Katniss sobre salvar o mundo: Tudo eu |
Katniss
Everdeen (Jennifer Lawrence), “the girl on fire”, terminou "Jogos vorazes:
Em chamas" (2013) botando para quebrar, quebrando a banca e mostrando que
o Tordo é sinistro e o Distrito 12 é o que há. Se você não lembra o que ela
fez, corre lá para rever o filme. Um ano depois, o que todos os seus fãs que
não leram os livros de Suzanne Collins esperavam que ela fizesse? Ora, que
reunisse um exército e fizesse um barulho na Capital. Revolution, baby, como já
cantou o The Cult. Mas... Katniss se transformou numa garota lamuriosa, uma
garota "ai, meu Deus, onde está o meu amado", the boring girl, a
garota que chora demais! É too much para a corneta.
"Jogos
vorazes - a esperança parte 1" (bom, a minha esperança é que melhore no
segundo), pode ser dividido basicamente em dois temas.
1)
É uma grande campanha política de fazer inveja aos marqueteiros dos dois
partidos que andaram se digladiando até há pouco tempo no Brasil. Realmente o
Ministério Público de Panem devia investigar de onde veio tanto dinheiro para
patrocinar isso. Na Capital, com certeza rola caixa 2 e enriquecimento ilícito
dos seus principais dirigentes. Não dá para confiar naquela cara de sonso do
Donald Sutherland, vulgo presidente Snow. Cá entre nós, o único Snow que eu
confio é o Jon de “Game of Thrones”. Mas se ali na Capital rola uma grande
lavanderia, no distrito 13 também não me parece que seus governantes sejam
tomados pela pureza da alma. A questão é que nunca antes na história de Panem
se fez uma campanha política tão forte como a que vimos na primeira parte do
terceiro filme.
2)
É uma INSUPORTÁVEL história de amor adolescente com Katniss se equilibrando
entre o jovem Gale (Liam Hemsworth), que a ama louca e incondicionalmente (que
bonitinho né), e o fracote e peso morto do Peeta Mellark (Josh Hutcherson).
Francamente, Katniss, ao invés de ficar sofrendo, talvez seja melhor você
tentar alguém de outro dosha, como Vata ou Kapha. Dá uma estudada no Ayurveda.
Os indianos eram sábios.
Dito
isso, vamos começar a DESCONSTRUIR este novo “Jogos Vorazes”, onde a esperança
não venceu o medo.
O
filme se passa algum tempo depois daquela flechada que Katniss deu que abalou
as estruturas do governo e aparentemente causou o fim do seu Big Brother
sanguinolento. Quando todos imaginavam que a coisa ia ficar feia para a Capital
e seria o início da reação dos rebeldes, a presidente Alma Coin (Julianne
Moore), espécie de Bernie Ecclstone do distrito 13, e Plutarch Heavensbee
(Philip Seymour Hoffman, a quem o filme é dedicado) resolvem fazer... MARKETING,
campanha política, botar o bloco na rua.
A
ideia seria conclamar os rebeldes em todos os distritos a lutarem pelo Tordo.
Ou seja, Katniss seria transformada num cruzamento de Che Guevara com Martin
Luther King. Se possível com um charme estilo Jacqueline Kennedy. A marca do
Tordo seria espalhada pelo planeta a ponto de virarem produtos de merchandising
(se rolassem uns brinquedos seria ótimo). Ai, bem, vocês sabem como isso
funciona. Ficou lá o governo da Capital acusando a candidata de oposição de ser
manipulada, mudar de posição ao sabor do vento, de ter posições radicais,
campanha negativa, essas coisas. Enquanto isso, a oposição fazia campanhas
criativas, dramáticas e que tentassem tocar o coração da população. Sem falar
na repaginada no visual, nas promessas de campanha e visitas a lugares pobres
como hospitais precários do distrito 8.
Os
rebeldes têm até jingle. Não é tão bom quanto o do Eymael, é claro, mas
Jennifer Lawrence se saiu tão bem no “The Voice” de Panem que a música que ela
cantou, “The hanging tree”, chegou ao topo das paradas. Essa menina merece. É
talentosa e já mostrava qualidade desde “Inverno da Alma” (2010).
