Duelo de titãs |
Vamos precisar refazer o ranking de
melhores filmes de super-herói porque a África chegou chegando para abalar as
estruturas e, principalmente, as certezas, da Marvel. “Pantera Negra” tem tudo
o que um bom filme de super-herói deve ter e não tem tudo o que não
aguentávamos mais ver nos filmes da Marvel.
São tantos acertos que vamos enumerar
alguns deles no textão a partir de agora:
1- Foi de chorar de emoção toda a
caracterização de Wakanda, o mítico país africano de onde vem o rei T’Challa
(Chadwick Boseman). Eu não poderia imaginar algo mais perfeito do que o
trabalho feito na criação do país rico em vibranium, o tal metal mais poderoso
da terra, e altamente desenvolvido.
2- Eu li uma entrevista do Ryan
Coogler, diretor do filme e do ótimo “Creed” (2015), diga-se de passagem, dizendo que
ao trabalhar nessa produção, queria mergulhar nas raízes e tradições africanas,
entender e refletir sobre o que é ser africano e pensar no que a África poderia
ser se suas riquezas não tivessem sido saqueadas por impérios coloniais. Não
tenho todo o conhecimento necessário para dizer se ele acertou em cheio, mas a
Wakanda que ele nos presenteia é uma nação rica, de alto desenvolvimento
tecnológico e vasto conhecimento científico partilhado por todos, com homens e
mulheres vivendo em condições iguais e que ao mesmo tempo não foge das suas
tradições tribais, das suas cores, dos seus cantos e que exibe uma exuberância
da natureza só encontrada num continente como a África. Tudo sem aquela cara de
“olha que coisa exótica” para o homem branco olhar encantado como diante de uma
experiência antropológica. É apenas e tão somente cultura.
3- Wakanda é uma sociedade idílica?
Talvez. Mas essa é uma obra dos quadrinhos. Contudo, por que seus ideais não
seriam possíveis?
4- Outro acerto maravilhoso está no
elenco recheado de bons atores negros que estão se destacando no momento.
Chadwick Boseman é um excelente Pantera Negra. Daniel Kaluuya, protagonista de
“Corra!” (2017), também está bem como o líder tribal W’Kabi. E ainda tem a Lupita Nyong’o
como a Nakia, namorada de T’Challa, e Michael B. Jordan no papel clássico do
vilão que quer espalhar o caos pelo mundo (eles sempre querem dominar ou levar
caos ao mundo).
5- Mas de todos, a minha personagem
favorita é a general Okoye (Danai Gurira). Ela faz o braço-direito do Pantera
Negra, é a líder do Exército de Wakanda, e maneja uma lança de fazer inveja aos
melhores guerreiros. Torci muito para Okoye não morrer no filme. Principalmente
quando achei que isso estava perto de acontecer.
6- “Pantera Negra” também é bom por
dialogar com uma série de questões da atualidade. Tem menções ao Boko Haram,
fala de refugiados, fala sobre o papel e que tipo de protagonismo uma nação
rica e próspera deve ter no mundo. Fala sobre o roubo de riquezas e apropriação
da cultura e sobre igualdade (ou a busca de uma igualdade de gênero, de raça).
Tudo dentro do entretenimento porque isso aqui não é caridade. É para fazer
dinheiro.
6- Com o filme, e um filme tão bem
feito, a Marvel também paga uma dívida de ter um personagem negro como
protagonista de algo. Convenhamos, a série do Luke Cage é um pouco caída.
Faltava um personagem bom num filme bom. Nisso, eles saíram na frente da DC. O
“Raio Negro” tinha potencial, mas está começando a cair na mesma esparrela ruim das
outras séries da DC.
7- “Pantera Negra” também tem o
mérito de nós apresentar a verdadeira face do Andy Serkis! Nos últimos anos ele
foi o Gollum do “Senhor dos anéis”, o Caesar do “Planeta dos Macacos”, o Snoke
de “Star Wars”... tudo entidade sobrenatural ou indivíduo pós-darwinista. Um
dos dois atores brancos do filme (o outro é o Martin “doutor Watson de
“Sherlock” Freeman), ele vive o traficante malucão Ulysses Klaus. Uma pena que
não dura muito.
8- Fora tudo isso, o que eu mais
queria de Wakanda era tomar aquela ayahuasca púrpura só para ir para a outra
dimensão e ver a aurora boreal violeta de lá. Deve ser muita onda.
9- E no fim eu espero que a Marvel
tenha aprendido a lição e finalmente se liberte de sua cansativa fórmula. É
possível fazer um filme bom e divertido, que seja entretenimento e que trate de
questões relevantes sem usar piadinhas dos Três Patetas ou expressões de tio do
pavê.
10- É isso, amigos. Wakanda forever!
Cotação da Corneta: nota 9.
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