Esse cara não sente calor? |
Vejam
como é a vida. Num dia, você está por cima da carne seca, faz um filme sobre um
tema sério e ganha um Oscar por ele. No outro, você faz um blockbuster pop
medieval em que interpreta um dragão de cabelos vermelhos esvoaçantes como
aqueles de propaganda de shampoo. Foi isso que aconteceu com Julianne Moore,
que no mês passado ganhou uma estatueta pelo seu trabalho como uma mulher que
sofre do Mal de Alzheimer em "Para sempre Alice", que a corneta
recomenda fortemente, e agora chega aos cinemas ao mesmo tempo, e talvez para
pegar uma rebarba de "Para sempre Alice" com este "O sétimo
filho".
Bom,
tanto Julianne Moore quanto Jeff Bridges, que faz o herói do filme, devem ter
se divertido fazendo isso. Bridges então, aproveitou sobras de interpretação de
"Coração Louco" (2009), que lhe deu um Oscar de ator, e “Bravura
Indômita” (2010), aquele ótimo faroeste, para compor um cara divertido. E é
preciso ser honesto. Os dois deram alguma dignidade ao trabalho do russo Sergey
Bodrov. E “alguma dignidade” é o único elogio que eu posso fazer.
“O
sétimo filho” é um filme B para quem anda com saudades de “Game of Thrones”
(volta dia 12 de abril!). Afinal, ele tem cavaleiros, heróis, se passa numa era
medieval e tem... dragões! Mas a comparação para nesta superficialidade,
afinal, ninguém no filme chega perto da saga dos Stark contra os Lannister.
O
filme conta a história do tatatatatatatatatatata (acrescente mais 200 tatas)
tataravô do doutor Peter Venkman, personagem de Bill Murray em "Os
Caça-fantasmas" (1984). Jeff Bridges faz o mestre Gregory, um cavaleiro
caçador de bruxas, antigos espíritos do mal de forma decadente e Mumm-Ras em
geral. Sua missão é simples e direta como um álbum do Metallica: "Kill’Em
All".
Gregory
é o último remanescente de uma ordem de cavaleiros lendários fãs do Iron
Maiden. Você só podia entrar no clubinho se fosse o sétimo filho do sétimo
filho. Vocês podem imaginar como era difícil encontrar jovens para se alistarem
nesse exército para combater as forças do além. Certamente foi no período dessa
galera que houve uma explosão demográfica na Idade Média.
O
que o filme não diz, mas podemos tomar como verdade é que essa ordem de
caçadores de bruxa foi extinta porque naturalmente quase ninguém mais tem sete
filhos. Custa muito caro. Pois bruxas continuam existindo. Perguntem só o que
muitas pessoas acham de suas sogras (perdendo leitoras que são sogras em
5...4..3..2...)
Bom,
há muito tempo, Gregory prendeu uma bruxa sinistra num calabouço distante e
pensou tê-la deixado apodrecendo. Mas os anos se passaram e veio a grande lua
cheia de sangue, que, segundo as lendas antigas, libera todos os demônios
internos e fortalece os dragões. Pronto, Mãe Malkin (Julianne Moore) se
libertou dos grilhões, saiu da sarjeta, levantou, sacudiu a poeira e deu a
volta por cima, voltando com sede de vingança.
Malkin
é poderosa, sedutora, lê mentes e redecora a sua casa num balançar de mãos.
Sabendo de tudo isso, Gregory evita o contato direto com os seus olhos, pois
Malkin pode te deixar paralisado como se você estivesse diante da Medusa. Mas a
brincadeira está só começando.
A
bruxa-dragão fica a cada dia mais forte, mas ela só ficará invencível quando a
lua de sangue chegar ao estágio lua cheia. Ai é que Malkin ficará com um super
borogodó invencível e poderá, adivinhem, dominar todos os reinos do mundo
conhecido. Gregory sabe disso e não perde tempo: vai atrás de um seventh son of
a seventh son (leiam como se cantassem com o Bruce Dickinson) para ser seu
aprendiz e ajudar a matar a bruxa má.
É
aqui que o filme desanda e ganha a sua porção "Crepúsculo". Estava
tudo indo tão bem com o bom e velho "bem" contra o “mal”, mas o jovem
Tom (Ben Barnes) tem que encontrar uma jovem bruxinha, Alice (Alicia Vikander),
e os dois têm que se apaixonar. Aff, tem horas que o romance só atrapalha.
(Perdendo leitores e leitoras românticas em 5...4...3..2..)
Ai
é aquilo que já sabemos. O garoto faz juras de amor para ela, juntos na cama
diz que a ama e quer construir uma vida de casal de classe média americano com
casinha e filhos, canta “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó... Ela responde
soltando aqueles olhares do tipo “te quiero” e suspirando de paixão. Por fim,
os dois prometem viver felizes para sempre, embora saibam que não podem se
misturar. São como Montecchios e Capuletos numa tragédia shakespeariana. Enfim,
podíamos ter cortado uns 15 minutos de filme aqui, pois sabemos que ele tem um
destino a cumprir. Está no roteiro.
Resolvido
parcialmente o problema, Gregory e Tom vão para a batalha. Do outro lado,
Malkin está reunindo o seu exército de bruxos e fantasmas sinistros. Tem o
guerreiro que se transforma em dragão Radu (Djimon Hounson, que desde que foi
indicado ao Oscar de coadjuvante por “Diamante de Sangue” faz mais personagens
secundários que cabeça de área dá passe para o lado), Urag (Jason Scott Lee),
que vira urso, Sarikin (Kandyse McClure), que vira uma onça, Virahadra (Zahf
Paroo), um cara de quatro braços que tem o nome parecido com o de um personagem
da mitologia hindu (não me peçam para explicar), e Strix (Luc Roderique), uma
entidade maligna com língua de serpente.
Tal
qual um videogame que você vai avançando de fase, nossos heróis vão passando
por todos eles. Até que... Bem, uma hora Gregory e Malkin estariam novamente
frente a frente para um acerto de contas né? Para saber o que acontece, só
vendo o filme. Não vou ficar aqui dando spoiler.
Confesso que "O
sétimo filho" podia ser pior. Mas está longe de ser a última bola de
chocolate da sorveteria. As participações de Julianne Moore e Jeff Bridges dão
alguma graça ao filme, mas os dois jovens têm tanta expressão quanto uma porta
bege. Mas "O sétimo filho" pode agradar quem curte filmes do gênero,
mesmo que óbvios. Entre bruxinhas boas e más, guerreiros e dragões, a corneta
dará ao filme uma nota 5.
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