"How yoy doin'? |
Não tem como um filme que se passa na Itália não ser bonito. Na Itália,
a grama é mais verde, as pedras da rua são mais bem esculpidas... Até a poeira
de casa tem um ar renascentista como se fosse soprada por anjos gordinhos
pintados por Michelangelo. Então, não tem como não achar “Me chame pelo seu
nome” um filme bonito.
Mas não é só pelo
cenário idílico que o filme de Luca Guadagnino é bonito.
(E ATENÇÃO, A
PARTIR DE AGORA: CALL ME BY SPOILERS THAT I CALL YOU BY CORNETA)
“Me chame pelo seu
nome” é bonito porque é delicado, terno, FLUIDO, ALGODÂNICO, se equilibra entre
uma certa tensão e uma leveza e é uma história de amor que não tem aquelas coisas
bobas, idiotas e clichês de Hollywood com gente se esbarrando e encontrando
coincidências na vida enquanto come macarrão.
O filme só não
precisava ter aquele final feito propositadamente e de forma PICARETA para você
chorar. Uma cena interminável onde o menino Elio chorou até o momento em que a
tela mostrava “Fulana de tal: assistente de maquiagem dos figurantes. Siclano,
figurinista do dono do bar na cena 56”. Obviamente eu não cai nesse recurso
barato de novela e não chorei. Deixei o moleque sozinho nessa. Sorry, Elio. Mas
nada que prejudique um filme que muitos só não consideram mágico porque falta
ter arco-íris e unicórnios.
“Me chame pelo seu
nome” começa com mais um dia bucólico de verão europeu no norte da Itália. Em
meio a um vilarejo qualquer cheio de prédios milenares, sol, árvores e terra
batida, vive um professor de história da arte calminho (Michael Stuhlberg) e
sua família. Todos passam o verão na Itália só curtindo os aspectos hedonistas
da vida. Elio (Timothée Chalamet), por exemplo, adora ler, tocar piano, agitar
uns dates com uns brotos, mexer o esqueleto em festinhas e nadar no lago. É a
vida que qualquer um pediria a Deus.
Só que a vida de
Elio começa a bagunçar quando o americano Oliver (Armie Hammer) chega para uma
temporada de troca de experiências com o professor Pearlman. Mas,
aparentemente, não apenas com ele. Logo de cara, Oliver mostra que não está ali
a passeio. No primeiro jogo de vôlei, já manda um “how you doing” para o Elio.
- Você está muito
tenso, amiguinho. Relaxa. Distende os músculos. Sente o clima.
- Ih, para com isso. Eu estou bem. Sai pra lá.
- Ih, para com isso. Eu estou bem. Sai pra lá.
Elio não percebe
nada. Caramba, Elio! Até eu que sou tapado notei que ele estava te dando mole.
Pois bem, depois
dessa vacilada, ele fica recebendo uma sequência interminável de “Later” que o
faz até procurar a Mariza (Esther Garrell). Mariza, coitada, ama o menino Elio
e por isso demora a perceber o que até os pais dele já sabem. Ele está em outra
e tem “uma BELA AMIZADE” com Oliver.
A partir daí é tudo
poesia, amigos. Porque o amor é esse farfalhar de borboletas num interminável
bosque italiano ao som da bela canção “Mistery of love”, de Sufjan Stevens.
Uma pena para o
Elio que não apenas todo carnaval, mas todo verão também tem seu fim. E a
realidade é uma enchente que bate à porta da sua casa. Uma pena para ele, mas
melhor para o filme, é claro. Final feliz quase sempre é brega.
No fim, “Me chame
pelo seu nome” nos dá uma lição que eu só captei mesmo depois de uma
conversa-debate com um amigo que me disse a seguinte frase: “Às vezes, o amor
não basta”. E segue o baile.
Cotação da Corneta:
nota 7,5.
Indicações ao careca dourado: melhor filme, roteiro adaptado, ator
(Timothée Chalamet) e canção.
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