Se joga, filha |
Uma das grandes descobertas dessa maratona do Oscar que
vai chegando ao fim (para mim, só falta um filme!) é que o alemão tem senso de
humor. Sim, é verdade. Eu também não sabia. Eles têm até uma expressão para
isso: Sinn für Humor. E é isso que presenciamos em "Toni Erdmann".
O
filme de Maren Ade é o indicado alemão e, dizem, o grande favorito ao careca
dourado de filme estrangeiro. Mas ao contrário dos tradicionais dramas de
guerra ou que refletem sobre a Alemanha dividida pelo muro de Berlim que nos acostumamos
a ver, "Toni Erdman" é uma comédia. Isso mesmo. Essa palavra existe
também em alemão: Komödie.
O
enredo de "Toni Erdman" pode ser resumido num tweet: pai malucão e
amoroso tenta se reconectar com a filha careta que está desperdiçando a vida só
trabalhando (Deu 135 caracteres). Dá até para completar com cinco emojis.
A
filha se chama Ines Conradi (Sandra Hüller). Ela vive em Bucareste, na Romênia,
onde trabalha numa firma de consultoria especializada em organizar passaralhos
em empresas pelo mundo sob a pecha de "modernizar". Enfim, conhecemos
esse discurso.
É
uma função ingrata e logo o pai Winfried (Peter Simonischek) percebe que a
filha não é realmente feliz ali pendurada no celular e tendo uma vida
workaholic e artificial, sem aproveitar as coisas boas da vida. Pior, bajulando
potenciais clientes com comprinhas em shoppings só para fechar um negócio.
É
quando ele resolve agir. Vai para Bucareste, se disfarça como o coach picareta
Toni Erdmann e começa a bagunçar as estruturas certinhas da filha, mexer com
seus amigos, seus colegas de trabalho, seu amante e, o pior de tudo, forçá-la a
cantar Whitney Houston na frente de um monte de romenos desconhecidos. Mandar
um "Greatest love of all" foi pesado. Pode até ter sido didático, mas
foi pesado. Parecia um dos treinamentos duros do senhor Myiagi com o Daniel San
em "Karatê Kid".
Mas
o objetivo de Erdmann/Winfried é não apenas se reconectar, mas humanizar a
filha. Mostrar que a vida é mais do que o trabalho. E com isso eles vão
vivendo uma série de situações. Algumas engraçadas, outras bizarras e outras
meio nada a ver que eu imagino que sejam engraçadas, mas devem ser mais a cara
de um humor típico alemão (deutsche stimmung) e aí eu não peguei. Mas nada
supera a impagável cena do aniversário de Ines, que acaba sendo uma metáfora
para a desconstrução absoluta do seu personagem e ponto de inflexão psicológico
para ela.
"Toni
Erdmann" é um pouco longo. São quase três horas, mas não chega a ser
cansativo. Para uma comédia alemã (eu não consigo deixar de achar estranho
juntar estas duas palavras), até que se sai relativamente bem no teste da
Corneta. Ganhará uma nota 7.
Indicação ao careca dourado: melhor filme estrangeiro
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