As Ilhas Botinas, uma das belezas de Ilha Grande/Marcelo Alves |
A Corneta
Travel and Adventures, divisão de viagens e aventuras da Corneta Enterprises,
aproveitou o desemprego que insiste em marcar presença para IMISCUIR-SE em mais
um lugar deste Brasil em busca de observações malemolentes e verdades
irrelevantes. A vítima da vez é Ilha Grande, está ilha que faria fronteira com
Angra dos Reis se não fosse uma ilha, é claro. E aqui está o que só eu vi.
1- Ilha Grande é conhecida por alguns de seus
moradores como o PENICO de São Pedro. Diz a lenda que é pelo seu tempo peculiar.
Chove quando dá na telha, faz sol quando dá na telha. Fica nublado quando dá na
telha. É uma ilha de personalidade própria e com alma de adolescente, que acha
que só faz o que está a fim de fazer. Logo, não segue a lógica climática do
continente. Seja ele Angra dos Reis e o Rio de Janeiro ou São Paulo, que fica
ali pertinho.
2- Portanto, antes da previsão do tempo do
IPhone, seus moradores confiam numa coisa mais rústica para saber como será o
dia. Trata-se do BURACO DA VELHA. Vem a ser uma cavidade no alto de uma
montanha, à esquerda do BICO DO PAPAGAIO, de onde sopram os ventos do mar
aberto, que eu chamarei de sopro de Poseidon. Se ali, o céu estiver azul, será
um dia de sol. Se vierem de lá nuvens ameaçadoras, esquece. Fica no seu quarto
e pega o Banco Imobiliário para jogar porque vai chover e você não terá mais
nada o que fazer por lá.
3- Vila do Abraão é a, digamos, capital de
Ilha Grande. Tem 5 mil habitantes, pouquíssimas ruas asfaltadas e tantos
restaurantes quanto firmas que organizam passeios de barco. Esse, aliás, é o
grande negócio da ilha, a sua locomotiva econômica. Mas tome cuidado com
picaretas.
4- A Vila do Abraão, aliás, não tem esse nome
por uma questão bíblica. Diz o Novo Testamento, leia-se a Wikipédia, que seu
nome tem origem no português arcaico em que a expressão "abra"
significava "enseada". Logo o nome faria referência à grande enseada
que nos recebe quando chegamos de barco.
A bela Lagoa Azul de Ilha Grande/Marcelo Alves |
5- Eu não vi um único banco durante a
caminhada por Abraão. Como os ilha-grandenses fazem seus negócios? Só cartão de
crédito? Guardam dinheiro embaixo do colchão? Viajam até Angra só para fazer um
saque no caixa eletrônico? Não perguntei. Às vezes, a dúvida no ar é mais
interessante para a narrativa do que a resposta precisa.
6- Também não vi McDonald's e Lojas
Americanas, o que prova que a ilha conserva suas características singulares e
não cai na mesmice sócio-econômica.
7- Ilha Grande é ecológica. Lá, carros não são
permitidos. Os meios de transporte são a caminhada e os táxi boats.
8- Que preços surreais, amigos. Qualquer
almocinho despretensioso na ilha, qualquer café da manhã um pouco mais
elaborado fazem-no ser obrigado a vender um rim para comer.
9- São muitas praias. Logo, é impossível
conhecer tudo assim em tão pouco tempo. Mas destaquemos as Ilhas Cataguases, as
Ilhas Botinas, a Lagoa Verde e a Praia do Iguaçu, que realmente foi uma das
mais agradáveis desta curta viagem e onde eu tenho muita vontade de voltar.
10- Já a Praia do Dentista foi um tratamento
de canal na alma. É bem bonita, mas muito depressiva com a grande quantidade de
iates e lanchas de ricaços. Tipo, eu não tenho sunga para frequentar essa
praia. Claramente foi a área de maior PIB dessa jornada.
11- Todo lugar do mundo parece ter uma Lagoa
Azul. Só eu já nadei numas três, o que já é mais do que a Brooke Shields. Ilha
Grande também tem a sua. Mas o azul só deve aparecer com uma luminosidade bem
específica. Eu vi é muito verde. Bom, mas naquela antiga polêmica do vestido eu
só via branco e dourado. Vai ver o problema é meu.
