Cámara e Darín, um show à parte |
Está previsto na Convenção de
Genebra. Todo filme com Ricardo Darín nos créditos deve ser visto. Afinal, você
conhece algum filme com o ator argentino que seja ruim? Ok, tem "Amorosa Soledad" (2008), mas nesse
filme a participação dele dura 15 segundos. Se você é daqueles que tiram
cochilo em algum ponto da película pode até perder sua única cena.
Como eu dizia neste exercício de
lógica cinematográfica, todo filme com Ricardo Darín é bom. Logo,
"Truman" é bom.
Dirigido por Cesc Gay, a
película conta a história de um ator argentino famoso na Espanha que desiste de
continuar o tratamento contra um câncer no pulmão porque a sua morte é
inevitável. Logo, ela pretende terminar a vida com alguma dignidade.
Antes disso, porém, Julián precisa
cuidar de alguns trâmites legais. Preparar o enterro e como ele será (enterro
tradicional ou cremação?), se despedir do filho que estuda na Holanda e, a sua
grande preocupação, arrumar um novo dono para Truman, o seu cachorro.
Enquanto tudo isso se desenrola, ele
recebe a visita de Tomás (Javier Cámara, excelente também), um amigo do peito, irmão camarada a quem ele
explora financeiramente durante todo o filme. Pobre Tomás, bancou quatro dias de
"Curtindo a vida adoidado" para Julián e pagando em euro. Ele deve
ganhar bem no Canadá.
Pensando bem, que indivíduo não faria
isso para o seu melhor amigo? Não olhem para mim, eu sou jornalista e nem ganho
em euro ou dólar.
"Truman" poderia ser bem
melancólico, afinal trata-se de um filme que fala sobre a morte e de um homem
que decide abertamente por uma espécie de eutanásia quando está totalmente
consciente e até bastante saudável na medida do possível. Mas o que o roteiro
de Tomas Aragay e Cesc Gay nos exibe é uma série de sequências de bom humor, algumas cenas de humor
negro, e um equilíbrio entre o difícil momento de lidar com a morte, as
inevitáveis reminiscências do passado e um trabalho de aceitar o que virá pela
frente.
Se Julián está resignado com seu destino e tenta lidar bem com isso, seus amigos Tomás e Paula (Dolores Fonzi), precisam aceitar o
desejo dele. Não é fácil, nunca é, mas Gay consegue construir a trama com
delicadeza e refinamento para uma história difícil de entreter.
As risadas no cinema mesmo diante de
situações duras, as excelentes tiradas de um Darín com aquela cara de cachorro
morto no fim da linha e cercadas de ironia e o próprio olhar cúmplice do amigo
que sofre por dentro, mas aceita o destino traçado por Julián, são o ponto alto
de um filme que mesmo quando se coloca em situações difíceis na história,
consegue se sair bem.
Gay apresenta em
"Truman" um humor refinado e sarcástico digno de um bom Woody Allen.
E não deixa espaço para o dragão Piegas agir. Seu trabalho diverte, entretém e,
por isso, ganhará uma nota 7,5.
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