Espelho, espelho meu... |
Toda última luta de Rocky Balboa nos filmes é uma metáfora da carreira de Sylvester Stallone. Começa muito bem,
apanha muito nos nove rounds seguintes e depois ressurge das cinzas ao
ouvir aquela trilha sonora, AQUELA TRILHA que funciona como o espinafre para o
Popeye, para virar o jogo nos dois rounds finais e sair vitorioso do ringue gritando AAAAADRIANNNN.
Vejam se não é verdade. Stallone, o
menino Stallone, como diria o Galvão Bueno, tinha apenas 30 anos quando recebeu
duas indicações ao Oscar (melhor ator e roteiro) pelo primeiro Rocky (1976).
Depois disso, amigo, só porrada. “Rocky IV”, o meu favorito, aliás, recebeu
três indicações ao Framboesa de Ouro de 1986 (pior roteiro, diretor e ator).
Stallone ganhou como diretor e ator. “Rocky V” recebeu duas indicações no
Framboesa de 1991 (pior roteiro e ator). E só não teve mais porque o Framboesa
foi criado em 1981, enquanto “Rocky II” é de 1979 e “Rocky III” é de 1982,
logo não deve ter dado tempo deles verem esse filme.
Stallone, aliás, tem nada menos do
que 36 indicações ao Framboesa de Ouro e dez vitórias. Entre elas um prêmio
especial de pior ator do século XX. Um fenômeno.
Mas a vida dá voltas. E em 2015,
Stallone voltou a interpretar o GARANHÃO ITALIANO (o boxe não existe sem seus apelidos) para mostrar ao mundo quem
ele realmente é. O talento que ele esconde no fundo da sua alma. E foi assim que Rocky
Balboa ouviu a sua música, levantou-se do ringue sangrando para dar a volta por
cima e vencer a luta com uma indicação de melhor ator coadjuvante no Oscar. Imaginem
como não será emocionante se Rocky erguer o careca dourado em fevereiro? Obrigado, ACADEMIIIIIIIAAAAAAA.
"Creed" é o retorno de
Stallone a um dos seus dois personagens marcantes (o outro, vocês sabem, é o
Rambo. Depois ele só interpretou variantes disso). Por mais que não tenha o nome de Rocky no título, você apreciará o trabalho de Ryan Coogler com mais DELEITE depois
de um intensivão dos seis filmes do garanhão italiano.
É claro que "Creed" (favor não confundir com aquela bandinha mequetrefe) é muito
legal de qualquer forma. Mas ele será puramente nostálgico para os fãs de
Rocky, que vão se lembrar dos velhos personagens que já seguraram na mão de
Deus e foram (Paulie, Mickey, Adrian), e recordar dezenas de locações já
mostradas nos outros filmes.
Em "Rocky Balboa" (2006), o
ex-campeão mundial se aposenta de vez após uma vitoriosa carreira em que
conquistou três títulos mundiais e participou de épicas lutas, como a contra
Ivan Drago em “Rocky IV”. Os anos se passaram, todos os amigos morreram, assim
como Aaaaaaaadrian, a sua amada esposa, e Rocky foi tocar a vida longe do boxe.
Para isso ele tem um restaurante de comida italiana com direito aquelas toalhas
de mesa características.
Até que um dia um moleque mimado
aparece na sua porta. Vindo de Los Angeles após pedir demissão do seu emprego para sair em busca de novos desafios, ele surge com uma proposta
indecente. Pede para Rocky ser o seu treinador. O garoto trata-se de Adonis "Hollywood" Creed (Michael B. Jordan), filho de Apolo, o DOUTRINADOR, primeiro adversário
de Rocky pelo título mundial lá no fim da década de 70 e amigo pessoal
dele.
Rocky hesita, faz aquele jogo. Estou
velho, não dá mais pra mim. Não quero mais saber de boxe. Mas como negar um
pedido do filho do seu amigo? E aquela vontadezinha de voltar ao mundo do boxe
agora no papel de professor? Sem contar que se ele negasse a ajuda não tinha mais filme.
Rocky topa e cá estamos de volta para
as streets of Philadelphia (laralalara-rá... cantem no ritmo de Bruce
Springsteen) para Adonis entender que para ser um vencedor de verdade é preciso
ter o treinamento roots do nosso herói. E tome de referências aos velhos
filmes. Correr atrás de uma galinha, correr pelas ruas acompanhando um carro,
de volta ao velho ginásio de Mickey... Só faltou mesmo a sequência de socos em
pedaços de carne no frigorífico. Ele deve ter falido com a crise econômica de
2008. E ainda tem a já comentada tradicional e arrepiante trilha sonora no 12º round.
Coogler tirou de Stallone uma das
melhores atuações de sua carreira (acreditem!). Como um Rocky mais velho, um
senhor aposentado que têm saudade dos velhos companheiros que já se foram, ele
ganha novo fôlego na vida com a chegada do "sobrinho". Um estímulo
que o ajuda a lutar contra uma doença e a melancolia causada pela saudade de
Aaaaaaadrian, Paulie e do filho, que não é a Luiza, mas está no Canadá. Pela atuação, Stallone
ganhou o Globo de Ouro e foi indicado ao Oscar 39 anos depois de sua indicação
pelo primeiro Rocky. E foi merecida. Aceita que dói menos.
"Creed" ainda tem como
mérito as boas cenas de luta, algo fundamental quando se trata de um filme
sobre boxe. A única bola fora foi terem colocado dois caras com um cachecol do
Liverpool na luta contra o inglês Ricky Conlan (Tony Bellew), um lutador ligado
ao Everton e em pleno Goodison Park. Isso jamais aconteceria no mundo
real.
O trabalho de Coogler, porém, tem
tudo para iniciar uma nova era na carreira de Rocky até onde Stallone quiser
interpretá-lo (assim esperamos). Agora como treinador, ele tem muito a ensinar ao jovem filho de Apolo.
Enquanto isso, "Creed" vai ganhar da corneta uma nota 7,5.
Indicação ao careca dourado: ator
coadjuvante (Sylvester Stallone).
Nenhum comentário:
Postar um comentário