domingo, 22 de junho de 2025

O futuro sombrio de Boyle e Garland em “Extermínio: a evolução”

Jamie e Spike tentando sobreviver
Extermínio: A Evolução (28 Years Later — ING, EUA — 2025)

Estrelado por: Jodie Comer (Isla), Aaron Taylor-Johnson (Jamie), Ralph Fiennes (Dr. Kelson), Rocco Haynes (Jovem Jimmy), Alfie Williams (Spike), Amy Cameron (Rosie), Jack O´Connel (Jimmy Crystal).

Roteiro: Alex Garland.

Direção: Danny Boyle

Em tempos de “The Last of Us” (2023-) e “The Walking Dead” (2010–2022) e seus mais diferentes spin-offs, não sei o que motivou o diretor Danny Boyle e o roteirista Alex Garland a revisitarem o mundo de “Extermínio” 23 anos depois de terem lançado o primeiro filme. Mas a julgar por “Extermínio: a evolução”, a dupla ainda tem algo a dizer e refletir sobre o mundo apocalíptico tomado por zumbis.

Quando lançaram “Extermínio” em 2002, Boyle e Garland estabeleceram um novo padrão para a representação dos zumbis. Se em clássicos como “A noite dos Mortos-Vivos” (1968) e “Madrugada dos Mortos” (1978) eles eram vistos como mortos-vivos que andavam lentamente, em “Extermínio” eles passaram a ser rápidos e agressivos, estabelecendo um novo padrão que foi copiado posteriormente em trabalhos como “Guerra Mundial Z” (2013) e “The Last of Us”.

Por estabelecer um novo padrão na representação das criaturas, o primeiro filme virou um clássico. Seu sucesso também pode ser creditado a trama simples: personagens que precisam sobreviver a uma série de ataques enquanto se deslocam de um ponto A para um ponto B. Por trás disso, a velha discussão de que os piores monstros são os humanos e como ao invés de se unirem contra um inimigo comum eles se comportam como… humanos diante de uma adversidade global.

Outro trunfo do primeiro “Extermínio” estava no estilo de filmagem de Boyle. Os primeiros vinte minutos me conquistaram de vez ao estabelecer a história e todas as regras daquele mundo. Tínhamos:

1) Causa — Um vírus da raiva altamente contagioso que passa de macacos a humanos.

2) Forma de contagio — Todo e qualquer contato de fluídos com o sangue humano significa doença imediata e a partir daí são dez segundos para a transformação.

3) Um protagonista confuso — Corte brusco, passaram-se 28 dias e vemos Jim (Cillian Murphy) acordado nu em um hospital. Não sabemos nada dele, ele não sabe nada do que aconteceu e porque está sozinho no hospital.

4) O estilo de filmagem — Boyle passeia do interior do hospital para uma Londres abandonada, causando em nós a mesma sensação de estranheza que causa em Jim. Os espaços amplos amplificam o vazio de uma megalópole sempre cheia como Londres, o corte rápido e um tremendo zoom, provocam o horror e um certo jump scare quando os zumbis atacam. Tudo é muito enxuto, com poucos diálogos. É dito apenas o necessário.

De certa forma, “Extermínio: a evolução” mantém os princípios do primeiro filme. O novo filme se passa 28 anos depois do contágio do paciente zero. Após quase três décadas, não existem mais cidades organizadas na Inglaterra. Aparentemente, temos tribos isoladas em ilhas enquanto os zumbis tomaram o continente. Pelo menos até o momento Boyle não quebrou a regra de que zumbi não sabe nadar.

No centro da história está uma família formada por Jamie (Aaron Taylor-Johnson), Isla (Jodie Cormer) e Spike (Alfie Williams). Jamie quer iniciar o filho de 12 anos no ofício de matar zumbis. Ir até o continente e matar o seu primeiro zumbi é como um rito de passagem daquela tribo de sobreviventes, que agora precisa se defender com arcos e flechas visto que não existe mais uma indústria armamentista na Inglaterra. Jamie sabe que é cedo para Spike, mas ele tem pressa em “torná-lo homem”. Spike, no entanto, está mais preocupado com a mãe, que tem uma doença em estado avançado que não consegue ser tratada por ninguém na ilha e que a faz alternar momentos de lucidez e delírios. Neste momento, não existem mais médicos formados ali.

O problema é que ao expandir as fronteiras do filho, Jamie também atiça a curiosidade de Spike pelo conhecimento e por desbravar novas fronteiras. E ao descobrir que há um médico vivendo sozinho no continente o Dr. Kelson (Ralph Fiennes), ele o vê como o único recurso possível para salvar a sua mãe. E assim está traçada a premissa de “Extermínio: a evolução”. Mais uma vez dois personagens precisam ir de um ponto A para o ponto B para cumprir uma missão e tentar sobreviver no processo.

Se ainda não sabem nadar, os zumbis de Boyle também evoluíram em comparação com o primeiro filme. Agora há zumbis rastejantes, que se alimentam de pequenos insetos e há os temidos alfas, zumbis que ao serem infectados ficam superfortes e são capazes de arrancar a cabeça com a espinha dorsal de um humano normal com as próprias mãos. Eles também resistem a mais do que uma flechada, sendo, assim, extremamente perigosos.

Assim como no primeiro filme, a câmera frenética de Boyle, que nos aproxima do horror, mas também nos brinda com tomadas belíssimas é um dos destaques. Se em “Exterminio”, a visão era de uma Londres ainda de pé, mas isolada e vazia, agora, Boyle filma campos lindamente verdes, flores, a natureza florescendo com a ausência da humanidade, mas marcada por zumbis que podem aparecer a qualquer momento, trazendo horror àquela beleza.

Gosto de como houve uma evolução da história de um filme para o outro e de como Boyle e Garland ampliaram o mundo dos zumbis, o dos humanos e também o entorno do centro do contágio. Como existem planos para que este filme seja o início de uma trilogia e o próprio filme tem um gancho que deixa o futuro em aberto, creio que podemos esperar mais alguns movimentos interessantes de Boyle e Garland no aprofundamento deste mundo de apocalipse zumbi.

Nota 7,5/10.

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