segunda-feira, 30 de maio de 2016

Alice está sem Tempo

Alice tenta ganhar Tempo na lábia
Doce é um perigo. Os médicos já disseram que vicia, que pode causar doenças, diabetes... Mas "Alice através do espelho" mostra que eles podem marcar definitivamente uma pessoa e mudar o curso da história. Quem diria que uma mentira aliada a um biscoitinho mal comido seria a causa daquele cabeção da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter gritando histericamente como é próprio da rainha má)? 

A mensagem que "Alice através do espelho" nós passa é: crianças, digam a verdade sempre e não desobedeçam a suas mães, pois isso pode trazer consequências inimagináveis para o futuro de vocês. Como um cabeção... rsrs Sorry, rainha má. 

O filme de James Bobin tinha tudo para ser muito legal. O problema é que a Disney insiste em ser o Paulo Freire do planeta com as suas mensagens edificantes e positivas para a família mundial. Ok, vale a pena para educar seu filho, leve as crianças para elas aprenderem o valor da amizade, do companheirismo, da honestidade, do amor, etc e tal. Mas quando isso aparece em doses cavalares em duas horas de filme, cansa um pouco. Afinal, os grampos de Brasília nos mostram que o mundo não é tão belo assim. 

Mas o filme tem bons momentos. E todos se resumem a participação de Sacha Baron Coen no papel do Tempo, o senhor do universo, aquele que tudo controla. Sacha está divertidíssimo e o cenário envolvendo o seu mundo é dos mais divertidos. Uma bola dentro do trabalho de Bobin. 

"Alice através do espelho" começa com Alice (Mia Wasikowska) uma mulher feita, empoderada e capitã de um navio. Depois de viajar pelo mundo e comprar especiarias na China, ela volta para Londres já querendo viajar de novo. Super te entendo, Alice. Temos essa sede de sair para sempre pelo mundo. 

O problema é que as coisas mudaram um pouco e um tal de Hamish (Leo Bill) continua com sua dor de cotovelo porque Alice dispensou o casamento com ele pelo motivo óbvio de ele ser um mané. E o que ele faz para colocá-la no cabresto? Resolve quebrar as pernas de Alice comprando os 10% dela na empresa e ficando com o seu barco. 

Alice fica possessa com a postura de sua mãe na era romântica de que precisa de um marido e blá-blá-blá. Mas Alice não se faz de rogada e promete lutar. Lutar até o fim.

Só que nesse tempo ela volta para o País das Maravilhas para resolver um problema sério. O Chapeleiro Louco (Johnny Depp, cada vez mais se repetindo num wormhole) está deprimido e querendo reencontrar a família que desconfia que não morreu. Alice diz que é impossível, mas a Disney nos ensino que nada é impossível até que tenhamos tentado.

É quando Alice vai até o Tempo (e nesse momento o filme dispara todas as piadas possíveis sobre ele) para tentar consertar o passado. Mas a Disney nos dá outra lição: não se pode mudar o passado, mas aprender com ele. 

E assim será até o fim. Com Alice correndo contra o tempo (sorry) e fugindo ao lado dos seus companheiros até o desfecho da missão aos 50 minutos do segundo tempo. Não é spoiler dizer que tudo acaba bem né? 

"Alice através do espelho" tem umas boas sacadas, nos trás uma Alice interessante como mulher já adulta e dona de si, ao mesmo tempo em que nos exibe um pouco do passado de alguns personagens secundários dessa história criada por Lewis Carroll. Mas o filme não é lá dos mais ousados. Talvez nem fosse a ideia do diretor, mas era preciso tantas mensagens edificantes? Crianças podem se divertir, adultos também, mas para a corneta "Alice através do espelho" ficará no meio do caminho. Ganhará uma nota 6.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

O Apocalipse é aqui

Apocalipse: 'Vou dominar o mundo!'
Eu não vou comparar "X-Men: Apocalipse" com "Batman vs Superman" porque a goleada que a Marvel está dando na DC em 2016 já é histórica. De fazer o 7 a 1 parecer café pequeno. 

A Marvel agora (e por enquanto) só pode ser comparada com a própria Marvel. E "X-Men: Apocalipse" é um bom produto. Inferior a "Guerra Civil", sim, mas se insere no contexto dos bons filmes dos jovens mutantes que lutam para proteger a humanidade que os teme e odeia. Melhor que "X-Men 3", por exemplo, filme que me parece que recebeu uma leve zoada quando Jean Grey (Sophia “Sansa Stark” Turner) diz, ao sair de uma sessão de Star Wars no cinema, que o terceiro filme é sempre pior. 