Mas
o problema é que apesar do trabalho dos marqueteiros, o mundo não vive uma
democracia. Isso é um conceito arcaico que o distrito 13 aparentemente quer
retomar numa política vintage. Ou seja, fica difícil engolir o marketing (e,
convenhamos, a ideia não funciona direito) quando só pela força e derrubando a
Capital é que as coisas podem ter alguma solução. Quero crer que algo maligno
ou verdadeiramente interessante acontecerá no capítulo final dessa saga. Não
ler o livro tem lá suas vantagens (mas não façam isso sempre. Ler é sempre
melhor).
Aí
chegamos na parte melodramática de “Jogos Vorazes”. Katniss não é uma candidata
muito disciplinada. Ela tem (ou tinha) fogo no olhar. Mas o amor transforma as
pessoas em malas. Ao menos para quem não está no meio de um. Então Katniss se
transforma na chorona que fica gritando Peeeeetaaaa! Peeeetaaaa! o TEMPO
INTEIRO. Se eu soubesse que seria assim, teria contado para dar um número
preciso aos nobres leitores, mas me arriscaria a dizer que foram pelo menos 15
vezes gritando Peeeeetaaaa! Quem aguenta isso? Não foi para isso que você fazia
Shakespeare quando era mais jovem, Jennifer.
No
início da série, nossa heroína era apaixonada pelo Gale, mas é forçada a fingir
um romance com Peeta dentro da lógica do show business para atrair audiência. O
tempo passou, ela começou a lançar um olhar menos enviesado para aquele jovem
frágil e agora quem está sobrando na pista é o coitado do Gale. Realmente não é
fácil ser o irmão menos popular do Thor. O Loki que o diga. Ah, você não sabia
que Liam era irmão de Chris Hemsworth? Liga não. O Woody Harrelson gravou
quatro filmes com ele e também não sabia.
Gale
ainda demonstra espírito esportivo e altruísmo em meio a dor de cotovelo e até
arrisca a própria vida por Katniss. Enquanto isso, ela fica ali no meio do fogo
cruzado sentimental. E o que acontece quando uma heroína vive essa situação?
Toma decisões erradas. É um tal de sugerir concessões bizarras para o
presidente Snow, seguir direções equivocadas, todo o possível para comprometer
a missão. Katniss parece a Carrie, de “Homeland”. Cega pelo seu Brody e só
fazendo besteira. É preciso dar umas dicas para ela, mas como confiar em alguém
se o seu guarda-costas é um lobista sem escrúpulos na Washington de “House of
Cards”?
Assim,
a franquia “Jogos Vorazes” nos coloca num impasse. Encerrará com chave de ouro
e passará de ano ou será apenas mais uma história adolescente sem graça estilo
“Crepúsculo”? Por enquanto estamos assim:
1)
“Jogos Vorazes” (2012) – Razoável para bom. Um filme nota 6,5.
2)
“Jogos Vorazes: Em Chamas” (2013) – Um filme bem bom. Talvez para um 8.
3)
“Jogos Vorazes: A esperança – parte 1” – Decepcionante diante da expectativa.
Vamos
ver o que o último capítulo nos reservará.
Ok, hora da média
final. A história política não cola e é uma chatice o triângulo amoroso
Katniss-Peeta-Gale. Mas o fim do filme dá uma compensada e deixa uma
expectativa para dias melhores em novembro de 2015, quando estreia a segunda
parte. E por mais que a corneta esteja aqui solapando o trabalho de Francis
Lawrence, é preciso levar em conta que os fãs não saíram do cinema fazendo
muxoxo. Ainda que eu também não tenha visto expressões do tipo: “Cara, tipo
muuuito f...”. Deixemos, portanto, o novo Jogos Vorazes com uma nota 5. Mas,
por favor, nada mais de Peeeetaaaa!!! no último filme, Jennifer.
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