quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Um desperdício de talentos

Só a Arlequina se salva
Eu tenho um grande amor pelos quadrinhos. Exatamente por causa dele, eu iniciei uma cruzada para ver um filme pior do que "Batman vs Superman" para que eu não elegesse o trabalho de Zack Snyder o pior de 2016. Meu esforço foi grande. Até que eu cheguei ao fundo do poço vendo um filme do Roland Emmerich, o novo "Independence Day".

Mas sempre pode piorar. A DC Comics se supera no ato de desperdiçar talentos e histórias. A DC por vezes me lembra o Fluminense daquela fase da Unimed em que saia contratando atacantes e jogadores de nome e nunca montava um time. E nunca era campeão. 

"Esquadrão Suicida" é o Fluminense-Umimed. Porque eles têm Will Smith, que por mais que nos últimos anos tenha feito poucos filmes de qualidade minimamente aceitável, ainda é o Will Smith. Porque tem Viola Davis, uma mulher com duas indicações ao Oscar, quatro ao Globo de Ouro e vencedora do Emmy por seu trabalho na série “How to get away with murder” (2014). Porque tem Jared Leto, vencedor de um Oscar por “Clube de compras Dallas” (2013) e com e um talento capaz de se metamorfosear que me lembra o Johnny Depp dos bons tempos. E porque tem uma estrela em ascensão, Margot Robbie. 

Mas não existe time sem treinador, preparador físico, preparador de goleiros, diretor de futebol. E "Esquadrão Suicida" peca exatamente porque a soma dos talentos não forma uma união coesa (alô galera, já viram "Vingadores" e "Capitão América: Guerra Civil"?). E porque o roteiro é uma aberração digna de..."Batman vs Superman". 

Como pode você ter um Coringa (Jared Leto) na mão e reduzi-lo a mero personagem apaixonado louco para libertar a mulher Arlequina (Margot Robbie) da prisão? É um pecado aproveitar tão mal um dos vilões mais incríveis dos quadrinhos. 

Como pode você ter outros personagens tão importantes como o Capitão Bumerangue (Jay Courtney) ou o Pistoleiro (Smith) e eles serem tão rasos? É preciso talento para destruir tudo isso. 

No fim, a única que se salva é a Arlequina, maravilhosamente louca e com dois parafusos a menos nas mãos de Margot. Ainda que seja meio ridículo chamar o Coringa de pudinzinho. 

"Esquadrão Suicida" começa logo depois dos eventos de "Batman vs Superman". É mais uma tentativa da DC ser a Marvel, mas eles não conseguem. Parafraseando Nietzsche, Superman está morto e quem tem, tem medo. Amanda Walker (Viola Davis) esta paranoica e convencida de que a terceira guerra mundial já começou e será travada entre humanos e meta-humanos. 

Por isso ela se pergunta: e se o próximo Superman for um terrorista querendo matar o presidente americano? Precisamos estar prontos. A ideia dela é juntar uns bad guys e tê-los trabalhando para ela com a promessa de ter a pena reduzida na prisão. O que não é muito vantajoso quando se está condenado à prisão perpétua. 

É óbvio que as coisas não dão certo. Ela resolve lidar com bruxaria, mas não consegue controlar uma versão feminina e assustadora do Voldemort (E para chegar nesse ponto temos justificativas amorosas pífias dignas de um filme do Richard Gere). 

Enfim, o plano dá errado e a partir daí temos dois bruxos de mais de 6 mil anos querendo o quê? O que? Dominar o mundo. (Cantem comigo: o Pink, O Pink e o Cérebro, o Cérebro e o Pink, tchãrãrãrã). 

Aí chegamos ao dilema ético. Temos vilões que tem que bancar os mocinhos contra vilões e no fundo quem é a grande vilã de tudo é a Walker. E os vilões que seriam vilões em qualquer filme do Batman ou do Flash são semi-heróis. 

O Coringa de Leto foi muito mal aproveitado
E o que faz o Coringa no meio disso tudo? Ri. Ri com a mãozinha, ri com seu quartinho decorado com facas, manda zap-zap para a Arlequina combinando um date, e ri fantasiado de ursinho. 

Que desperdício. Depois do excelente Coringa que vimos com Heath Ledger em "Batman - o cavaleiro das trevas" (2008), achei que nada poderia ser mais perfeito. Leto mostrou que sempre há uma nova camada a explorar e o seu Coringa tem potencial. Quem sabe ele possa brilhar no próximo filme do Batman. Pois em "Esquadrão Suicida" ele foi apenas um adolescente louco e apaixonado que não faz absolutamente nada. 

Antes do filme começar, o cinema passou o trailer de "Doutor Estranho". Deu pena. O trailer de um filme da Marvel anda sendo melhor do que um filme inteiro da DC. Quem sabe eles não se recuperam com a "Mulher Maravilha". Pois "Esquadrão Suicida" vai levar uma nota 4.

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