Di Caprio e Pitt, dois craques em ação |
Quentin Tarantino já disse algumas
vezes que pretende se aposentar com dez filmes. Se isso for verdade, “Era uma
vez em...Hollywood” (“Once upon a time in... Hollywood", no original) funciona
quase como um compilado do modo de fazer cinema que o diretor mostrou nos seus
oito trabalhos anteriores.
Estão presentes no filme a busca pela vingança, a
manipulação da realidade a partir de fatos verdadeiros, a violência em doses
brutais e secas e, claro, o fetiche pelos pés descalços aqui expostos em doses
cavalares pelo diretor.
Tantas vezes citado e referenciado pelo cinema após o
lançamento de “Pulp Fiction” (1994), Tarantino também resolveu citar a si
próprio em “Era uma vez em Hollywood...”. E foi mergulhando em um de seus
melhores trabalhos, “Bastardos Inglórios” (2009), que ele foi buscar
ferramentas para o seu nono trabalho.
Lá, Tarantino buscava a vingança contra os nazistas.
Mudar a história a partir de um turning point nunca ocorrido. Aqui, a
referência é direta quando o personagem de Leonardo Di Caprio, Ricky Dalton,
surge com um lança-chamas queimando nazistas como também fizera Shoshana em
“Bastardos Inglórios”. Mas também é indireta na própria narrativa construída
pelo filme, sobre a qual não podemos ir adiante sem entrar no campo dos
spoilers.
A ideia de “Era uma vez em Hollywood...” é contar a
história daquele período entre os anos 50 e 70 do cinema americano misturando
figuras reais e fictícias. Aquele era o tempo de filmes de artes marciais de
Bruce Lee, vivido numa cena hilária por Mike Moh, obras de faroeste
americano e dos chamados western spaghetti italianos. Tarantino nunca escondeu
sua admiração por estes filmes a quem faz uma extensa homenagem neste
trabalho, como já fizera em produções anteriores.
Margot Robbie exibe os pès para Tarantino |
Também foi o tempo de um crime terrível que marcou
para sempre Hollywood. O assassinato da atriz e estrela e ascensão Sharon Tate
(vivida por Margot Robbie) em 1969. Então mulher do diretor Roman Polanski, ela foi morta por membros
de uma seita de Charles Manson.
Ambos estão presentes no filme, mas seus reais
protagonistas são dois personagens fictícios inspirados em personagens reais, Dalton, cuja história é levemente inspirada em atores como Burt Reynolds, Clint Eastwood e Steve McQueen, e seu dublê Cliff Booth
(Brad Pitt), cuja história é inspirada no também dublê Hai Needham. Eles conduzem a narrativa do filme de Tarantino desde o início e interferem diretamente
no destino dos personagens.
Di Caprio e Pitt, aliás, estão dando um show à parte
no filme. Os dois estão muito bem e trazem uma veracidade a história que nos
leva a embarcar na reflexão de vingança de Tarantino como se tudo ali fosse
muito biográfico. Pitt está impagável como o dublê bronco do meio-oeste
americano e o mesmo vale para Di Caprio, que constrói muito bem a sua estrela de
filmes e séries de ação de capacidade interpretativa limitada. E é incrível
como quando o seu personagem precisa dar o melhor de si numa interpretação
“shakespeariana” que ele mude completamente o tom quase fanfarrão para o de um
ator muito superior ao que o Dalton seria. Vemos isso muito bem na cena da
gravação do filme em que ele sequestra uma criança.
De um modo geral, “Once upon a time... in Hollywood”
pode até não ser lembrado como um dos melhores filmes de Tarantino, mas é
diversão garantida para aqueles que acompanham há muito tempo e gostam do
trabalho do diretor. Pregando para os já convertidos, Tarantino fez referências
a si mesmo numa obra que tem a marca indelével do seu cinema.
Mas ainda assim não é um filme que rouba um lugar no meu pódio tarantinesco. Meu ranking agora ficou assim:
1. “Bastardos Inglórios” (2009)
2. “Pulp Fiction” (1994)
3. “Cães de aluguel” (1992)
4. “Kill Bill” (2003-2004)
5. “Os oito odiados” (2015)
6. “Era uma vez em...Hollywood” (2019)
7. “Django Livre” (2012)
8. “À prova da morte” (2007)
9. "Jackie Brown” (1997)
Cotação da Corneta: Nota 7,5.
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