Aula de dança de salão no castelo da Fera |
Todo mundo sabe que a
Hermione Granger devia ter ficado com o Harry Potter. Até a J. K. Rowling sabe.
Mas por um erro terrível da escritora, isso não aconteceu e ela ficou com o
inútil do Rony. O lado bom dessa experiência é que ela deu o EXPERTISE necessário
para a Emma Watson se meter em outra roubada: ser obrigada a se apaixonar por
um cruzamento genético-mágico de um búfalo com um leão e um lobo que fala.
Não fosse por seus
minutos finais, "A Bela e a Fera" seria a maior história de zoofilia
amorosa da humanidade (e do, digamos, mundo animal). Mas como o bicho se
transforma em homem no final (fala sério né, não existe spoiler de uma história
que já foi filmada pelo menos cinco vezes). Mas como eu dizia, como ele se
transforma em homem no final, a história acaba sendo convencional e nenhum
pastor famoso poderia implicar com ela. Então, esse famoso pastor resolveu
implicar com um personagem gay. Se aquilo, aquelas cenas absolutamente normais
o incomodam, imagina se ele estivesse vendo "24 horas: Legacy", onde
o principal agente e um dos principais analistas de sistemas da CTU formam um
casal em crise e discutindo a relação em meio a atentados terroristas. Ele ia
pirar.
A mitologia de "A
Bela e a Fera" remonta ao século XVIII, quando Gabrielle-Suzanne Barbot,
também conhecida como a dama de Villeneuve, escreveu o conto original dessa
historinha de amor. Nos anos 40, um filme francês estrelado por Josette Day
(então a Bela) e Jean Marais (então a Fera), foi produzido, mas o cinema ainda
era uma arte muito jovem e ninguém que você conhece viu essa versão. Foi quando
a Disney pegou a história, modificou, adaptou, simplificou, pasteurizou e a
tornou mais palatável em um meloso desenho animado dos anos 90 que "A Bela
e a Fera" ganhou corações e mentes pelo mundo.
Mas um novo século
nasceu. Era hora da Disney faturar um qualquer com uma nova versão dessa
história. Dessa vez com atores. Dessa vez no chamado "live action".
Mas o que dizer de "A Bela e a Fera" versão 2017? É melhor que o
desenho? É. Pelo menos parece um pouquinho menos brega. É um bom filme? Hummmm,
é adocicado demais. O filme tem mais açúcar que sorvete de doce de leite com
beijinho de coco. Enfim, não é recomendado para diabéticos. Além disso, é
bobinho né. Esse papo lúdico da Disney não se sustenta nesse mundo selvagem em
que vivemos onde não se pode confiar mais nem na carne que comemos.
"A Bela e a
Fera" é um musical. Logo, cada ida à feira é um acontecimento cantado e
dançado. Nunca vou me acostumar com isso. Mas é desse jeito que conhecemos a
Bela (Emma Watson), jovem inteligente e ávida leitora de romances que vive no
pacato vilarejo de Villeneuve onde, basicamente, nenhum homem presta. Naquela
época, não havia Tinder, então ninguém podia se oferecer para um date sabendo
previamente que o match estava garantido. Eram tempos de romance raiz. Não era
como os encontros nutella de hoje. Então o que Gaston (Luke Evans) fez? Chegou
junto da Bela cantando e dançando numa roupa cheia de babados e falando:
"Bela, how you doing? Quer se casar comigo? Eu sou o melhor partido do
vilarejo e só quero você. Só você que me fascina. Só você, que me alucina. Só
você que me faz delirar, com o seu jeito de amar".
Bela não se deixou
seduzir pelo latin lover Gaston. O problema é que, além dele ser grosseiro,
machista (mas que tem até um amigo gay) e sem noção, a Bela não se sentia
atraída por aquilo. Sabe como é. Ela é demisexual. Ela precisa de um
envolvimento emocional, conhecer antes a pessoa para gostar dela.
O tempo vai passando,
Bela fica somente com seus livros sem o menor medo de ficar para a titia (aunty
em francês de Villeneuve) e virar uma mendiga. Ela quer mais é ganhar o mundo e
sair viajando por aí (claramente uma aquariana).
Mas um dia, seu pai
fica preso num castelo mal assombrado onde só é inverno e tem lobos selvagens
na floresta. E ainda é habitado por um monstro terrível de chifres enormes.
Quase Winterfell. Bela não aceita e troca de lugar com o pai. Promete ficar lá
presa para sempre pelo amor ao pai.
A partir daí o filme
adota o seu lado "Fica comigo", com um relógio (Ian McKellen) e um
candelabro (Ewan McGregor) fazendo as vezes de Fernanda Lima. A Fera (Dan
Stevens) precisa conquistar a Bela para quebrar o feitiço de uma bruxa e todos
voltarem a ser humanos como em tempos passados. Mas a Fera não tem muito tato
né. Não vê uma mulher há tanto tempo.
Mas com a ajuda de
seus empregados acessórios e mobílias a coisa começa a fluir. E todas aquelas
fases do amor no cinema (blergh!!) vão acontecendo. A rejeição, a briga, uma
certa afeição... E quando a Fera resolve abrir a sua biblioteca enorme e
emprestar seus livros para a Bela rola uma palpitação no coração da jovem.
Lembremos que ela é uma leitora voraz. Apesar do péssimo gosto de achar que
"Romeu e Julieta" é a melhor obra de Shakespeare. Miga, não é nem uma
das dez melhores.
Na tentativa de
conquistar a Bela, a Fera faz até o que todo homem rico faria para conquistar
uma mulher. Vai com ela para Paris, é claro. Já naquele tempo, a capital
francesa encantava as moças de todos os vilarejos. Mesmo sendo mais suja e com
mais ratos do que hoje em dia. Mas ele se esforçou. Vamos na Notre Dame, fazer
compras na Champs-Èlysee, blá-blá-blá.
Bela já estava
caidinha pela Fera, pelo seu jeito doce e arredio, pela sua forma incomum de
jantar sem talheres. O golpe final acontece no baile de duas pessoas, quando
ela, em seu vestido amarelo La La Land, dança com ele e suas roupas cheias de
babadinhos (era uma tendência naquela época).
A essa altura do
filme, eles já estão praticamente apaixonados e a gente já está cansado de
tanta música e tanto açúcar e tomado por um profundo TÉDIO. Meu deus! Vai
acontecer alguma coisa minimamente relevante? Cheio de trabalhador ali e
ninguém vai subir na mesa e gritar contra a reforma da previdência?
Não. Nada acontecerá
além da mensagem da Disney de que o amor supera todas as barreiras e vence no
final (argh!).
"A Bela e a
Fera" é até bem feitinho. A Emma Watson até canta satisfatoriamente e o
Luke Evans está caricato como a sua versão desenho animado de 91. Mas,
convenhamos, não merece tanto cartaz assim. Tem uns momentos que são
absolutamente chatos, beirando o insuportável e outros cheios de fru-frus e
guti-gutis e um jeitinho sonhador com os olhinhos virando que dá vontade de
sair correndo da sala. E as músicas são chatas demais. Gente, as canções de
"La La Land" ainda estão vivas na memória. Não dá para estrear outro
musical assim tão perto. Mas até que a experiência foi melhor do que eu
imaginava. O filme ganhará da Corneta uma nota 5.
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