Contemplando Paraty/Marcelo Alves |
A Corneta Travel pegou cinco horas de busão para trazer a vocês o que só
ela viu. Preparamos para ti um post especial sobre Paraty (e eu prometo que
este será o único trocadilho infame deste texto).
Ahh Paraty, a cidade histórica, a terra da Flip... Bem, mas deixemos
para que nosso SAGAZ e observador viajante fale sobre esta cidade em tópicos
absolutamente irrelevantes.
1- Para começo de conversa a rodoviária sabota essa cidade imprimindo
bilhetes com destino a Parati, causando uma crise de consciência e ortografia
no ser humano de primeira viagem. Estarei eu indo para a bela cidade da Costa
Verde vizinha menos famosa de Angra dos Reis ou para um carro da Volkswagen?
Mas basta avistar a placa Welcome to Paraty para sabermos que estamos no lugar
certo.
2- Se você andou pelo cidade durante alguns dias e não torceu o pé, não
caiu e nem mesmo deu uma leve escorregadinha, considere-se vitorioso. Porque é
inevitável andar SAMBANDO pelas ruas tomadas de pedras, pedrinhas e pedronas do
centro histórico.
3- É claro que essa observação só vale para haoles. Os locais LÊEM as
calçadas como o Neo, de "Matrix", em seu estágio mais evoluído. E se
deslocam por elas como ninjas em telhados chineses.
4- Paraty tem muita farmácia. E tem muita sorveteria. Se juntarmos o consumo
de gordura hidrogenada e chocolates com a quantidade de farmácias, pelo
exercício de lógica, diria que a venda de Imosec é um hit.
5- Por falar em farmácias, não sei por que os principais anúncios no
lado de fora das drogarias faziam referências à venda de um genérico do Viagra em promoção.
Será que tem a ver com velhinhos escritores visitando a feira?
6- O centro histórico tem zilhões de casinhas coloniais branquinhas com
detalhes em azul, amarelo, verde e marrom que tentamos admirar enquanto estamos
nos equilibrando nas pedras.
7- Paraty, vocês sabem, é a terra da cachaça. É entrar numa daquelas
lojas e já sentir a vista meio turva com a quantidade de mé envolvido na cena.
Obviamente não experimentei nenhuma, pois se assim fizesse meu jornalismo
malemolente transformar-se-ia em jornalismo gonzo.
8- Mas de comer eu não me furto. Logo, ali pertinho da Tenda dos Autores
tinha um pastel de 30cm que é um escândalo de bom. O de carne com queijo com a
carne moída grudada no queijo como moscas desesperadas em teias de aranha era
tão delicioso que eu lamentei profundamente nunca ter encontrado na vida outro que
tivesse tido a mesma ideia.
Melhor sorvete da cidade/Marcelo Alves |
9- "Finlandês". Esse é O SORVETE de Paraty. Experimentei seis
sabores, entre eles o inédito (na minha boca, é claro), chocolate branco com
brownie. Mas tem muitos outros bons. Ganhou 2,5 estrelinhas do Guia Marcelin
Ice Cream.
10- Restaurantes: ou você é atendido como a rainha Elizabeth no Palácio
de Buckingham ou como Michel Temer numa reunião de petistas. Não tem meio
termo.
11- O orçamento não permitia muitas estripulias (não esqueçam, a Corneta
Travel ainda não tem patrocínio), mas me fizeram ir num tal de tailandês que eu
torci a cara inicialmente como torço a cara para qualquer culinária do antigo
muro de Berlim para lá. Mas o espírito de viajante que gosta de experimentar
tudo o que tem de destaque na área (para cornetar, é claro), foi mais forte. E
não é que eu gostei muito da comida? Inspirado pelos vídeos de heavy metal, pedi um
pad thai. Bonito não era, mas era gostoso.
12- E fechando o bloco comida direi apenas mais cinco palavras: doce de
leite com brigadeiro.
13- Faz frio, bota o casaco. Faz calor, tira o casaco. Faz frio, veste a
calça. Faz calor, coloca a bermuda. O tempo em Paraty nessa época é mais
instável que geminiano com ascendência em Áries.
14- Tem muito cachorro em Paraty (chineses iam amar). Tem muito cavalo
em Paraty (quase fui atropelado por um). Logo, desviar-se da bosta enquanto
você tenta se equilibrar nas pedras é uma arte. Convém estar com o olfato em
dia.
15- As mesas. Não fui o loko das mesas, mas aqui está um resumo do que
vi:
A) Abertura muito bonita com o filme do Walter Carvalho
B) Adriana Calcanhoto lendo um belo texto de Ana Cristina César
C) Silviano Santiago não apareceu
D) Juliana Frank quis aparecer tanto que tirou parte da roupa, se mexeu,
fez gracinhas. Parecia uma adolescente em busca de atenção. Foi irritante e fui
embora quando ela chamou parte da anatomia feminina utilizando um termo chulo
só para dizer que é hetero até essa mesma parte sangrar.
E) Essa mesa, aliás, não funcionou. Foi desconexa, rolou falha de
comunicação. E muita gente foi embora por causa dos momentos deselegantes de
Juliana, que não se portou como uma devida Juliana (toda Juliana que eu conheço
varia entre ser gente boa e maravilhosa).
F) Gregório Duvivier, Tati Bernardi e Ricardo Araújo Pereira, por outro
lado, fizeram um debate muito engraçado. O português roubou a cena com tiradas
inteligentes e espirituosas.
G) Benjamin Moser e Heloísa Buarque de Holanda fizerem um debate de
muita classe traçando paralelos entre Clarice Lispector e Ana Cristina César, a
homenageada da Flip. Foi educativo para um leigo na obra de ambas como eu.
H) Peguei a meia hora final de Arthur Japin falando de Santos Dumont e
lamentei muito não ter visto a mesa na íntegra.
I) Que mulher incrível é Svetlana Alexievitch. A prêmio Nobel de
literatura me fez chorar com seus relatos e sua sensibilidade sobre a guerra. E
me fez comprar dois dos seus livros. Ou seja, vendeu bem o peixe dela. Seria
capaz de ouvi-la por mais dois dias em russo que não cansaria. Foi o momento
mais emocionante dos que vi.
Paraty, uma bela cidade/Marcelo Alves |
16- A Flip, aliás, é realmente um evento incrível. Ver tanta gente
falando sobre o processo criativo, contando histórias... Um aprendizado. Quero
voltar todo ano.
17- O prêmio de melhor trocadilho da cidade vai para a vendedora de
Açaí, cujo estabelecimento se chama "Açaideira". Tum dum tsss. E ela
ainda tem programa de fidelidade: a cada seis açaís, ganhe um de graça. É muito
empreendedorismo deste Brasil.
18- Sorte da viagem: entrar numa igreja no exato instante em que uma
mulher afinava um piano. Daqueles momentos musicais que você guarda.
19- Saldo final:
Voltaria para Paraty? Com certeza. Agora que finalmente abri a porteira
do conhecimento espero voltar muitas vezes em muitas Flips.
Moraria na cidade? Aí acho que não, porque se equilibrar naquelas pedras
do centro histórico cansa demais depois de um tempo. Mas se eu me
acostumasse....
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