terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Capitão Fantástico

Viggo e seus filhos diferenciados
Eu queria dizer que "Capitão Fantástico" é um filme interessante. Mas Ben (Viggo Mortensen) me chamaria de sem conteúdo e vago. Isso porque na sociedade criada especificamente para ele e seus filhos, "interessante" é algo proibido. Toda obra de arte contemplada precisa de uma análise profunda. De motivos para ela ser boa ou ruim. 

Não é fácil ser filho de Ben. Mas também pode ser bom. É possível que sejam as duas coisas. Afinal, todo tipo de criação tem falhas e acertos. 

"Capitão Fantástico" coloca em choque dois mundos: o tradicional em que crianças vão para a escola, aprendem o que os sistemas escolares querem que você aprenda e vivem uma vida com certas informações sendo liberadas aos poucos e o de Ben, que montou ao lado da esposa um bunker socialista no meio da floresta americana onde seus filhos desde pequeno são treinados a caçar, se exercitar, viver livremente e celebrar o Noam Chomsky Day, dia do aniversário do pensador que é como o Natal deles. 

Mas quando a mãe das crianças morre e todos decidem ir para o funeral estas duas realidades se chocam brutalmente. Um dos filhos começa a questionar aquela educação "diferente", outro quer ir para a universidade e aos poucos o pai vai percebendo que exagerou em criar o seu mundo idílico.

As crianças tinham muito conhecimento, muito mais do que uma criança normal, mas não estavam preparadas para a vida. Não tinham o convívio social com outras da sua idade e se viam diante de situações que para elas eram bizarras, o que no mundo, digamos, socialmente aceito, é coisa de freak. 

"Capitão Fantástico" tem um quê de "Pequena Miss Sunshine" na forma como é feito e por contar uma história de gente de certa forma desajustada.

No fim, fica a lição de que qualquer radicalismo é ruim para todos. Nem tanto a vida artificial e plastificada que vivemos nestes bunkers burgueses, nem tanto o exagero de viver isolado num modelo puramente natural como se fossemos quase homens das cavernas que leem Chomsky. É claro que ao final, a mensagem de amor e de que o importante é a família estar unida prevalece.

E quem diria que no meio de tantos pensadores, escritores e compositores de música clássica daquela família, a música favorita da mãe deles seria "Sweet Child O'Mine"? Guns N'Roses é pura erudição.

"Capitão Fantástico" tem um elenco jovem bem entrosado entre si e com Viggo Mortensen, um ator que sempre gostei em boa parte dos filmes (e das escolhas de projetos que fez). Tem um final fofo e pode ser uma diversão despretensiosa. Ganhará da Corneta uma nota 6,5. 


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