Dirigido por RaMell Ross e adaptado do livro de mesmo nome do escritor Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer na categoria de Ficção em 2020, “Nickel Boys” é também baseado numa terrível e escabrosa história real. A história do reformatório Arthur G. Dozier, que funcionou por 111 anos na Flórida até o seu fechamento em 2011. Suas histórias de abusos físicos, psicológicos e sexuais e assassinatos remontam a 1903, mas somente há pouco mais de dez anos elas começaram a ser contadas, especialmente a partir da descoberta de sepulturas no local e os relatos de abuso de Jerry Cooper, que passou pela instituição em 1961, e cuja história serviu de livre inspiração para o livro de Whitehead. Entre tantos abusos que sofreu e presenciou, Cooper viu um jovem correr até morrer durante um treinamento de um time de futebol americano no local (A história real do reformatório pode ser lida neste link).
Para “Nickel Boys”, Whitehead e, consequentemente, Ross, mudou um pouco a história, trazendo um protagonista negro, acrescentando uma camada extra sobre a discussão do racismo. No entanto, o filme exibe com alguma fidelidade, mas sem uma exploração da violência gráfica, todos os principais abusos cometidos pela escola por parte de seus funcionários.
“Nickel Boys” é de embrulhar o estômago e fazer qualquer um perder a fé no sistema e na humanidade. O filme é muito feliz em exibir os contrastes da realidade estadunidense. De um lado, Luther King lutando pelos direitos civis dos negros nos grandes debates que são refletidos pela televisão, do outro a realidade invisível de um micro espaço na Flórida onde as violações de direitos humanos caminham lado a lado com a impunidade, mostrando que o caminho para um sonho de igualdade é muito mais duro e complexo do que o que chama a atenção e é exibido pela TV.
De um lado vemos a evolução humana a todo vapor, com direito a viagens para fora da órbita da Terra que, culminariam com o pouso do homem na Lua em 1969. Do outro, a barbárie com tons medievais acontecendo nesta mesma nação que voava para o espaço.
De um lado o sonho e uma dose de euforia, do outro, a falta de esperança e de fé que fazem Turner (Brandon Wilson) dizer para Elwood a frase que resume o pesadelo da escola Nickel: “Só há quatro formas de sair de Nickel: morrer, fugir, atingir a idade limite ou cumprir a pena”. Não há justiça, só resignação.
Um dos pontos mais interessantes do filme é sua perspectiva em primeira pessoa. A câmera se alterna entre Elwood e Turner e nós só vemos o que eles veem. Nós também só vivenciamos o que eles vivenciam e seus pontos de vista e olhares.
No início é estranho olhar pelos olhos de Elwood e Turner. Mas com o passar do tempo é possível se adaptar e esta perspectiva torna a narrativa mais angustiante pelo que não se vê, pois nunca temos a perspectiva do todo no cenário, o que normalmente temos em filmes.
Em resumo, “Nickel Boys” é um filme duro, mas dos mais interessantes que estão concorrendo ao Oscar deste ano.
Nota 7,5/10
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