Matheus brilhando como Joãosinho Trinta |
Se
a corneta tivesse poderes celestiais, fosse uma espécie de Chico Xavier da
galhofa, tentaria entrar em contato com Tim Maia, Cazuza e Renato Russo só para
fazer uma pergunta. E ai? Viram o filme do seu colega Joãosinho Trinta? Queriam
um igual né? Diante da provocação, Tim Maia provavelmente soltaria uma série de
impropérios contra a corneta, que encerraria a comunicação antes que eles me
matassem na Matrix do plano superior.
Tudo
isso é porque "Trinta", a cinebiografia sobre o famoso carnavalesco
Joãosinho Trinta (Matheus Nachtergale), nove vezes campeão do carnaval carioca,
é beeeem superior ao filme dos seus coleguinhas artistas. Acho que ver este
filme pode dar aquela vontade nos fãs dos músicos citados acima de torcerem por
um novo trabalho, uma segunda chance para os três no cinema.
"Trinta"
mostra como todo carnavalesco é um pouco MacGyver. Se o velho herói do seriado
“Profissão Perigo” transformava um chiclete, um arame enferrujado e um isqueiro
em bomba atômica, o carnavalesco consegue dar sentido a um enredo que começa
nas lendas do Maranhão (e não estamos falando sobre uma famosa família local) e
passa pela corte francesa. Bom, quem curte carnaval acha que tudo tem uma
lógica e quem sou eu para contestar? O importante é fazer com que na quarta-feira
de cinzas todos ouçam DEZ, NOTA DEZ!
Ao
contrário dos filmes dos seus colegas famosos, o diretor Paulo Machline,
acertou em um ponto que faz “Trinta” ser melhor: não tentou abraçar o mundo.
Ele partiu de uma premissa do próprio carnavalesco, que no filme diz que “menos
é mais”. Se na cena em questão, isso vira uma desculpa para uma personagem
exibir, digamos, todo o seu esplendor, em “Trinta” é uma bola dentro que dá
foco à história e a deixa mais coesa e amarrada.
O
ponto fundamental aqui é o momento em que Joãosinho inicia a sua carreira solo
substituindo Fernando Pamplona no Salgueiro. Ali, enquanto prepara o desfile “O
rei de França na ilha da assombração”, em 1974, ele tem que lidar com a
desconfiança da comunidade de que seria capaz de tocar um carnaval inteiro numa
escola grande. Seu enciumado antagonista é o chefe do barracão Tião (o sempre
ótimo Milhem Cortaz), que queria o emprego para ele e, diante da negativa de
Germano (Ernani Moraes), o poderoso chefão da escola, faz de tudo para derrubar
Joãosinho.
O
carnavalesco, no entanto, consegue dobrar Tião e seu parceiro de barracão,
Calça Larga (Fabricio Boliveira), outrora conhecido como João de Santo Cristo
naquele filme “Faroeste Caboclo” (2013), baseado na música da Legião Urbana e
que preferimos esquecer.
Enquanto
isso, vamos acompanhando pílulas da vida de Joãosinho. De como o bailarino João
Jorge veio do Maranhão para dançar no Theatro Municipal e acabou se
transformando naquele que viria a ser um dos personagens mais importantes do
carnaval carioca. Tudo com muito luxo e riqueza, afinal, quem gosta de miséria
é intelectual. Ainda bem que a corneta é do povo.
Poderia dizer que
dentre as cinebiografias recentes sobre personagens brasileiros, “Trinta”
mostra ser a mais competente. Mas isso é papo de intelectual. Na linguagem da
corneta, diria que Machline sambou na cara da sociedade. E por isso, o seu
filme vai ganhar uma nota 7.
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