Não é à toa que este filme tem o que apresentar. Com Bryan Singer na direção, os X-Men entram nos debates que são importantes participar. Já foi o preconceito e a aceitação da diversidade. Hoje é o poder tirânico de um Apocalipse que serve como metáfora para superpotências do mundo. E a questão filosófica: eram os deuses mutantes?

Vivido de forma teatral, quase como se saísse de uma peça inspirada na obra de Boccaccio por Oscar Isaac, Apocalipse resvala no clichê. Principalmente quanto toca a sinfonia número 7 de Beethoven. Mas como se conter em uma versão vilanesca de "Pink e o Cérebro" diante de tamanho poder acumulado por milênios? 

Apocalipse vivia no Egito antigo junto com seus quatro cavaleiros quando era conhecido como En Sabah Nur. Até que uma ação heroica de uns pobres mortais egípcios o fizeram ser mumificado involuntariamente até os anos 80 do século XX. 

Quando Apocalipse acorda não entende nada. Fala um dialeto arcaico, vê coisas estranhas como trânsito, feira e bife com palmito, tá confuso e tá doidão. Mas milênios de experiência têm que servir para alguma coisa. Logo Apocalipse se situa e se informa super bem por uma televisão. Isso soou como uma piada para mim, mas deixa pra lá.

Após passar por um intensivão do que ocorreu nos séculos em que esteve hibernando, Apocalipse decide que está tudo errado no mundo. Um áudio vazado de uma conversa dele com Magneto (Michael Fassbender) revela sua insatisfação:

- O Xavier (James McAvoy) não ganha porra nenhuma! Esquece. Nenhum pacifista dsse tradicional tem voz – disse Apocalipse.
- O Xavier, rapaz. O Xavier não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Xavier? Eu que participei daquela escola em Massachusetts... – respondeu Magneto.
- O Xavier será o primeiro a ser comido – garantiu Apocalipse.

Para garantir o sucesso do seu plano, nosso vilão em marcha lenta logo, logo reúne a sua nova versão boy band dos cavaleiros do Apocalipse. Junta Tempestade (Alexandra Shipp), Anjo (Bem Hardy), Psylocke (Olivia Munn, que mulher! Sempre tive um fraco pela Psylocke) e Magneto, eternamente tentando se encontrar e tateando sempre entre o lado Jedi e o lado negro da Força. Se decide, rapaz! 

E qual é o objetivo de Apocalipse? O mesmo do ratinho Cérebro: dominar o mundo. Então ele olha para o céu, faz um discurso bonito de devastação, EUA, União Soviética e China tremem nas bases e ao fundo as torcidas cantam: "Apocalipse vai te pegar! Apocalipse vai te pegar!".

Só que ele não contava que um grupo de jovens da new generation da escola para jovens superdotados do professor Xavier fosse aparecer para acabar com a festa. 

E lá estão Jean, Ciclope (Tye Sheridan), Noturno (Kid-Smith McPhee) e Mercúrio (Evan Peter) - a Jubileu (Lana Condor) foi deixada para trás -, reforçados pelos veteranos Fera (Nicholas Hoult) e Mística (Jennifer Lawrence), para provar que quando um grupo está unido e tem um plano de jogo bem definido pode derrotar um time mais forte.

As cenas de ação não são um forte deste novo X-Men #fail. Mas não podemos deixar de destacar duas: a divertida passagem do Mercúrio salvando os alunos da explosão na escola e a cena do Wolverine (Hugh Jackman) liberando toda a sua selvageria lá pelo terço final do filme. O Wolverine é sempre o que há de melhor em qualquer filme dos X-Men.

É preciso admitir que a franquia dos X-Men por vezes é confusa. Parece até a de Star Wars. Umas histórias filmadas no passado vieram depois de histórias filmadas no presente e no futuro. Enfim, uma loucura. Mas para quem viu todos os filmes recentemente ou lembra deles, dá para perceber que tudo é relativamente bem amarrado por Singer e com uma história compreensível.

Com tantas tramas ainda a serem contadas, a questão que fica é: O que vem pela frente? Mas nas mãos de Singer, os X-Men não perdem o seu rumo. Aguardemos o próximo passo. Enquanto isso, "Apocalipse" ganhará uma nota 7.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Tristemente melancólico

Viver não é fácil, Natalie
Como atriz, Natalie Portman alterna produções em blockbusters como os filmes da saga Star Wars e do super-herói Thor com produções que de alguma forma investigam a alma de seus personagens, lidam com traumas, amores, mergulham em sentimentos difusos e profundos. 

