Que dupla |
Receita
de bolo de histórias de redenção de Hollywood. Junte uma família. Coloque
alguns dos seus membros em conflito. Acrescente uma pitada de relação entre
mundos diferentes. Cidade grande x cidade do interior, pessoa honesta x pessoa
desonesta, etc... Adicione rusgas do passado. E que precisam de um ajuste de
contas. Uma dose de ética. Duas de moral. Americanos adoram o conceito de
moral. Chore junto com aquela música no piano ao fundo e voilà! Cá estamos
diante do enredo de "O Juiz".
Você
já viu o "Juiz" incontáveis vezes. Só que ele tinha outros nomes.
"O juiz" já ganhou o Oscar, já passou na “Sessão da Tarde”, já passou
no seu canal a cabo favorito e provavelmente você já baixou naquela locadora
mágica da internet (sim, essa sueca mesmo. Não se faça de desentendido). Pois o
filme de David Dobkin não é muito diferente de diversos filmes que já vimos por
aí.
O
enredo. Advogado canalha e bem sucedido tem uma vida supimpa e rica, apesar de
o casamento com uma mocinha mais jovem com corpo de modelo estar indo para o
espaço. Um dia ele recebe uma bomba: sua mãe morreu. E agora? Ele vai ter que
voltar para a odiosa cidade do interior da qual saiu há 20 anos para não mais
retornar para o enterro de sua querida mãe e um.. bem... ajuste de contas com o
seu pai, com quem não fala desde que picou a mula.
O
advogado em questão se chama Hank Palmer e é vivido por Robert Downey Tony
Stark Iron Man Jr. Ele vivia na possante Carlinville, Indiana, ali no meio do
nada (o que tem em Indiana além dos Pacers da NBA, dos Colts da NFL, de uma
tradicional prova do automobilismo e plantações de milho? Nada) quando resolveu
largar a namorada e a família para cair no mundo.
Para
isso ele usou um álibi muito mais perfeito do que "vou ali comprar
cigarros e já volto". Hank disse "vou ali no show do Metallica e já
volto".
Downey
Jr, vocês sabem, é fã do bom e velho rock and roll. É por isso que a corneta é
fã dele. Nos filmes do Homem de Ferro ele veste a camisa e escuta AC/DC e Black
Sabbath. Aqui, ele escuta Metallica.
E
é por causa do Metallica que ele deixa a sua bela namorada na pista. Isso não
se faz! Cara, se liga no que ele fez. Ele largou a Vera Farmiga (que faz
Samantha Powell no filme) para ver um show do Metallica durante a turnê “Shit
Hits The Sheds”, que foi uma espécie de fim de feira da turnê do “Black Album”
lançado em 1991. E lá estava ele no dia 2 de julho de 1994 em Noblesville,
Indiana, para ver James Hetfield e cia. Depois daquela sequência final de
shows, o Metallica se enfurnaria no estúdio para cortar os cabelos e gravar o
“Load”, que vocês sabem a repercussão péssima que teve. Mas Hank nunca deixaria
de ser fã do Metallica e guardaria a sua camisa velha e surrada por duas
décadas.
Mas
o tempo passou, o enterro da mãe está aí e é hora de Downey Jr pagar os
pecados. Primeiro ele tem que lidar com o pai, o juiz Joseph Palmer (Robert
Duvall) que manda prender e manda soltar em Carlinville. O primeiro contato dos
dois é de uma frieza de fazer urso polar pedir um casaco para vestir. Mas
estamos falando de um filme do gênero redenção plus acerto de contas. Logo o
gelo será quebrado, as arestas serão aparadas, quem os roteiristas Nick Schenk
e Bill Dubuque pensam que enganam? O artifício usado para isso é o bom e velho
golpe da netinha que amolece o coração de qualquer avô. Quando chegar a nossa
hora entenderemos essa relação mágica.
É
como diz Renato Russo: “Você culpa seus pais por tudo/ Isso é absurdo/São
crianças como você”. E assim Hank vai perceber que é preciso amar as pessoas
como se não houvesse amanhã e aceitá-las do jeito que elas são. Mas ele
aprenderá isso da forma mais tensa possível. Terá que defender o pai no
tribunal de uma acusação de assassinato de um velho inimigo da família. O
elemento "fantasmas do passado" sempre surge em filmes assim. Seu
adversário de tribunal será Billy Bob Thornton (o advogado Dwight Dickham), um
cara que também tem um ajuste de contas com Hank. Será um confronto de peso no
tribunal.
Enquanto
isso, Samantha estará lá, linda e pronta para reatar um relacionamento de 20
anos atrás. Realmente esse tal de Downey Jr é bom. Que mulher esperaria 20 anos
por um homem? (Respostas na caixa de comentários, por favor).
Downey Jr é um cara
carismático, Vera Farmiga é belíssima e candidata a musa da corneta 2014 e
filmes de tribunal são quase sempre divertidos, mas "O Juiz" derrapa
na obviedade, nos clichês, enfim, é mais do mesmo e sem muito tempero. Fazendo
o balanço final, o filme ganhará uma nota 6.
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