Eu queria ser tão bom assim em matemática |
Se a Corneta tivesse que tirar a nota média dos candidatos a melhor filme do Oscar até aqui, ela seria 7,4. Está bem abaixo do ano passado, quando a nota média da lista de indicados foi de 7,8. Mas ainda há três filmes para ver que podem impulsionar o resultado final. O que "Estrelas além do tempo", obviamente, não conseguiu.
É até complicado falar mal do filme de Theodore Melfi, mas a Corneta acha que para ser indicado ao prêmio principal um trabalho precisa ser mais do que um filme comum. E é uma pena que "Estrelas além do tempo" não passe de um filme absolutamente comum. Daqueles que a gente vê pelo menos uns 20 iguais por ano. É até simpático, mas simpático por simpático "Os Goonies" (1985) também é, e nem por isso "Os Goonies" foi indicado ao Oscar.
"Estrelas além do tempo", amigos, é a Sessão da Tarde concorrendo ao Oscar. É o "Spotlight" da vez. E sabemos o quanto foi ERRADO "Spotlight" ter ganhado o prêmio no ano passado (a Corneta não engole isso até hoje). Vocês mesmos já tinham esquecido da existência de "Spotlight" até eu mencioná-lo neste parágrafo.
É uma pena porque a sua história precisava ser contada. E, por ser tão importante, principalmente para os sombrios tempos atuais, merecia um filme melhor do que apenas uma corretinha e careta estrutura narrativa numa roupagem no gênero "filme para a família". Só faltaram bebês fofos e cachorros para o espectador fazer guti-guti.
Mas sobre o que é o filme de Melfi? Ele conta a história de três mulheres brilhantes que ajudaram a Nasa a colocar o primeiro americano na órbita da Terra. Katherine Johnson (Taraji P. Henson) era uma matemática extraordinária em um tempo em que os computadores ainda estavam começando a surgir. Lembrem, crianças, estávamos nos anos 60. Tempos selvagens em que não havia Apple, Netflix e Pokémon Go. Mary Jackson (Janelle Monaé) era uma engenheira fantástica que ajudou a construir o protótipo que seria usado por John Glenn (Glenn Powell). E ainda havia Dorothy Vaughan (Octavia Spencer), a líder a frente do seu tempo de grupo de mulheres que trabalhavam na Nasa.
As três tiveram que comer o pão que o Diabo racista e misógino amassou para vencerem na vida. Lembremos que elas eram mulheres e negras numa Virgínia segregacionista, onde ainda havia separação das pessoas por cor. Além disso, as mulheres eram vistas como seres inferiores. Eram tempos ainda mais bizarros que te fazem refletir se a humanidade realmente tem telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor.
O preconceito fazia com que elas tivessem que passar por dificuldades surreais. Katherine, por exemplo, precisava fazer longas caminhadas só para ir ao banheiro, pois no prédio em que ela trabalhava não havia banheiro para negras. "Eu não faço a menor ideia de onde fica o SEU banheiro", dizia a secretária branca azeda para ela.
Dorothy trabalhava como supervisora, mas não tinha nem crachá, nem salário de supervisora. A promoção nunca vinha para mulheres negras como ela. Já Mary nunca conseguia um novo cargo, pois para isso tinha que frequentar um curso numa universidade somente para homens brancos. Foi obrigada a entrar na Justiça para ter o direito de ter oportunidades iguais e, assim, galgar novas posições na Nasa.
Coube ao chefão Al Harrison (Kevin Costner) acabar com os problemas urinários de Katherine ao lembrar o óbvio: o mijo de todo mundo na Nasa é amarelo (e, por acaso, no resto do planeta). Já Dorothy teve que dobrar a supervisora racista que nem percebe que é racista, Vivian (Kirsten Dunst), para conseguir a tão aguardada promoção. Mas tudo é assim contado numa linguagem edificante, como se fossem pequenas pedras no caminho. Duvido que as dificuldades delas não tivessem sido maiores do que o mostrado na tela com jeito de propaganda inclusiva de margarina.
"Estrelas além do tempo" vai assim contando de forma beeeeem leve e de uma forma bem otimista como estas três superaram tudo para vencer e terem o devido reconhecimento em suas carreiras. É pouco para concorrer ao Oscar principal. Mas vai ver "Estrelas além do tempo" é o "Ghost - do outro lado da vida" (1990) da vez (sim, "Ghost" concorreu ao Oscar em 1991). Essa história merecia um filme muito melhor. Mas não deu. A Corneta dará uma nota 6.
Indicações ao careca dourado: melhor filme, atriz coadjuvante (Octavia Spencer) e roteiro adaptado.
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