Chalamet e Carell,dois destaques do filme |
Talvez por vir de
uma carreira mais sólida em filmes de comédia e até por preconceito com o
gênero, poucas vezes percebemos o quão bom ator é Steve Carell. Suas escolhas
recentes, porém, só servem para reforçar o talento do “Virgem de 40 anos” (2005) também como ator dramático. “Foxcatcher: uma história que chocou o mundo”
(2014) e principalmente “A grande aposta” (2015) já exibiam a sua
versatilidade. E quando ele mergulhou em dramas como “A melhor escolha” (2017) e
o mais recente “Querido menino” (2018), Carell justificou ainda mais as
escolhas feitas por diferentes diretores pelo seu trabalho.
Há algumas
semelhanças entre estes dois filmes mais recentes. “A melhor escolha” é a
história de um pai que perde o filho na guerra do Iraque e só quer enterrá-lo enquanto
vive o seu luto ao lado dos amigos companheiros da guerra do Vietnã. “Querido
menino” é a história de um pai, uma família, mas muito centrada neste pai, que
lida com o vício de drogas do seu filho mais velho. Em ambos o trabalho Carell é preciso, tocante e com a segurança de veteranos experientes atores dramáticos.
O seu David Sheff é um dos pontos fortes de “Querido menino”. O outro é o
trabalho do seu colega de cena Timotheé Chalamet. Com apenas 23 anos, o ator
vem se consolidando como um forte nome no cinema com atuações cada vez
melhores. Chalamet já havia chamado a atenção no drama “Me chame pelo seu nome”
(2017), quando fazia o jovem Elio, que se apaixonava por um escritor americano,
seu primeiro amor. Em “Querido menino”, ele traz a carga dramática necessária à
história de Nic e não cai no exagero dos devaneios de loucura pelo uso de
drogas tão frequentes em filmes que reportam esse tipo de problema.
A dor de Nic é
absurdamente palpável. O seu desespero por sair dela também. A depressão
entremeada por momentos de falsa alegria, pois sabia-se o quanto Nic sofria por
dentro, estão vivas nos olhos de Chalamet.
“Querido menino” é
um filme duro de ver. Uma história real sobre uma família que tinha tudo para
ser perfeita e é dragada pelo problema das drogas. Em especial o uso de
metanfetamina. Mas ao mesmo tempo é de uma beleza ímpar, ou talvez difícil de
descrever por mostrar essa força da relação entre pai e filho. Uma força quase
inquebrantável até mesmo quando David vê a necessidade de sair de cena para se
recompor. E quão belo é o trabalho de Carell ao carregar todas essas nuances
consigo.
E neste ponto é
preciso falar de outra questão fundamental na construção desta história: a
edição do filme de Felix van Groeningen, o mesmo diretor de “Alabama Monroe”
(2012). A ideia de construir uma história fragmentária com pedaços do passado e
do presente misturando-se era arriscada, poderia causar confusão, mas ficou
muito bem feita. Nela, íamos entendendo aos poucos aquela relação de amor entre
pai e filho, a forma como Nic mergulhou nas drogas, se afastou do pai, os erros de cada um, as suas idas e vindas, o
fundo do poço... Uma estrutura não linear que trouxe ao filme momentos de pura
poesia.
“Querido menino”
fala de um tema muito sério, a dependência química, mas sem cair em falsos
moralismos. Por outro lado, é também um filme sobre a força do amor. O
amor de um pai pelo filho, de uma família toda por esse filho e sobre não
desistir jamais. Mesmo quando tudo parece perdido. E ainda tem uma excelente trilha
sonora.
Cotação
da Corneta: nota 8,5.
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