Arrasou no vestido, amiga |
Casamento
é uma coisa que pode te fazer perder a cabeça. Que o diga Richard Madden, que
perdeu literalmente a sua no Casamento Vermelho de "Game of Thrones".
Mas Madden não desistiu do sagrado matrimônio. Desde que ele seja feito em uma
realidade menos sangrenta e mais lúdica. Por isso, aceitou o convite para viver
o príncipe de "Cinderela". Afinal, sempre se pode dar uma segunda
chance a esta instituição cuja falência já foi decretada por muitos, mas
aparentemente segue firme e forte.
E
Madden é o príncipe mais tradicional possível dos contos de fada. Jovem,
bonito, bondoso, gentil, cavalheiro, justo e apaixonado por uma jovem pela qual
não deveria se apaixonar, pois ela é de baixa renda. E todos querem afastá-la
dele por causa disso. Sempre o velho conflito financeiro. O amor é cego,
amigos. E os opostos se atraem.
E
a Corneta conseguiu enfiar dois clichês no mesmo parágrafo porque no fundo quer
dizer que Cinderela é apenas um filme lindamente tradicional. Começa até com um
"Era uma vez..." É praticamente como se o desenho da Disney fosse
agora filmado com atores e um orçamento generoso. Coisa de US$ 95 milhões. Se é
bom, é outra história. Deixarei para você, caro leitor, decidir por si mesmo,
embora a minha nota esteja no fim deste post.
É
curioso pensar que em meio a releituras pop de contos de fada como os pavorosos
"Branca de neve e o caçador" (2012), "João e Maria: caçadores de
bruxas" (2013) e um mix best of de vários "fairy tales" como
"Caminhos da floresta" (2014), a Disney tenha decidido usar Cinderela
para voltar ao roots.
Pois
em Cinderela não tem pontos fora da curva. A garota faz o que deve fazer, o
príncipe faz o que deve fazer, estão lá todos os ícones do conto de fadas e os
valores de bondade, amor e esperança que norteiam o mundo encantado da Disney.
O máximo que vemos é uma Cinderela com personalidade diante da madrasta e que
sabe o que quer e busca o seu objetivo com firmeza. O príncipe é dela e ninguém
tasca. Afinal, uma mulher totalmente passiva não ia dar para engolir em 2015.
O
filme também gera uma pequena reflexão. Num mundo de heroínas fortes como
Frozen e fora dos padrões de beleza como a Fiona de Shrek, a Cinderela pura,
que leva os valores de coragem e bondade da mãe como bastiões de sua vida,
quase uma santa, ainda cabe? Ainda interessa às crianças uma jovem de um tempo
que não é mais o nosso? A julgar pela quantidade de cópias dubladas nos cinemas
a resposta é sim. Deixemos como reflexão para cada um. Corneta também é
filosofia.
Para
pilotar essa nave encantada a escolha de Kenneth Branagah parece ter caído como
uma luva. Branagah é conhecido por levar para as telas do cinema as adaptações
de William Shakespeare "Henrique V" (1989), "Muito barulho por
nada" (1993), "Hamlet" (1996) e "As you like it" (2006),
além de ter atuado como Iago em "Otelo" (1995). Como não lembrar
daquele Iago, um precursor de Frank Underwood falando conosco durante o filme?
Ou seja, podemos dizer que Kenneth Branagh só não entende mais de Shakespeare
do que a Barbara Heliodora. E se você entende de Shakespeare, entende de
realeza, reis, príncipes e donzelas.
Além
disso, é preciso respeitar quem faz o solilóquio de Hamlet.
Branagah
conduz um filme com o metrônomo ligado. Tudo é inegavelmente perfeitinho em um
trabalho cujo roteiro não exige grandes desafios e os atores não precisam fazer
grande esforço.
A
história é aquela de sempre. A jovem Cinderela vive num mundo maravilhoso e
próspero com os pais e é tratada como uma princesa. Tem poucos amigos humanos,
mas tem uma ligação direta com os animais. É amiga de todos, inclusive dos
ratos. E se comunica com eles. Impressionante como a Disney adora camundongos.
Mas
os seus pais morrem e as dificuldades financeiras surgem. Pior, Cinderela é
tratada como uma empregadinha de quinta categoria pela madrasta e pelas irmãs
postiças barangas. Tudo sem direitos trabalhistas!
Mas
o dia da virada há de chegar, amigos. Não há mal que sempre dure. Basta ter fé
e acreditar na magia. O príncipe dará um grande baile em que escolherá a noiva
para governar o reino ao seu lado. Ninguém ajuda Cinderela. A madrasta
esculacha o seu vestido, o povo de nariz em pé do palácio quer empurrar o
príncipe para uma espanhola de Zaragoza com jeito de dançarina de flamenco é um
pega-rapaz.
Cinderela,
no entanto, não vai se abater. Com a ajuda da fada marinha (Helena Bonham
Carter), surgirá no castelo linda, loura, com um vestido azul celeste e
sapatinhos de cristal que no mundo real custam os olhos da cara. Fala-se em
mais de R$ 14 mil. Mas dizem que eles são muito confortáveis.
Cinderela
manda um beijinho no ombro para as rivais, toma o príncipe para ela e dança,
dança, dança como se não houvesse amanhã. Flerta com o príncipe e vai para o
jardim secreto dele. Em volta do casal, as invejosas morrem de raiva.
Só
que 0h Cinderela precisa vazar. O encanto é como um iogurte: tem prazo de
validade curto. E a carruagem vai virar abóbora. Cinderela corre desembestada
para casa antes que o príncipe a veja vestida sem as roupas de grife e a
maquiagem bem feita.
Todavia,
vocês sabem como são os homens. Diante de uma mulher que se faz de difícil é
que o príncipe corre atrás mesmo. E a partir daí começa a busca incessante
dele. Quem calçar o sapatinho de cristal leva o príncipe e o reino numa
promoção imperdível. Bom, ai todos sabemos que é questão de tempo para
Cinderela e seus ratinhos mudarem de patamar na sociedade e irem para o castelo
do rei, deixando de vez a princesa espanhola no vácuo. E a madrasta. E as irmãs
postiças.
Cinderela não chega a
ser um filme espetacular, mas também não é uma bomba completa. Tem lá o seu
valor e talvez agrade aos fãs de contos de fadas. Da parte da corneta o filme
de Kenneth Branagah vai ganhar uma nota 5,5.
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