"Um beijo roubado" (2007) era uma reflexão sobre o amor, enquanto "Entre irmãos" (2009) falava do trauma pós-guerra e de como seguir em frente quando se está separado e sem qualquer perspectiva de que o marido soldado vá voltar. E se voltar, como ele voltará. Retornando um pouco no tempo, "Closer" (2004) era sobre a decadência de dois relacionamentos e questionamentos sobre eles. 

Mas o seu trabalho mais brilhante até aqui é claramente "Cisne Negro" (2010), um mergulho profundo na alma de uma bailarina obsessiva por um lugar de destaque numa companhia de dança e que para chegar lá acaba atingindo um estado de esquizofrenia com consequências irrecuperáveis. 

Não surpreende, portanto, que a atriz de 34 anos tenha escolhido este caminho mais reflexivo para dar o pontapé inicial em sua carreira de diretora. Com roteiro também escrito por ela, "De amor e trevas" é um filme tocante, melancólico, duro e profundamente sentimental que necessita mais do que a breve avaliação inicial ainda nos créditos. Sua digestão não é rápida. Não é direta. É um filme que ecoa na cabeça estimulado por sua trilha sonora e requer um controle dos instintos para melhor compreendê-lo. 

Baseado num livro do escritor Amos Oz, "De amor e trevas" conta a história da infância do próprio escritor nos anos 40 em Jerusalém. Naquela época, Israel ainda lutava por sua independência da coroa britânica e já vivia as tensões entre judeus e árabes que marcaram a infância do jovem Amos (Amir Tessler). 

As relações tensas entre os dois lados podem tornam um pequeno incidente em uma brincadeira de crianças um grande problema diplomático que as duas famílias precisam resolver. 

É nesta tensão e numa cidade solar, mas espremida entre construções de pedra de pouco luxo que o jovem Amos cresce ao lado dos pais Arieh Oz (Gilad Kahana) e Fania Oz (Natalie Portman).

Amos é um jovem sensível, observador e inteligente que acompanha com atenção os acontecimentos políticos ao mesmo tempo em que vivência a decadência de sua mãe de um estado de amor a um sentimento de profunda depressão. 

Fania é o personagem central da escrita de Amos. Ele investiga as razões para a mãe ter mergulhado naquele oceano sem volta. Especula se a rotina, o casamento e a vida comum daquela jovem criativa e cheia de sonhos do passado a devastaram por dentro de uma forma que não tem mais volta. 

"De amor e trevas" tem, portanto, três componentes que acompanham o espectador numa narrativa literária que, por vezes, pode cansá-lo, ainda que o texto seja dito com uma elegância e este seja filmado com um certo tom de solenidade por Natalie. Há o componente histórico envolvendo a política local, há a análise sobre a vida da mãe de Amos e, por fim, os efeitos que essa convivência com os pais causaram na vida daquele jovem que tornar-se-ia escritor anos depois.

Embora o pai fosse também escritor, ainda que não de sucesso, parece que a mãe exercia um aspecto lúdico maior sobre a criança com suas histórias que só no fim percebemos que nada mais eram que narrativas em parábolas de aventuras pelas quais ela daria a vida para ter vivido. Não há amor que sobreviva a monotonia. O caminho da letargia é a depressão profunda. 

Natalie tem entrada em Hollywood. Não sei se ela tentou fazer este filme com algum estúdio americano. Mas se sua escolha inicial sempre foi filmar no cinema israelense, não poderia ser uma escolha mais acertada. Os americanos são ótimos em criar entretenimento de qualidade, mas quando se trata de investigar mais profundamente a alma humana, são poucas as vezes em que eles acertaram. 

Nos EUA, Natalie poderia ficar refém dos códigos locais que talvez fizessem o seu filme escorregar na pieguice e no clichê. Em Israel, ela teve a liberdade de dar um ritmo próprio ao seu filme e não procurar sempre respostas para cada problemática. Deixar o espectador pensar sobre o destino daquela mulher e o que a levou ao seu desfecho foi a melhor decisão. E fazer o filme em hebraico tornou-o mais verossímil, pois trata-se da vida de uma jovem família israelense que vivem em Jerusalém.  

Por outro lado, Natalie talvez tenha tido um respeito excessivo pelo texto de Amos, trazendo sequências em demasia de narrativas declamadas. Mas sua mão esteve longe de ser pesada. Talvez só tenha sido solene com seus movimentos em câmera lenta e seus variados olhares perdidos. Tudo bastante contemplativo. Tudo com muita classe. Pode ser belo para alguns, irritantemente chato para outros. 

