Solta a voz, Lady Gaga |
“Nasce uma estrela” é um conto de fadas. Um conto
de fadas um pouco mais moderno e com um final bem mais interessante que os
tradicionais, mas uma história que não difere muito das Cinderelas da
vida.
Como todo conto de fadas, é cafona. É brega. E
remete ao choro fácil e às lágrimas programadas para saírem em determinados
pontos do filme para trazer ao espectador a sensação de emoção, encantamento e aperto no coração.
Tudo tem seu valor, mas se você não cai no conto de
fadas, não tem muito o que tirar do filme a não ser considerá-lo bonitinho.
Afinal, é bonitinho ver uma história de superação e amor entre dois jovens
bonitos e talentosos, mas cada um com seus problemas e frustrações não
resolvidos na terapia.
De um lado temos Jackson Maine vivido com talento
por um Bradley Cooper emulando Jeff Bridges em “Coração Louco” (2009). Maine é
um cantor famoso que tem sérios problemas com bebida, herança do pai alcoólatra
que morreu quando ele tinha 13 anos.
Do outro temos Ally vivida por uma Lady Gaga que
tem um desempenho satisfatório como atriz. Ally é uma aspirante a cantora com
um talento raro, mas sempre rejeitada pela indústria por sua aparência
assimétrica.
Quando estas duas almas se cruzam num bar de drag
queens, um encontro improvável não fosse o vício de Maine pelo álcool, há um
estalo, um riscar de fósforo que aproximará dois talentos ímpares que vão se
complementar e se reerguer cada um à sua maneira.
Maine traz luz à carreira de Ally, a lança para a
multidão, enquanto ele mesmo mergulha profundamente nas trevas do álcool num
processo que parece irreversível. A trajetória dos dois é de opostos,
ascendente e descendente, que se cruzam no momento mais feliz do casal, mas
criam atritos quando ambos seguem caminhos opostos. Ally, cada vez mais uma
estrela pop, Maine cada vez mais um cantor decadente, depressivo e com
problemas de audição.
Mas é um conto de fadas. O amor entre eles é muito
forte. Principalmente de Ally, que nunca sente a carreira prejudicada mesmo nos
momentos mais embaraçoso dela causados por ele. Tudo o que Ally deseja é fazer
por Jack o mesmo que ele fez por ela enquanto ela era uma mera funcionária de
restaurante que fazia bicos de cantora em bares de esquina. Assim é o amor.
Ainda que nem sempre as coisas possam sair como o sonhado.
“Nasce uma estrela” é a terceira refilmagem da
versão originalmente lançada em 1937 e estrelada por Janet Gaynor e Fredric
March. A diferença para o filme original é o cenário. Lá, era a indústria do
cinema, aqui, a da música. Mas o enredo é o mesmo.
O filme atual tem boas canções e, no mínimo, deve
receber indicações ao Oscar para as categorias musicais. A presença de Lady
Gaga cantando na tela dá um peso ainda maior, uma vez que não é uma atriz se
esforçando para cantar, mas alguém cujo talento nessa arte é mais do que
reconhecido. São as cenas em que, naturalmente, ela mais está à vontade. Ainda
que aquele olhar inocente de quem não está entendendo o que se passa na vida,
mas está se esforçando para atuar tenha funcionado muito bem para o papel dela. No
cômputo geral, Gaga vai bem.
Como tem vários elementos que o Oscar adora como
história de superação, drama, amor e tragédia, não me surpreenderia se “Nasce
uma estrela” também ganhar algumas indicações ao Oscar em outras categorias.
Contudo, é um filme que não vai além do bonitinho bem feito.
Cotação da Corneta: nota 7.
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