Depois de um período de hibernação causado pela Copa
Mundo, the corneta is back! Precisava de um grande filme para o meu
retorno em grande estilo. Escolhi um dos maiores em cartaz, com 2h14min de duração.
E ao mesmo tempo um filme de um ídolo. O bom e velho Clint "go ahead, make
my day" Eastwood.
Clint estava devendo desde que andou fazendo uns filmes
aí meio decepcionantes. Tal de “J. Edgar” (2011) e “Além da vida” (2010), fora
aquele “Curvas da vida” (2012) em que ele só atuou, que não andaram agradando a
corneta. E eu diria que "Jersey Boys" é bem agradável, apesar da sua
alta média de falsetes por minuto gravado. Impressionante. Parecia que a cada
momento alguém sairia do banheiro para cantar Aaaaaahhhhh!! ou Ouuuuiiiiiii!
"Jersey Boys" conta a história de quatro
rapazes de... bem... Nova Jersey. Eles eram uma espécie de pré-Bon Jovi ali
pelas décadas de 50 e 60. Cantavam como aqueles grupos vocais que existiam
antes do rock and roll dominar o mundo e tinham coreografias que certamente
influenciariam Madonna duas décadas depois. O nome do grupo era o Four
Seasons. Nada a ver com Vivaldi.
Naqueles tempos difíceis pós-guerras, pós-depressão,
enfim, pós-tudo de ruim que aconteceu na primeira metade do século passado, só
se saia de Nova Jersey se você fosse para o exército, da máfia ou fizesse
sucesso. Tommy DeVito (Vincent Piazza) deixou claro logo no início do filme que
os rapazes ali faziam parte de dois grupos ao mesmo tempo. Eram da máfia e bons
músicos.
Hoje o Four Seasons não é muito conhecido, mas eles eram
os reis da cocada preta do seu tempo e donos de todas as canções que suas avós
cantarolam até hoje. Entre elas, "Can't take my eyes off you" (1967),
que já foi algumas vezes regravada e você já ouviu em algum casamento na vida.
É uma típica música brega de casamento.
Dono de outra cinebiografia musical, a do músico Charlie
Parker ("Bird", de 1988), Clint não inventou a roda neste filme. Pelo
que eu li, pegou um musical da Broadway e filmou usando, inclusive, o mesmo
ator principal, John Lloyd Young, que faz o cantor Frankie Valli. Como a
corneta tem sérias restrições orçamentarias não teve a oportunidade de voltar
no tempo e ir a Nova York conferir o que é melhor. Então apenas informo o que
andei lendo.
Mas como eu dizia, Clint não inventou a roda no seu
filme. É o típico trabalho que conta a ascensão e queda de um grupo musical
entremeada por muitas canções. A diferença em relação a outras cinebiografias é
o espírito "House of Cards" do filme, com os protagonistas vindo
bater papo com você a todo instante. Não chega a ser maneiro como o Kevin
Spacey, mas valeu a intenção.
E vamos acompanhando todos os altos e baixos do grupo até
o momento fofo redentor (volta e meia ele aparece). Este momento foi a introdução do
Four Seasons no Rock and Roll Hall of Fame em 1990. Foi quando o grupo se apresentou pela primeira vez junto
depois de mais de 20 anos afastado.
O Rock and Roll Hall of Fame costuma ter esse espírito
conciliador. Bom, não deu certo com o Guns N'Roses. Nem com o Kiss, cujos
membros originais até fizeram um discurso, porém não tocaram juntos. Mas ele
costuma agir como anjo conciliador.
E é desta cena final que sai um dos melhores momentos do
filme, no melhor espírito zuera. Desculpem, eu preciso contar esse spoiler,
pois é necessário zoar uma amiga minha. Se você não quiser saber, pule o
próximo parágrafo.
Quando o baixista Nick faz um balanço da vida e dá os
seus motivos para ter saído abruptamente do grupo, ele deixa claro que não
estava mais a fim de turnês e de ficar longe da família. E que usara todo o
resto, todas as chateações que vivia, como desculpa. Foi quando ele soltou a
melhor frase do filme: "E, convenhamos, num grupo de quatro caras, se você
é o Ringo deve cair fora". Autocrítica perfeita. Clint Eastwood,
ídolo!
"Jersey Boys" não é o melhor filme do velho
Clint, mas não sejamos malas. É uma boa diversão para um dia frio em que você
está com aquela vontade de ver um filme agradável, despretensioso e com cara de
“Sessão da Tarde”. E ele cumpre estes requisitos. Como tudo saiu bem feito e como
tem uma ótima piada no fim, a corneta dará uma nota 7. E encerremos o post
com um hit dos old times. "Can't take my eyes off you" na voz de Frankie Valli. Eu até queria colocar um vídeo do ano passado aqui, mas Valli, hoje com 80 anos, não consegue mais atingir todas as notas.
Ficha técnica: Jersey Boys: em busca da música (Jersey Boys –
2014 – Estados Unidos) – Vincent Piazza (Tommy DeVito), John Lloyd Young
(Frankie Valli), Steve Schirripa (Vito), Christopher Walken (Gyp DeCarlo),
Johnny Cannizaro (Nick DeVito), Michael Lomenda (Nick Massi), Erich Bergen (Bob
Gaudio), Mike Doyle (Bob Crewe). Escrito por Marshall Brickman e Rick
Elice. Dirigido por Clint Eastwood.
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