Espada maneira. Vou levar para mim |
Para Guy Ritchie a história da humanidade se resume a
brigas de gangues nas ruas. Deve ser alguma frustração por ter sido Martin
Scorsese e não ele a ter feito "Gangues de Nova York" (2002). Se
convidassem Ritchie a fazer uma nova versão da Branca de Neve, os anões seriam
sujos, frequentariam puteiros, cuspiriam no chão e falariam palavrões e gírias
como "mano" e "brou" enquanto a personagem principal seria
toda tatuada e lutaria um kung fu que aprenderia com o seu mestre chinês.
Não
importa o tempo histórico. Não importa se eu estou no século XX, XIX ou na
Idade Média. Tudo para Ritchie não passa de brigas de garotos machos,
descolados e malandrões pelo poder.
Assim
ele desconstrói/destrói a lenda do nosso querido Rei Arthur nesse "Rei Arthur: a lenda da espada". No filme para
lá de constrangedor, Art (sim, o personagem de Charlie Hunnam tem um apelido de infância maneiro que ganhou nas ruas, choque) foi mandado embora num barco
pelo pai, o rei Uther (Eric Bana), após uma trairagem do tio Vortigern (Jude
Law, mais afetado que um pavão frondoso). Titio sabia que "the night is
dark and full of terrors" e resolveu se aliar ao lado negro da força para
ser um cara fortão com uma foice maneira e brincar com fogo. Além de tomar o
trono para si.
O
que o Jude Law não sabia é que ao perder o sobrinho no mundo (que não sabemos
como sobreviveu na longa jornada de barco, sem comida e bebida, de Camelot até
Londres, ops, "Londínia"), ele estava vendo nascer um monstro.
Criado
por prostitutas, convivendo com vikings e sendo treinado pelo Cem Olhos, que
ganhou um emprego nessa produção depois do cancelamento de "Marco
Polo", Art virou um homem pronto para a vida. Honesto, justo, forte e
macho. Pronto para enfrentar quaisquer forças dessa Inglaterra bagunçada e
cheia de druidas e magos que ecoam magias possuidoras de bichos que deixariam o
Brandon Stark embasbacado.
Mas
ninguém saberia da sua existência se o povo não começasse uma campanha contra
o rei usurpador. Nas ruas, símbolos da oposição eram pichados anunciando a volta do verdadeiro rei e
a galera parava em todas as tabernas dizendo: "Primeiramente, fora
Vortigern".
Isso
começou a incomodar o rei, que precisava se impor pela força. Ele, inclusive,
desconfiava que já estava sendo grampeado dentro do seu próprio palácio.
Mas
a coisa começou a feder mesmo quando a maré baixou e revelou AQUELA espada. Aí
Vortigern tremeu na base, amigos. Começou a buscar cada jovem pela cidade atrás
de quem possa tirar a espada da pedra de uma forma mais obsessiva do que o
príncipe com o sapatinho de cristal atrás da Cinderela.
É
quando vem um dos momentos mais constrangedores desse filme que definitivamente
não precisava ter sido feito (#Cornetarevolts). Art não sabe muito bem como pegar na espada e
recebe instruções de... David Beckham! Sim, David Beckham. Se fossem instruções
sobre como bater falta, tudo bem. Mas tirar uma espada da pedra, não dá.
A
partir daí acontece aquilo que já conhecemos no cinema. Começa a jornada do
herói rumo ao conhecimento, ao poder e à vingança. Afinal, o nosso amigo Art é
o rei legítimo, o herdeiro do trono em Camelot. Trono este que foi usurpado
pelo titio. No meio disso tudo é um tal de você precisa dominar a espada, a
espada te domina, você não pode desviar o olhar da espada, a espada levanta
mais poeira que fãs em show da Ivete Sangalo, a espada isso, a espada aquilo. A
espada tem poder, já sabemos. E enquanto isso, Art faz doce. Diz que não serve para o cargo, que não quer o podere etc e tal. Quando sabemos que o aedes aegypti azul com o vírus da política o picou há muito tempo.
Só
que a situação se desenrola de uma maneira tão absurda e o Guy Ritchie se
coloca numa situação tão irreversível, que ele precisa lançar mão de um deus
ex-machina para equilibrar as forças. Que desagradável.
Enfim,
durante todo o filme, vemos muita correria, muita pancadaria, pegadinhas e
aquela linguagem das ruas cheia de gírias e malemolências. O que não vemos é
Guinevere. Nem Lancelot. Merlim? É apenas uma imagem distante de três
segundos.
Parece
que essa galera ficou para um segundo filme. Preferimos que ele não aconteça,
Guy. Vá ler Bernard Cornwell que é o melhor que você pode fazer.
A
Corneta está decepcionada. "Rei Arthur: a lenda da espada" vai ganhar
uma nota 3.
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