por sete gols de diferença para ser campeão independentemente de qualquer resultado. A equipe, assim como o Ajax e o AZ estava com 72 pontos, mas o AZ seria campeão com uma vitória simples devido ao melhor saldo de gols. A rodada seguiu com cada time se alternando na conquista do título. No final, o PSV levou a melhor.

E em março, um jogo dramático e emocionante até o último segundo em Stamford Bridge. Em partida válida pela FA Cup, Chelsea e Tottenham empataram por 3 a 3 pelas quartas-de-final. Quem vencesse estaria na semifinal e o empate provocou um jogo extra. O dramático é que o Tottenham abriu 3 a 1. Para piorar, Drogba e Essien se contundiram, mas continuaram jogando no sacrifício. No segundo tempo, o Chelsea, que ainda contava com José Mourinho no comado, partiu para o abafa e empatou. O resultado provocaria um jogo desempate que Defoe quase impediu com uma bola no travessão a três minutos do fim.

O mico do ano: O Botafogo perdeu todas as decisões, chorou por qualquer coisa e ainda foi recebido em aeroporto com calcinhas.

sábado, 5 de janeiro de 2008

No tempo do lampião

Certamente deve existir uma estatística (há uma para tudo neste planeta) relacionando o número de mortes por problemas do coração/stress e o avanço da nossa dependência dos cada vez mais rapidamente modernos equipamentos eletrônicos. Com sua dubiedade mortal, ligada tanto ao sagrado quanto ao profano, a incorporação deles aos hábitos humanos deve ter gerado um considerável aumento de óbitos.

Analisemos bem. Você hoje baixa música em MP3 no seu computador para ouvir no Ipod ou tocar no seu celular, que tem rádio, câmera fotográfica, filmadora, acesso à internet e, de vez em quando, você até usa para telefonar. As fotos e os vídeos feitos através do celular são tratadas e ou manipuladas em avançados programas encontrados no seu computador.

Com o aparelho ou o laptop, voce entra na internet e tem acesso ao mundo inteiro em alguns cliques. É através dessa teia de informações que você conversa com o amigo de hoje no MSN, descobre o de ontem no Orkut ou no MySpace, publica suas idéias - ou a falta delas - num blog, seus vídeos no Youtube, checa seus e-mails, etc...

Ufa... e eu nem citei o aparelho de DVD que é usado para ver os vídeos que você armazenou num disquinho depois de transpor do videocassete as suas fitas ultrapassadas. Tudo feito no computador, mas porque o DVD que grava ainda é muito caro e, por isso, de difícil acesso para a maior parte da população. Reparou como tudo está interligado?

E novas mudanças são apontadas no horizonte. Ou seja, nós humanos, demasiado humanos, ficamos dependentes/viciados na tecnologia. É aí que surge a pergunta: E quando uma peça dessa engrenagem se rompe? Sendo mais claro, e quando algum aparelho quebra? É o caos. Eis que surgem as mortes por infarto, tentativas de suicídio e outras situações menos cotadas.

Não cheguei a tanto (ainda), afinal estou aqui escrevendo (e só Deus sabe o sacrifício que foi), mas foi quase desesperador ver o meu computador pifar e não poder fazer nada. Me deixou fortemente irritado também. É a dependência tecnológica que sempre evitei, mas que com o desejo de fazer um blog cada vez melhor e com mais coisas originais, me faz ficar cada vez mais envolto nesta teia perversa.

Resta saber se me manterei vivo a cada momento que uma peça da engrenagem se romper. Felizes eram os habitantes da Terra no século XIX. Não tinham nada daquilo que listei acima e nem energia elétrica. A maior diversão estava em apreciar uma boa e seleta literatura antes de dormir tendo a instável luz do lampião como testemunha. Eram mais felizes e certamente não tinham problemas do coração.

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Em tempo. A máquina quebrada me impediu de publicar no dia 31 o - por que não? - já tradicional "Best Of" de 2007. Já pedindo desculpas pelos problemas, prometo daqui a alguns dias, assim que o computador ficar bom (espero), publicar o texto. Não posso decepcionar meus oito leitores.