Mas o saldo final desta sua estreia em longas metragens é positivo. Que Natalie se arrisque mais nos caminhos que desejar. "De amor e trevas" vai ganhar uma nota 7.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Kung fu contemplativo

Não é fácil a vida de assassina
Quando eu estive na China fui imbuído de bons pré-conceitos esperando ver pessoas lutando kung fu nas ruas a todo momento. Minha decepção foi enorme. Só vi um porteiro de hotel lutando na rua. Deve ter sido a mesma decepção que um estrangeiro tem ao chegar no Brasil e ver que nem todo mundo samba (ou gosta de samba). Ainda bem que existem os filmes de kung fu para devolver nossos sonhos. E os chineses são especialistas em filmes de kung fu contemplativo. 

É o caso do "A assassina", novo trabalho de Hsiao-Hsien Hou (não tente falar isso em casa). O filme se passa no século VII, um tempo que o Brasil nem sonhava em existir, mas a China já era bem desenvolvida e tinha impérios baseados no comércio de ouro e seda. O que os faziam ter aquelas roupas finas de fazer qualquer Saint-Laurent invejar. Para não falar nos sapatinhos com a ponta dobrada. Muito chique e moderno para a época.

Naqueles tempos em que se amarrava cachorro com linguiça, os chineses eram especialistas em artes marciais. Entre eles havia Yinniang (Qi Shu).

Yinniang é uma jovem largada num mosteiro treinada para matar com a habilidade e o silêncio de um pássaro singrando o céu. Eu adoro as parábolas chinesas. Elas sempre envolvem a astúcia da natureza. 

Nossa assassina está entre as mais habilidosas com a espada ou a sua adaga. Briga com você com aquela displicência de quem bate um pênalti em final de campeonato com uma cavadinha. Tudo enquanto você se mata para atingir um mero soquinho nela. É uma craque. 

A moça recebe de sua monja mestra a missão de matar um político poderoso (não deem ideia...) em meio a uma crise entre o governo central e a província de Weibo. O problema é que a vítima da vez é o seu primo, por quem ela nutre um velado crush. Por isso, ela hesita, investiga, pensa que talvez não seja uma boa ideia e esse crime ia bagunçar ainda mais a política chinesa da idade da pedra... Enfim, ela busca qualquer desculpa para não enfiar a adaga no priminho.

São muitas questões para Yinniang refletir antes de pegar na faca. E muitos combates coreografados no alto de telhados (um clássico dos filmes de kung fu), mas sem a leveza de um Ang Lee em "O tigre e o dragão" (2000). Assim como também não há toda aquela estética circense. São pancadas duras alternadas por sons de passarinhos da vasta floresta chinesa. 


"A assassina" é aquele filme chinês contemplativo que não agrada a todas as massas. Entre uma luta e outra, imagens idílicas, a natureza, nuvens no céu, longos silêncios.... é praticamente um disco da Enya filmado. Não é para todos, pois seu ritmo é mais lento e diz mais com imagens do que com texto. Mas seu resultado é belo. Por isso, a corneta (ou em chinês seria colneta?) dará uma nota 8.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O melhor filme de super-heróis

Esse povo não se entende
Dia 1º de março é um dia especial. Eu sei que ainda estamos longe, mas não podemos esquecer desta data. Isso porque neste dia será o aniversário de Zack Snyder. Quando a data chegar, em 2017, todos nós devíamos enviar um DVD de presente para Zack. O DVD de "Capitão América: Guerra Civil" para que ele reaprenda a fazer filmes de super-heróis bem feitos, com bons atores, bons roteiros e, vejam só, até bem editados! Pois "Guerra Civil" não é nada parecido com aquela aberração chamada "Batman vs Superman". Zack, a Corneta não esquecerá de você.

O que dizer sobre Guerra Civil? Para resumir é um filme simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO. Tem ação, tem drama, tem bom humor (a participação do Homem-Aranha é impagável), tem um novo personagem maneiro (desde já estou ansioso pelo filme do Pantera Negra), tem um excelente vilão (O que Daniel Brühl fez pelo Barão Zemo deve ter feito o Jesse Eisenberg sentar no meio fio e chorar lágrimas de esguicho pelo seu patético Lex Luthor) e tem uma história, amigos, pois sem uma história não há efeito especial e piadinhas que deem jeito.

Embora tenha o nome do Oh Captain, My Captain América no título, "Guerra Civil" nada mais é do que um novo filme dos Vingadores. Nele, os novos Vingadores - Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), Falcão (Anthony Mackie), Viúva Negra (Scarlett Maravilhosa Casa Comigo Johansson) e o Capitão América (Chris Evans) - estão numa ação perto do reino de Wakanda, na África, para impedir um camarada qualquer de fazer besteira e explodir o mundo. Só que a missão dá muito errada e o planeta começa a questionar a independência dos Vingadores de agir por aí sem um chefe, um comando de alguma organização como a ONU, por exemplo.

