
Cineasta que prezava o silêncio, o pensar o cinema, Bergman sabia como poucos cutucar, provocar a alma dos que se dispunham a assisti-lo. Seus filmes não são chatos como andou dizendo alguém que se diz escritor, mas difíceis de digerir. Não é cinema de auto-ajuda.
Descobri Bergman muito tarde. Mais precisamente em maio do ano passado durante a mostra “Finitude e Transcendência” organizada pela UFF em comemoração dos 50 anos de “O sétimo selo”, uma das obras-primas do diretor. Dos nove filmes apresentados vi dois que me tocaram profundamente.
“Morangos Silvestres” (1957) conta a história da procura do Dr. Isak Borg (Victor Sjostrom) por reminiscências de seu passado. Ao reviver aos poucos suas lembranças ele percebe-se cada vez mais perto da morte. Há um quê de saudade em Borg e um lamento pelo fim que se aproxima. A morte, aliás, era terma recorrente do cineasta a ponto de personificá-la na voz e no olhar gélido de Bengt Ekerot em “O sétimo selo”.
“Fanny e Alexander” (1982), por outro lado, é um filme em que uma certa redenção se apresenta. Os especialistas dizem que ele é um dos mais autobiográficos do diretor por mostrar uma infância castrada pelo rigor da educação paterna, excessivamente religiosa e tomada por regras. Seria um retrato da infância de Bergman.
Em um cinema à moda antiga como o da UFF, com o barulho do projetor nos seus ouvidos, assistir a dois filmes de Bergman na telona foi como viajar para um tempo em que cada filme era original, cada roteiro tinha substância. Não se corria com a câmera. Cada cena tinha seu tempo, o tempo humano. Num mundo tomado pela falta de criatividade, onde franquias muitas vezes de gosto duvidoso fazem a alegria da indústria e contribuem para a pobreza do filmar, a saída de cena de Bergman é uma lacuna que fica vazia.
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