Parker passeando por prédios europeus |
Grandes poderes trazem grandes
responsabilidades. O lema que acompanha o Homem-Aranha desde a sua origem foi
ampliado como nunca antes nesta segunda aventura do herói dentro do Universo
Cinematográfico da Marvel. E “Homem-Aranha: longe de casa” (Spider-man: Far
from home, no original), que encerra a fase 3 e dá pistas sobre os próximos
rumos da Marvel em seus futuros lançamentos, mostra um Peter Parker (Tom
Holland, ainda mais à vontade no papel e comprovando sua escolha certeira após
a controversa fase Andrew Garfield) sendo obrigado a lidar com todo um
turbilhão de emoções nas duas vidas que leva enquanto se depara com novos
desafios após os eventos vistos em “Vingadores: Ultimato” (2019).
O filme de Jon Watts gira em torno
de três ideias: ilusão, luto e amadurecimento. Ideias estas que são
desenvolvidas numa aventura leve, divertida e que tem a cara do Homem-Aranha
praticamente desde a sua criação nos quadrinhos.
O luto era uma condição natural,
uma vez que ainda estaria naturalmente muito presente neste filme a morte do
Homem de Ferro. Tony Stark era uma figura paterna para Peter Parker - ideia
esta que eu nunca engoli muito bem, mas foi a forma que a Marvel encontrou para
inserir o herói no seu universo e acabou funcionando - e era natural que Parker
tivesse que lidar com esse buraco, essa ausência daquela figura que sempre
apostou muito nele e teve uma presença muito forte em sua vida.
Com o luto veio ainda a
responsabilidade. A Marvel deixa claro no filme que, pelo menos neste momento,
Parker e o Homem-Aranha são o novo Homem de Ferro. Se não na liderança, que
acredito que venha a ser tomada por nomes como Pantera Negra e Capitã Marvel,
ao menos no carisma e na obsessão pelo conhecimento científico-tecnológico Parker
está ali para ocupar o vazio deixado por Tony Stark. E são muitas as cenas em
que ele demonstra desenvoltura e encanto ao lidar com as tecnologias e o
orçamento generoso deixado por Tony para Peter como herança. Pelo visto,
dificilmente veremos aquele Parker dos quadrinhos pobre e contando moedinhas de
dólar vendendo as próprias fotos para o Clarín Diário para se manter.
Mas lidar com essa
responsabilidade e o luto ainda é muito doloroso para o personagem, que não se
vê preparado para o desafio. Nem o quer. Mas acaba sendo cobrado por isso num
mundo onde não existem mais os Vingadores.
É onde entra o segundo tema do
filme, o amadurecimento. Se desde o princípio, quando se vê diante dos seus
poderes, Parker quer mostrar que é capaz de grandes feitos, a ressaca
pós-batalha contra Thanos mostra um garoto que, neste momento, quer apenas ser
um... garoto normal. Parker quer viajar pela Europa com seus amigos, tentar
conquistar a garota que ele ama e viver as experiências que ele não teve a
chance de viver por causa de suas habilidades.
O problema é que ser o
Homem-Aranha é um trabalho full time e nunca se sabe quando os problemas podem
surgir. Ainda mais quando se tem o Nick Fury (Samuel L. Jackson) no seu pé o
tempo todo.
Parker sabe que tem um dom e descobre
da pior forma que nunca poderá ser um garoto normal. De certa forma, o lema do
Tio Ben está implicitamente presente neste amadurecimento do herói. Ele tem um
grande poder, proporcional à sua responsabilidade.
Entender isso, corrigir os erros e
aprender com eles é tudo o que Parker faz ao longo do filme. E assim ele
cresce, amadurece e o personagem vai moldando o seu caráter enquanto busca
viver as experiências de um garoto que tem um crush pela Mary Jane (Zendaya).
Parênteses: não vou mais implicar com a Zendaya porque ela não se parece com a
Mary Jane porque ela se mostrou ótima neste filme e entendo que ela ainda
passará por muitas transformações.
Parker deu muita trela para o Mysterio |
E onde entra a ilusão nisso tudo?
A ilusão é o elemento de ação do filme. É onde há o entretenimento mais
explícito, afinal não podemos esquecer que é um filme de super-heróis e um
blockbuster.
Um dos desafios do filme era
inserir o Mysterio (Jake Gyllenhall), conhecidíssimo personagem dos fãs dos
quadrinhos, de uma forma que pudesse surpreender também quem sabe de suas
origens e poderes. Para evitar spoilers, podemos dizer que os truques usados
foram perfeitos. E de quebra a Marvel fez todo um jogo de ilusões que perpassam
o filme que vão para além da presença do Myaterio e culminam com uma cena extra
absolutamente surpreendente.
Mysterio, aliás, é uma das
questões sobre as quais Peter tem de lidar. Com o personagem, Peter aprende que
nem todos são como Tony Stark. Nem todos os adultos poderosos lhe serão uma
figura paterna e ele precisa entender que tem que deixar a inocência de lado
para sobreviver e cuidar da segurança dos seus amigos.
Donde vem a questão sobre o futuro
do MCU. O filme dá pistas sobre os
próximos passos, embora elas não pareçam ser muito conclusivas. A tão comentada
teoria do multiverso é falada, mas ainda não sabemos se ela é ou não
verdadeira. Ok, nos quadrinhos o multiverso existe, mas isso não esta claro
ainda no cinema. Se o multiverso está finalmente inserido e se o estalo de
Thanos provocou estragos provavelmente são coisas que ficarão para outros
filmes do universo.
Mas a cena extra do final revela
uma expansão ambiciosa da Marvel e ainda nos deixa com aquela cara de quem foi
pego de surpresa por um truque do Mysterio.
Como ponto positivo extra gostei
muito da presença de J.K.Simmons mantido como J.J. Jameson, personagem que ele
faz desde o primeiro “Homem-Aranha” (2002). Me pareceu uma boa medida para
conectar está nova fase do herói aos filmes do Sam Raimi. Filmes estes - e falo
apenas dos dois primeiros, pois o terceiro é muito ruim - que se aliam a “Longe
de Casa” e à animação “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2017) como os melhores
filmes do Homem-Aranha.
RANKING:
Se eu tivesse que fazer hoje o meu
spider-ranking, ele assim ficaria:
1. “Homem-Aranha
no Aranhaverso” (2018)
2. “Homem-Aranha:
Longe de casa” (2019)
3. “Homem-Aranha
2” (2004)
4. “Homem-Aranha”
(2002)
5. “O
espetacular Homem-Aranha 2: a ameaça de Electro” (2014)
6. “O
espetacular Homem-Aranha” (2012)
7. “Homem-Aranha:
de volta ao lar” (2017)
8. “Homem-Aranha
3” (2007)
Cotação da Corneta: nota 8.
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