Suando a baqueta |
Levante
a mão quem nunca teve um professor, digamos, de métodos controversos. Na
verdade, eu queria usar um palavrão aqui referente à genitora do dito cujo, mas
este é um blog de família. Então, usemos o termo... controverso. Eu tive dois
professores do gênero. Ainda que nenhum deles tenha sido como Terence Fletcher,
o verdadeiro cão chupando manga com pimenta de "Whiplash: em busca da
perfeição".
Em
“Whiplash”, Fletcher (J.K. Simmons em uma atuação que a corneta descreveria
como VORAZ), é um adepto da filosofia tiro, porrada e bomba de ensino. Fletcher
gosta de ser grosso, racista, homofóbico e de humilhar os alunos. É desse jeito
“afável” que ele comanda a melhor banda de jazz do Conservatório Schaffer, a melhor
escola de música do pedaço ali de Nova York.
É
tudo tão surreal que você se questiona sobre os limites daquilo e a eficácia
dos métodos de trabalho baseados em terrorismo psicológico. E esta é uma
reflexão que também preocupa o diretor Damien Chazelle.
Em
um momento do filme, Andrew Neiman (Miles Teller), o aluno mais maltratado por
Fletcher e protagonista da história questiona exatamente se há limite para a
loucura do professor. Aprendiz de baterista talentoso, Neiman quer se tornar o
novo John Bonham e desde o início demonstra ter muito talento para esta função
tão importante que é a de ser baterista de uma banda.
O
baterista, amigos, é a alma de um conjunto. Não importa se você faz um heavy
metal feroz ou um jazz estiloso. Ele não pega ninguém (ou não pega tanta gente
quanto o guitarrista e o vocalista), mas sem ele dando o ritmo o seu som sai
uma porcaria. E você não consegue o respeito das groupies.
Mas
como eu ia dizendo, é quando Neiman faz os seus questionamentos que Fletcher
expõe sua filosofia. Para o professor, a pior frase que pode existir para um
músico em evolução é "bom trabalho". E Charlie Parker não seria
Charlie Parker se não tivesse sido agredido no início da carreira, quando ainda
não era ninguém. Por isso, o melhor método que existe é o confronto. E tome
bronca por falta de ritmo, tempo errado e leituras equivocadas da partitura.
Fica
claro que Neiman tem talento para ser o novo Buddy Rich, sua inspiração. E
Fletcher aparentemente vê nele o Charlie Parker que tanto procurou a vida
inteira. Exatamente por isso não lhe dá sossego e o faz suar sangue em busca da
perfeição (sacou o lance do subtítulo brasileiro?). Neiman tem que soar
perfeitamente no ritmo que Fletcher deseja. Nem que tenha que ficar até a madrugada
tocando a mesma música. Isso claramente é uma pratica de tortura.
Neiman
logo mostrará que pode ser o Neil Peart do jazz. Além de ótimo baterista, ele é
muito dedicado e tem uma memória inacreditável. Tanto que sabe tocar de cor
canções como “Whiplash", música do Metallica do álbum "Kill'Em
All" (1983), ops, espera! Não é isso. O “Whiplash” do filme é uma música
de Hank Levy e lançada por Don Ellis na década de 30 do século passado.
Mas
o clima de terror ainda assim permanecerá, com o professor sadicamente e
frequentemente puxando o tapete do aluno. Que grande filho da... quer dizer,
feio, bobo e chato.
“Whiplash”
é o filme indie do momento que caiu no gosto do mainstream. Ganhou um Globo de
Ouro pela performance de J.K. Simmons e ganhou cinco indicações ao Oscar. Além
do bom trabalho da dupla de protagonistas, tem uma ótima trilha sonora. Com
destaque para a canção do título e “Caravan”. A corneta curtiu a busca de
Neiman para ser o novo Keith Moon. “Whiplash” ganhará uma nota 8.
Indicações ao careca
dourado: Filme, ator coadjuvante (J.K. Simmons), roteiro adaptado (Damien
Chazelle), edição e mixagem de som.
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