Marco Ricca brilha como Chatô |
"Chatô" levou vinte anos para ser
feito. Foi mais tempo que o "Chinese Democracy", do Guns N'Roses. Foi
mais tempo do que "Boyhood" (2014), de Richard Linklater, que ao
contrário dos exemplos anteriores, propositalmente levou 12 anos para ser
finalizado. Foi tanto tempo que dois atores do filme morreram e aparecem nos
créditos como "in memorian".
Quando "Chatô" começou a
ser feito, o presidente era Fernando Henrique Cardoso, o Real era uma moeda
novíssima e o Fluminense nunca tinha sido rebaixado. Naquela época, ainda
existia a Iugoslávia (ainda que só Sérvia e Montenegro fizessem parte dela), enquanto
iniciávamos nossas conversas no ICQ com a pergunta "quer teclar?".
Ah, as madrugadas que passávamos em claro para pagar mais barato pela internet.
Nenhuma saudade. Era um outro mundo de um filme que começou a ser produzido em
um século e terminou em outro.
Diante disso, a Corneta esperava que
este filme fosse uma daquelas bombas históricas. Mas era uma obrigação moral
ver. Eu ouvi o resultado final do "Chinese Democracy". Tinha que ver como
"Chatô" nasceu.
Polêmicas e processos à parte,
recadinhos diretos no fim também, "Chatô" decepciona mais pelo
personagem em si do que propriamente o filme. Vivido de forma LISÉRGICA por
Marco Ricca, Assis Chateaubriand parece um jagunço sem limites, que se acha
dono do Brasil (quiçá do mundo) extremamente poderoso, desbocado, misógino (em
tempos de #meuamigosecreto ele ia apanhar em pau de arara da mulherada),
canalha, entre outras possíveis alcunhas que fariam esse texto ter 4.533.745
parágrafos.
Mas Chatô também era um louco até
certo ponto visionário que comandou um jornal importante na história do Hell de
Janeiro, o Diários Associados, e fundou a TV Tupi do zero. Tudo teve relativo
sucesso, tudo não existe mais. Pois a mesma ousadia e porra-louquíce que fez
Chateaubriand levantar o seu império de comunicação, ajudou a fazer tudo
definhar em dívidas. Pelo menos é o que o filme passa.
O filme de Guilherme Fontes por vezes
parece um episódio dos “Trapalhões”. Tem momentos de comédia exagerada padrão Zorra
Total. Tudo ali é exagero, tudo é expansivo e às vezes caricato. E a Corneta
acha que não funcionou muito bem.
Por outro lado, a ideia de contar a
história de Chatô através de um ensaio quase onírico com um julgamento de sua
vida e sua figura tão controversa num show de TV semelhante ao do Chacrinha
ficou muito interessante. Pode causar estranhamento em alguns. Outros poderiam
achar o filme doido. Eu mesmo demorei a aceitar esta versão pouco ortodoxa da
cinebiografia, mas ao fim achei uma boa sacada do Guilherme Fontes. Estrelinha
para ele.
Outro ponto positivo de “Chatô” é a
atuação de Ricca como o personagem principal. Apesar de todos os excessos do
personagem, ele é o que melhor encarna o seu papel em um filme cheio de ótimos
e conhecidos atores com performances, por vezes, abaixo do esperado. O Getúlio
Vargas de Paulo Betti talvez seja o maior ponto fora da curva. Prefiro muito
mais a versão do Tony Ramos em "Getúlio" (2014).
Perto do que se esperava (um filme
sem pé nem cabeça com uma história montada de qualquer jeito) até que
"Chatô" se saiu melhor do que a encomenda. Mas está longe de ser um
filmaço, mesmo sendo lançado numa época cheio de filmes brasileiros meia-boca e
comédias blergh. Diante de seus pares, Chatô até se sobressai. Mas na análise
da Corneta o filme ganhará uma nota 6.
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