A linda Praia do Iguaçu e seu pôr do sol/Marcelo Alves |
12- Toda viagem que se preza precisa de uma
descoberta ou um aprendizado ou uma experiência diferente. Nesta jornada por
Ilha Grande eu descobri uma coisa circense, malabaristica e extremamente
plástica chamada ACROYOGA. Fui até convidado a experimentar uma pose e, após
hesitar, senti-me encorajado pelo espírito aquariano da transposição de
barreiras para aceitar o desafio. Resultado? Sobrevivi para contar essa
história e dizer que estou fascinado por esse cirque du soleil meditativo.
13- Tanto que fui pesquisar mais sobre o
assunto e descobri que alguns recomendam a pratica da yoga na sua versão acro
depois de seis meses de pratica da yoga tradicional, a, digamos, yoga
papai-mamãe. Só que ao viver a minha primeira experiência empírica eu parti
logo para essa yoga subversiva e desbravadora. Isso deve configurar algum tipo
de genialidade. Eu só não sei qual.
14- Um feito dessa viagem foi ter circulado
por Angra dos Reis e Ilha Grande sem ter visto nenhum ricaço famoso. Nada de
Luciano Huck, nada de Sérgio Cabral (por motivos óbvios), nada de Neymar (por
motivos ainda mais óbvios). Mas eu vi o casarão e o enorme terreno de um famoso
e histórico empresário do ramo de jogos de azar que era coisa do outro mundo.
Dinheiro não compra felicidade, mas deixa a vida bem jeitosinha.
15- Eu posso não ter visto celebridades, mas
vi muitas daquelas mulheres que figuram na área laranja de um famoso site
brasileiro. Eu achava que elas não existiam. Mas elas existem, são de carne e
osso e fazem mesmo aquelas fotos com o bumbum empinadinho em primeiro plano na
paisagem paradisíaca. Consigo até imaginar as postagens com a hashtag #gratidão.
16- Em menor escala, mas também com seu
destaque, avistamos também os espécimes machos da área laranja de um famoso
site brasileiro. São os tipos fisiculturista que adoram fazer pose quase
beijando os próprios músculos. Estudar a humanidade realmente é fascinante.
17- E já que estamos falando de biologia,
outra grande descoberta dessa viagem foi que o mar é lindo, mas é um grande
plagiador. Não tem nenhuma originalidade. Pois nele há crustáceos que são
chamados de baratas e peixes que são chamados de cães. Sendo que estes nomes já
foram dados para insetos e mamíferos, respectivamente. Enfim, cadê o
batismo-arte? O batismo-moleque? O mar fica só nesse batismo de resultados.
A beleza do mar nas Ilhas Cataguazes/Marcelo Alves |
18- O meu fim de semana foi bom, mas acho que
nada supera o fim de semana da festa de arromba "Antônia faz 8.0 e Keite
faz 2.7" que agitou algum ponto da ilha. Eu só vi a grande massa, tipo um
quinto da torcida do Flamengo, embarcando para Ilha Grande usando abadás e
provavelmente carregando muita carne de churrasco, coxinhas, quibes e
empolgação para este evento épico ao qual infelizmente não fui convidado. Tenho
certeza que a festa foi maravilhosa.
19- O que combina com sol, praia e mar?
Música, é claro. E a noite nos brindou com uma moça carismática cantando
descalça feito uma Joss Stone ilha-grandense acompanhada pelo violão de um músico
que tinha um quê de Richard Gere. Foi uma night de muitos covers e agradável.
Até que surgiu um cara que é uma celebridade na ilha cantando um reggae que
repetia a frase "Qual é o preço da liberdade?" com uma série de
onomatopeias. Por que, Brasil? Por que o reggae não parou no Bob Marley?
20- Cotação da Corneta:
Voltaria para Ilha Grande? Com certeza. Eu tenho tara por Ilhas e a ilha é...
grande. Ainda há muito a explorar entre praias e trilhas que gerariam até uma
Corneta 2.
Moraria em Ilha Grande? Não. A menos que eu tenha um salário nababesco para me
sustentar por lá.
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