É duro ser adolescente |
Defina
"Homens, mulheres e crianças" em uma frase? Duas horas de pessoas
paranoicas, solitárias e infelizes conversando pelo WhatsApp. É uma
possibilidade. Aqui vai mais uma: Como as redes sociais transformaram os seres
humanos em indivíduos freaks e sem alma. Mark Zuckerberg não curtiu. Acho que
nem "A rede social" (2010), que conta a história de como ele construiu
o Facebook com algumas passagens pouco republicanas de sua biografia, depõe
tanto contra ele, quanto o novo filme de Jason Reitman.
Não
que Zuck se preocupe com isso. Afinal, além de ser um dos criadores da rede
pela qual você vai compartilhar esse texto para ajudar a tornar a corneta
popular, ele já comprou para o seu império de valorização do próprio ego dos
anônimos o Instagram e o WhatsApp. E Twitter e Tumblr que se cuidem. Zuck
também tem uma fortuna estimada em US$ 33,1 bilhões e fala mandarim. Deve ser muita
onda falar mandarim.
Enfim,
eu estou fugindo do assunto. Mas nem tanto, pois para Jason Reitman os
brinquedinhos de Zuckerberg e seus
concorrentes, aliados aos nossos maravilhosos smartphones, são objetos de
transformação de seres humanos em vegetais. Sem querer ofender o brócolis.
A intenção era até boa. Em entrevista recente,
Reitman explicou que o objetivo era uma reflexão sobre o que toda essa nova
tecnologia está fazendo conosco, além de acabar com as nossas colunas.
"Julgar
a internet é um pouco como fazer um julgamento de nós mesmos. É uma criação
humana construída a cada microssegundo por qualquer um que tenha um telefone,
uma conta de e-mail ou de Facebook. Para ser sincero, é um lugar onde nos
tornamos honestos e explica de uma forma assustadora o que vemos e o que
procuramos. Mas é um momento de referência para nós para decidir quem você quer
ser" disse o diretor ao jornal inglês “Guardian”.
A
premissa soa interessante não é? Porém.... não funciona. Isso porque
"Homens, mulheres e crianças" nos exibe uma coletânea de personagens
vazios sim, insignificantes sim, mas que surfam a onda da caricatura. E como
não é uma comédia, fica difícil acreditar naquela galera que está
"forçada" demais. No filme, nós temos:
1-
A mãe extremamente paranoica que checa diariamente cada mensagem da filha nas
redes sociais e gasta pilhas de papel para ler tudo com atenção. Ou seja, além
de achar equivocadamente que está protegendo a cria ao colocá-la numa bolha,
ela não tem nem consciência ambiental. O único refúgio da filha é no Tumblr.
2-
Tem ainda uma outra mãe que é o extremo oposto e faz da filha cheerleader uma
verdadeira mercadoria, sendo vendida pela internet e onde mais aparecer para se
tornar uma estrela. Claramente ela deposita na jovem as suas frustrações da
juventude.
3-
Filha essa que faz de tudo para ser a nova celebridade do mundo moderno. Desde
inventar experiências sexuais que nunca teve até manter um website sexy e fazer
de tudo para participar de programas de TV estilo "Big Brother" e
"A Fazenda".
4-
E não podemos esquecer do jovem tarado de internet que, no entanto, não
consegue seguir adiante na hora do “quem sabe, faz ao vivo”.
Poderiam
ser personagens interessantes se o comportamento deles não fosse tão surreal
até para as mais altas escalas de viciados em pornografia na internet ou mães
superprotetoras. Tudo é um tom e meio exagerado. Parece um daqueles filmes dos
irmãos Coen com personagens esquisitões.
A
corneta pode estar sendo preconceituosa. Pode não ter entendido direito a
proposta, mas não consegue achar que funciona. Afinal, o filme não tem aquele
humor para personagens tão exagerados. Lembrem-se, eles são todos, eu disse
TODOS, desolados, infelizes e solitários. O que é outro problema. Não tem
ninguém que tenha um comportamento mais positivo em toda essa cidade. Deve ser
horrível viver num lugar assim.
Além
de mostrar que a internet é um lugar perigoso, “Homens, mulheres e crianças” dá
uma viajada pelo espaço com direito a teorias de Carl Sagan. Eu realmente não
consegui captar a intenção de Reitman nesse caso. Acho que perdi todos os meus
neurônios na batalha tentando entender “Interestelar”.
Reitman
é um cara de filmes legais que não encontrariam censura naquele horário da
“Sessão da Tarde”. Ele fez “Juno” (2007), aquele filme fofinho sobre uma
adolescente grávida que entrega a criança para uma outra família, que ganhou um
Oscar pelo roteiro escrito por Diablo Cody, e “Amor sem escalas” (2009), aquele
filme em que o George Clooney sai pelos Estados Unidos demitindo pessoas com um
sorriso no rosto de quem está tomando um café daquelas maquininhas, que
concorreu a seis Oscar.
São
dois filmes que têm fãs e detratores. Eu gosto de ambos (um gosto sem muita
empolgação, sem exibir um sorriso cheio de dentes, mas gosto). Contudo,
“Homens, mulheres e crianças” não é do mesmo nível. E toda aquela
superexposição de redes sociais na tela, toda aquela conversa de WhatsApp
durante duas horas em algum momento cansa e torna o filme um tanto enfadonho,
ainda que ele não seja necessariamente pavoroso. E a mensagem que se tenta
passar definitivamente não convenceu a corneta. Assim, o filme ganhará uma nota
5.
OBS:
Enquanto esse texto era produzido, eu chequei o Facebook três vezes, abri o
Twitter duas vezes, o Instagram uma vez e travei 15 conversas pelo WhatsApp.
Meu Deus! Será que Reitman está certo? Eu estou virando um vegetal? Um brócolis
com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor?
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