Afinal, lembremos que ao salvar o mundo os Vingadores destruíram Nova York, Washington e Segóvia. Ou seja, a moral deles com muitos líderes do planeta não está alta.

Eis que surge o Tratado de Segóvia, um documento assinado por 117 países afirmando que os Vingadores só podem agir sob ordem das Nações Unidas. Como o mundo tem 200 nações, eu fiquei curioso para saber quem não assinou e qual a posição do Brasil nessa disputa. Mas continuemos.

O tratado deve ser assinado por todos os heróis. É aí que surge o problema. O Homem de Ferro (Robert Downey Jr) acha que esse IMPEACHMENT do poder dos Vingadores é a melhor opção para todos. Assina o contrato, trabalha com o futuro governo, negocia cargos, indica futuros ministros, adianta que o Henrique Meirelles vai cuidar da Fazenda...

Por trás disso tudo, ele sente uma culpa pela morte de inocentes. Principalmente um garoto brilhante que a gente nem viu morrer em "Vingadores 2".

Só que o Capitão América não concorda com isso não. Ele vira para as nações do mundo e diz: "Isso é GOLPE! Eu não vou assinar nada!". E argumenta que os Vingadores não podem ficar à mercê dos políticos, pois eles poderiam fazê-los trabalhar em missões nada republicanas se colocarem os heróis nas rédeas curtas, mas bem maleáveis da lei.

Capitão América é aquariano, gente, ele precisa de liberdade. Afinal, ele é o Sentinela da Liberdade. Por isso, o Capitão se recusa a assinar e vai lutar até o fim pela verdade e pelo que é certo. Sim, às vezes é irritante como o Capitão América é perfeito e um exemplo para o mundo. Mas eu queria ser como ele.

Por trás disso tudo, porém, tem um debate ético sobre os limites do poder e quem deve controlá-los, que leis devem regê-los e qual a melhor forma de usar estes "poderes" para o bem da coletividade. Afinal, grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Quem está pronto para assumi-las?

Chega de chatice filosófico-sociológica. Voltemos ao foco. No meio disso tudo, o rei de Wakanda morre num atentado em Viena e todos acham que é culpa do Soldado Invernal (Sebastian Stan). Afinal, ele sempre fica desequilibrado quando ouve aquela combinação de palavras do tipo "Saudade", "Tapioca", "Meu benzinho", "contra filé com palmito".

Está tudo confuso, está tudo uma zona. O Pantera Negra (Chadwick Boseman) e sua armadura de vibranium (que máximo!), quer vingança, o Capitão quer a verdade (sempre um escoteiro), o Homem de Ferro quer que a lei seja seguida e estatizar os Vingadores, e o Visão (Paul Bettany), bem o Visão não está conseguindo raciocinar direito porque começa a sentir uma coisa que androides supostamente não conseguem: amor. Eu percebi, meu caro. Esse negócio de fazer a comida favorita da garota é mais velho que andar pra frente. Mas acho que a Feiticeira não se tocou ainda.

E quando a voz da razão está pifando, a única coisa que se pode fazer é lutar. Tal qual um Axl Rose, o Capitão América ainda chega para o Homem de Ferro e diz: "I don't need your civil war". Mas não tem jeito.

É quando os heróis se dividem em dois grupos. No canto direito, pesando 150kg e vestindo uma armadura maneira está o Homem de Ferro e seus amigos Viúva Negra, Máquina de Combate (Don Cheadle), Homem-Aranha (Tom Holland), Pantera Negra e Visão. No canto esquerdo, pesando 100kg e o escudo que todos nós queríamos ter está o Capitão América, o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Homem-Formiga (Paul Rudd), Falcão, Soldado Invernal e Feiticeira Escarlate.

O ringue é um aeroporto em Berlim e nele temos várias sequências de ação excelentes. Aliás, "Guerra Civil" tem várias cenas de briga muito bem feitas e divertidas. Obrigado, Anthony e Joe Russo. Vocês já tinham feito um excelente trabalho em "Capitão América 2: o soldado invernal" (2014) e fico feliz em saber que vocês tomaram as rédeas dos próximos filmes dos Vingadores, "Guerra Infinita". Vocês são os irmãos Coen dos quadrinhos.

O comitê da corneta não tem o que criticar em "Guerra Civil". Não sem ser um chato, pedante e cri-cri. Por isso, cometerá um crime pela segunda vez em sua história. "Capitão América: Guerra Civil" vai ganhar uma nota 10. Chora, Zack Snyder.