Kate Winslet está muito bem no papel |
Woody Allen é uma instituição. Amado por muita gente, ele
costuma ser daqueles tipos que se usa a arrogante frase: “um filme ruim de
fulano é melhor do que muita coisa por aí”. Como se ele pudesse ter privilégios
por conta de sua produção cinematográfica e sua história. E como se tais
privilégios fossem relevantes ou necessários para ele. Na verdade, Woody Allen
atingiu há algumas décadas um status de que não precisa de elogios e ninguém
sendo condescendente com ele. Este é, portanto, apenas mais um texto sobre
“Roda Gigante”.
Perfeita metáfora de sua carreira cinematográfica recente
- por vezes você está por cima, por vezes por baixo - “Roda Gigante” pode ser
visto de duas formas sob um mesmo prisma. É um filme nostálgico de um homem com
seus recém-completados 82 anos que aposta em interpretações teatrais com uma
pegada, ou diria até, um olhar, para os filmes da Hollywood dos anos 40 e
50.
E isso pode ser bom ou ruim, dependendo do gosto do
freguês. Apesar da brilhante interpretação de Kate Winslet, uma grande atriz
que brilha em quase todos os projetos que participa, “Roda Gigante” soa
particularmente aos meus ouvidos como um filme monocórdico com estilos de
interpretação que parecem não caber nos dias atuais. Confesso ser um pouco
irritante certos tons histriônicos. Mas isso é um gosto puramente
pessoal.
Se eu tivesse que avaliar a produção recente de Woody
Allen dentro da metáfora da roda gigante, diria que o seu mais novo filme está
no meio do trajeto. Nem no topo de um “Meia-noite em Paris” (2011) ou “Match Point” (2005),
nem lá embaixo de produções como “Magia ao luar” (2014).
“Roda Gigante” tem méritos. Além de Kate Winslet
brilhando solo como Cate Blanchett em “Blue Jasmine” (2013), ao viver uma garçonete de
meia idade aspirante a atriz que trabalha num marisqueiro, tem um casamento
infeliz com Humpret (Jim Belushi) e se envolve com o salva-vidas do posto 7 de
Coney Island, há uma boa participação de Juno Temple, como Caroline, filha de Humpret
que está marcada pela máfia e volta para casa depois de denunciar o marido, Frank Damato, para o FBI para encontrar um esconderijo e refazer a vida.
Mas Justin Timberlake não convence como narrador dessa
história e aspirante a escritor e autor teatral, que quebra a quarta parede
para conversar com o espectador, mas não diz nada de muito relevante nesta
história agridoce com pegada de fábula moral.
Se nostalgia é a marca do filme, os fãs de “Sopranos”
reconheceram dois atores muito queridos. Steve Schirripa e Tony Sirico que faziam Baccala e
Paulie na série, vivem justamente dois mafiosos na película de Allen que,
embora tenham nomes diferentes, interpretem como os velhos personagens da série
da HBO. Até a característica risada do Paulie é usada pelo ator em sua
pequena participação. Impossível imaginar que isso não foi de propósito.
Assim gira a “Roda Gigante” de Woody Allen, um filme que
está longe de ser brilhante, mas que pregará com desenvoltura para os já
doutrinados. Ainda que ele tenha menos daquele humor característico do diretor.
É um trabalho que alinha com “Café Society” (2016) e não é exatamente marcante na
filmografia do diretor.
Cotação da Corneta: nota 7.
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