segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Aquele conto de fadas bonitinho e cafona

Solta a voz, Lady Gaga
“Nasce uma estrela” é um conto de fadas. Um conto de fadas um pouco mais moderno e com um final bem mais interessante que os tradicionais, mas uma história que não difere muito das Cinderelas da vida. 

Como todo conto de fadas, é cafona. É brega. E remete ao choro fácil e às lágrimas programadas para saírem em determinados pontos do filme para trazer ao espectador a sensação de emoção, encantamento e aperto no coração. 

Tudo tem seu valor, mas se você não cai no conto de fadas, não tem muito o que tirar do filme a não ser considerá-lo bonitinho. Afinal, é bonitinho ver uma história de superação e amor entre dois jovens bonitos e talentosos, mas cada um com seus problemas e frustrações não resolvidos na terapia. 

De um lado temos Jackson Maine vivido com talento por um Bradley Cooper emulando Jeff Bridges em “Coração Louco” (2009). Maine é um cantor famoso que tem sérios problemas com bebida, herança do pai alcoólatra que morreu quando ele tinha 13 anos. 

Do outro temos Ally vivida por uma Lady Gaga que tem um desempenho satisfatório como atriz. Ally é uma aspirante a cantora com um talento raro, mas sempre rejeitada pela indústria por sua aparência assimétrica.

Quando estas duas almas se cruzam num bar de drag queens, um encontro improvável não fosse o vício de Maine pelo álcool, há um estalo, um riscar de fósforo que aproximará dois talentos ímpares que vão se complementar e se reerguer cada um à sua maneira. 

Maine traz luz à carreira de Ally, a lança para a multidão, enquanto ele mesmo mergulha profundamente nas trevas do álcool num processo que parece irreversível. A trajetória dos dois é de opostos, ascendente e descendente, que se cruzam no momento mais feliz do casal, mas criam atritos quando ambos seguem caminhos opostos. Ally, cada vez mais uma estrela pop, Maine cada vez mais um cantor decadente, depressivo e com problemas de audição. 

Mas é um conto de fadas. O amor entre eles é muito forte. Principalmente de Ally, que nunca sente a carreira prejudicada mesmo nos momentos mais embaraçoso dela causados por ele. Tudo o que Ally deseja é fazer por Jack o mesmo que ele fez por ela enquanto ela era uma mera funcionária de restaurante que fazia bicos de cantora em bares de esquina. Assim é o amor. Ainda que nem sempre as coisas possam sair como o sonhado. 

“Nasce uma estrela” é a terceira refilmagem da versão originalmente lançada em 1937 e estrelada por Janet Gaynor e Fredric March. A diferença para o filme original é o cenário. Lá, era a indústria do cinema, aqui, a da música. Mas o enredo é o mesmo. 

O filme atual tem boas canções e, no mínimo, deve receber indicações ao Oscar para as categorias musicais. A presença de Lady Gaga cantando na tela dá um peso ainda maior, uma vez que não é uma atriz se esforçando para cantar, mas alguém cujo talento nessa arte é mais do que reconhecido. São as cenas em que, naturalmente, ela mais está à vontade. Ainda que aquele olhar inocente de quem não está entendendo o que se passa na vida, mas está se esforçando para atuar tenha funcionado muito bem para o papel dela. No cômputo geral, Gaga vai bem. 

Como tem vários elementos que o Oscar adora como história de superação, drama, amor e tragédia, não me surpreenderia se “Nasce uma estrela” também ganhar algumas indicações ao Oscar em outras categorias. Contudo, é um filme que não vai além do bonitinho bem feito. 

Cotação da Corneta: nota 7

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