Ben Affleck faz um discurso |
David
Fincher é um cara difícil de cornetar. Eu diria que ele é uma espécie de
arqui-inimigo da corneta, a kriptonita dos meus comentários moleques, porque
simplesmente ele só faz filme bom. Ok, “Benjamin Button” (2008) é um trabalho
um tanto 6,5, mas, convenhamos, 6,5 é aquela nota baixa em física que o aluno
espetacular da sua sala de aula tira de vez em quando.
Fincher
é daqueles cineastas que já me fez levantar da cadeira no cinema. Falo de
"Clube da luta" (1999) e a jornada errática do seu anti-herói vivido
por Edward Norton. Quem viu sabe o que é estar diante daquele momento em que
você solta um palavrão de felicidade pelo que aconteceu ali na sua frente.
Depois
daquele que é um dos meus filmes favoritos para sempre, Fincher fez uma série
de bons trabalhos. "O quarto do pânico" (2002), “Zodíaco” (2007), “A
rede social” (2010), “Millenium: os homens que não amavam as mulheres”
(2011)... Enfim, é uma filmografia de respeito.
Mas
o que o diretor fez dessa vez é para superar TODAS as expectativas. “Garota
Exemplar” é cinema de altíssima qualidade. É David Fincher subindo o himalaia
para encontrar a corneta com um sorriso sarcástico e dizendo: “Me julgue agora,
idiota”. Maldita kriptonita.
Entre
tantos méritos, um dos mais marcantes de “Garota Exemplar” é fazer o Ben
Affleck ter uma atuação em que podemos elogiar. Ok, eu já tinha gostado dele em
“Amor Pleno” (este filme é magnífico, me julguem), mas o trabalho de Terrence
Malick é, bem, um filme do Malick. Com todas aquelas insanidades que
conhecemos.
Aqui,
Affleck está... eu vou dizer.... (respira).... perfeito. Um trabalho tão bom
que eu prometo para vocês que eu vou observar com o coração aberto o “Batman vs
Superman” daqui a dois anos, quando ele assumirá o papel do homem morcego no
lugar do eterno Christian Bale.
Na
história, Affleck é Nick Dunne, uma espécie de Chico Bento do Missouri que um
dia, numa festa despretensiosa em Nova York, a cidade onde tudo acontece,
conhece Amy (Rosamund Pike, em uma atuação que eu classificaria como soberba).
Amy é aquela mulher cosmopolita, antenada, patricinha, mas cheia de problemas
psicológicos causados pelos pais. Freud explica. Ela é também a tal garota
exemplar do título, a menina real que inspirou um personagem que é fenômeno
literário juvenil. Tipo Harry Potter.
Mas
Nick usa todo o seu charme, vira para ela com o seu meio sorriso e “queixo de
vilão” e diz: “How you doin?”. E a gente sabe desde Friends que todas as
mulheres caem neste papo. Em pouco tempo os dois estavam tomando banho de
açúcar numa cena imprópria para diabéticos. Em menos tempo ainda, era cama, mão
naquilo e aquilo na mão.
O
relacionamento cresce e vira um conto de fadas. Tudo é perfeito. Comemoram
bodas de papel (um ano), algodão (dois), couro (três) e flores (quatro), mas aí
o casamento chega aos cinco anos, as bodas de madeira. Enfim, não há casal de
margarina que passe incólume à crise dos cinco anos. Amy desaparece. E Fincher
começa a nos enlouquecer e nos surpreender a partir da investigação em que até
o marido surge como suspeito de um possível assassinato.
A
corneta para por aqui. Não é possível seguir em frente sem revelar detalhes
importantes da história. O que é possível dizer é que "Garota
exemplar" é daqueles filmes para se ter na prateleira de casa e rever com
freqüência. É um filme que reverbera na mente, e o faz pensar sobre ele mesmo
horas depois de você ter assistido.
Pense
nos detalhes. Fincher constrói a história, molda os cenários com minuciosos
detalhes que dão textura, cor e alma a história. Sujeito sacana. Nada em cada
cena é por acaso. Do corte de cabelo de Amy, passando pela roupa que os
personagens vestem e chegando até o papel dos figurantes na cena. Tudo tem
propósito. E o diretor ainda da simplesmente dois cavalos de pau na história, a
revirando do avesso ao seu bel prazer. E a verdade é manipulada ao sabor da
imprensa.
Ok, Fincher, você
venceu. Não vou temer em chamá-lo de gênio por esse filme e considerar
"Garota exemplar" uma obra-prima. Diante desta perfeição, a corneta
só pode se render e dizer: Parabéns, este é um filme nota 10.
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